História: Economia e a Industrialização

Por João Geraldo Lopes Gonçalves

“Retocai o céu de anil
Bandeirolas no cordão
Grande festa em toda a nação
Despertai com orações
O avanço industrial
Vem trazer nossa redenção” (Trecho da canção “Parque Industrial”, composição de Tom Zé, lançada no disco Manifesto, Tropicália ou Panis Et Circenses, de 1968)

Já afirmamos em vários textos nossos que somos filhos de operários da Indústria e que crescemos na urbanidade deste setor. Meu pai, um plainador metalúrgico, trabalhou sua vida toda em empresas do setor, que foi responsável por nossa educação e sobrevivência.

Aposentado da antiga Freios Varga, uma gigante no setor de autopeças, entre as décadas de 60, 70 e 80 do século passado, viu a indústria crescer, sair de um patamar de quase insignificante antes dos anos 50, para o maior setor produtivo no Brasil.

Já minha mãe, antes de se casar, trabalhou em outra gigante, a Companhia Prada de Chapéus e Calçados, cujos prédios hoje são sede da Prefeitura Municipal de Limeira.

Por isto, minha família passou longe da vida rural e no campo, onde a maioria das famílias, antes da primeira revolução Industrial no Brasil, vivia e trabalhava. Lembro que, ao caminhar pela cidade com meu pai no início dos anos 70, em cada quarteirão era possível enxergar uma fábrica ou várias delas.

O setor de produção na cidade era extremamente ativo, em vários setores da economia. Mesmo com as recessões econômicas dos anos 80, era raro ver falências, empresas fechando. No boom industrial no Brasil, nas décadas de 60 e 70, metalúrgicos como meu pai se orgulhavam em dizer que sempre teriam emprego, basta sair de uma empresa e em menos de um mês já estaria em outra.

E não era só o emprego pleno ou fácil, mas a valorização salarial, principalmente quando o trabalhador tinha um ofício como o meu pai. As recordações me levam quando fui militar no Movimento Sindical e com ele consegui conhecer a fundo nossa indústria.

Na época (anos 80), só os metalúrgicos compreendiam um total de mais de 35 mil trabalhadores, com empresas enormes, como a já citada Varga, Fumagalli, Invicta, Mastra e outras de autopeças, bem como empresas de máquinas para agricultura e outros ramos.

Ao ir em porta de fábrica, nos deparávamos com multidões de trabalhadores de vários cantos do Brasil. A indústria segurava a economia naqueles anos, onde o desaquecimento rural, com o avanço do latifúndio, e o êxodo para as cidades grandes, motivavam ainda mais a produção das fábricas. E éramos grandes exportadores de produtos industriais.

Anos JK e a indústria

A Petrobrás, criada no segundo mandato de Getúlio Vargas, no início dos anos 50, suscitou um longo debate de vinte anos encerrado no Brasil. Para termos uma empresa exploradora e comercial Petróleo, era preciso comprovar que o ouro negro, como dizia Monteiro Lobato, existia.

A empresa surge em um momento que o clamor de muita gente era pelo desenvolvimento industrial do País, ainda essencialmente agrário, e já com declínio da própria produção rural. A Petrobrás surge não só para o consumo interno, mas para disputar mercado internacional e entrar no rol dos maiores produtores mundiais do líquido.

Hoje se prova que a tese de Getúlio e do pró-industrialização, que o marco foi a criação da empresa estatal. A Petrobrás vai abrir campo, no primeiro momento, às multinacionais de veículos automotores e de autopeças. Será o presidente Juscelino Kubitschek que, com o lema 50 anos de desenvolvimento em cinco, abre as portas para o capital estrangeiro instalar suas empresas em solo nacional.

E aí vêm as grandes montadoras e verdadeiras cidades industriais vão se formando. O êxito rural, em decorrência da retirada de recursos do Estado e do avanço do latifúndio, foi enchendo as grandes cidades de mão de obra, sem qualificação e baratas. No entanto, vai ser na ditadura militar que a concepção da industrialização ganha força sem um mínimo de planejamento urbano e justiça social.

Quando entra os anos 80, nossas indústrias tinham expandido tanto e chegaram ao seu limite de mão de obra. O desemprego, mediante recessão e arrocho de salários, vai contribuir com estas limitações, que vão levar as empresas a um processo de sucateamento, ausência de modernização da gestão e da produção.

O “Made In Brasil” que Tom Zé fala na letra de Parque Industrial se referia à nossa produção que, mesmo nas empresas ianques aqui instaladas, criava uma rede de empresas nacionais que exportavam em função daquela indústria.

Limeira, como citamos acima, não tinha montadoras, mas sobrevivia com empresas de peças para esta economia. Os inúmeros planos econômicos fracassaram no pós-ditadura, contribuindo com o esvaziamento desta indústria.

O neoliberalismo e a meritocracia

Com a queda do muro de Berlim, os ideólogos do capitalismo colocaram equivocadamente um ponto final na História e no confronto ideológico. Para estes, o socialismo fracassou e a economia de mercado venceu.

Viva o capitalismo, bradavam alguns, e junto a estas comemorações, uma tese em franca expansão, a do Globalismo Econômico. Tese iniciada na Inglaterra da Dama de Ferro, Margareth Thatcher, que imprime o ritmo de uma política de nortear competência com lucro e suposta inovação tecnológica.

A política na prática vai fechar mercados e alçar a postos de liderança econômica a especulação financeira, levando à bancarrota a indústria de produção interna e a de matérias primas de exportação.

Lembram que no primeiro tópico deste artigo contamos como Limeira era no auge da industrialização? Uma beleza, né? Em toda a década de 90, vimos empresas fecharem, pedirem falência e demitirem massas de trabalhadores.

Fui trabalhar na época em Pedreira, que se orgulhava de ter o maior parque de bibelôs de cerâmica do Brasil e da América Latina. O que vimos foi uma tragédia para uma cidade em que vivia rica e exclusivamente da produção de cerâmica. O que Pedreira sofreu podemos citar a indústria têxtil em Americana, calçados em Franca, e muitos outros lugares.

Lembro que, ao andar pela cidade de Limeira, nos deparávamos com praças públicas cheias de trabalhadores desanimados, pois não encontravam empregos. E ao chegar aos antigos parques industriais, batíamos com a cara em barracões fechados e em péssimo estado.

O neoliberalismo cria espaço para o negociador de massa falida, comprando a preço de banana e especulando no mercado para lucrar na desgraça alheia. Nas cidades, crescia o subemprego ou alternativo. Trabalhadores ambulantes, terceirizados, com renda bem abaixo que ganhavam em décadas passadas e sem direitos trabalhistas.

Iniciávamos, apesar da estabilidade econômica, o século XXI, com desemprego recorde, 50 milhões abaixo da linha da pobreza e com a indústria nacional em declínio.

Os anos Lula da Silva

Quando Lula assume seu primeiro mandato, de cara ele cumpre uma promessa de governo, que era manter o superávit primário, recursos financeiros do estado para pagar credores internos, bancos, por exemplo.

Este colunista fez coro com muitos militantes de esquerda e progressistas que, na época, não entediamos esta lógica, não defendíamos o calote, mas defendíamos uma distribuição de renda capaz de retornar o desenvolvimento do País.

Para nós, o superávit poderia atrapalhar estes investimentos, em especial no emprego e renda. Lula nos provou que estava certo, pois manteve a capacidade do Estado de se endividar, e mesmo assim com fôlego para a distribuição de renda.

Duas linhas se tomaram no primeiro momento: políticas de renda mínima como o Bolsa Família e a isenção de impostos para a indústria, em especial de automóveis e de eletroeletrônicos e domésticos.

As medidas deram certo a ponto de reaquecer alguns setores da indústria criando empregos, bem como colocando renda no mercado. No segundo mandato, Lula abre linhas de crédito para a agricultura familiar e para o agronegócio. Isto estimula a produção agrícola e o aumento na exportação de grãos.

O Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, estimula a indústria de infraestrutura, bem como as commodities, a produção de matérias primas que exportávamos para o mundo todo. Crescem a indústria de construção civil e a produção de nossa capacidade de abastecimento interno e, com isto, a fome vai saindo do mapa.

Lula manteve a estabilidade da moeda, acerto dos anos de FHC, e foi capaz, com medidas urgentes, de frear o degringolar da indústria. A inflação controlada, a dívida interna foi paga sem temores, inclusive o Brasil não seria atingido pela crise econômica internacional, que levou à bancarrota o mercado imobiliário americano.

O assunto é extenso, então na semana que vem continuamos, vamos falar dos anos Dilma, do golpe de 2016, da crise econômica e dos anos Temer e Bolsonaro.

Alguma coisa acontece no meu coração…

Nesta quinta-feira, 25 de janeiro, São Paulo, a terra da garoa, completou 470 anos, rumo ao número 500 de velinhas.

Parabéns à megalópe, não só dos paulistanos, mas do povo do Oiapoque ao Chuí, da Latina América, da mãe África, e de todo o Planeta.

São Paulo, a capital do hoje e do amanhã.

Dica cultural

“Homo Deus – Uma breve História do Amanhã”, do indiano Yuval Noah Harari, publicado em 2015, traz uma leitura sobre as possibilidades da humanidade sobreviver sobre a hecatombe tecnológica.

Yuval nos leva a uma viagem, onde os três problemas mais graves da humanidade (fome, guerras e doenças crônicas), seriam extintos pela Inteligência Artificial e toda uma rede de tecnologias, mas quem concentraria o poder destas maravilhas?

Livraço.

A todas e a todos um feliz fim de semana.

João Geraldo Lopes Gonçalves, o Janjão, é escritor e consultor político e cultural.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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