Bebê Rena: perseguição implacável revela traumas e segredos

por Farid Zaine
@farid.cultura

O ator, roteirista e dramaturgo escocês Richard Gadd vive atualmente o momento mais catártico de sua vida, ao contar sua própria história na série de maior sucesso atualmente na Netflix, “Bebê Rena”. Gadd foi vítima durante alguns anos de uma stalker, uma mulher mais velha e obesa chamada Martha (Jessica Gunning, sensacional). Sua experiência duradoura e traumática parece que nunca vai acabar. Ele transformou suas memórias a respeito do caso em uma peça de teatro em 2019, e agora é o protagonista de si próprio, como a personagem a quem chamou de Donny Dunn. O que aconteceu na vida de Gadd/Donny? É o que a minissérie revela em 7 episódios altamente tensos e envolventes, que provocam o desejo irrefreável de maratonar todos eles.

“Bebê Rena” é a história de um barman em Londres, que luta para se transformar num humorista de sucesso. Certo dia apareceu no bar uma mulher de comportamento estranho e ele tentou ser gentil com ela; seu pequeno gesto, o de oferecer um chá “por conta da casa”, já que ela não tinha dinheiro algum, despertou na mulher um sentimento arrasador, e ela começou a persegui-lo de todas as formas possíveis, passando a ser onipresente em sua vida, tanto fisicamente quanto virtualmente: a caixa de e-mails dele vivia abarrotada de mensagens escritas (mal escritas) , além de  áudios rigorosamente perturbadores.

Ao mesmo tempo em que procura ajuda, Donny não consegue se livrar de Martha. A obsessão dela passa a ser obsessão dele. Nesse remoinho de emoções confusas, ele tenta seguir a vida, tanto a profissional quanto a doméstica, procurando conciliar seu trabalho, suas criações e suas aventuras amorosas (ele se apaixona por uma mulher trans) com o jeito de lidar com os traumas causados por um roteirista abusador.

Extremamente corajoso ao expor sua vida completamente, Richard Gadd ganhou a cumplicidade do público de todo o mundo. Assistir à série é experimentar um pouco da angústia e da tensão vividas por esse aspirante a comediante, que vê sua trajetória interceptada brutalmente por uma – até então – desconhecida.

Qual o sentimento dominante no público dessa minissérie? Repulsa total à perseguidora, ou compaixão pelo homem que sofre com sua aparentemente indestrutível stalker? À medida em que a história avança, e que conhecemos mais da vida pregressa de Donny e de Martha, mais divididos ficamos. O público, assim como o perseguido, não consegue se livrar de Martha ao final do último episódio. Não cabe aqui nenhum spoiler. É impossível contar mais sem estragar o interesse pela série, que apenas cresce a cada episódio.

Longe de ser um divertimento leve e sem consequência, “Bebê Rena” surge no início do ano já como uma das melhores séries da temporada. É preciso fôlego para acompanhar o sofrimento de Donny e as investidas de Martha. A história, por ser baseada em fatos reais, assombra mais do que um filme de ficção e, no caso, de terror.

Com ritmo preciso, interpretações seguras, ótima edição e trilha sonora perfeita, “Bebê Rena” tem tudo para permanecer por mais tempo onde está agora, no topo do ranking da Netflix de suas séries mais vistas em todo o mundo.

BEBÊ RENA: Série da Netflix escrita e interpretada por Richard Gadd, com 7 episódios.
Cotação: ***** ÓTIMO

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