História: Economia e a Industrialização – V

Por João Geraldo Lopes Gonçalves

“A tecnologia moderna é capaz de realizar a produção sem emprego. O diabo é que a economia moderna não consegue inventar o consumo sem salário” (Hebert de Souza)

Salvar empregos x salvar vidas. A expressão não foi dilema para a maioria dos países durante a pandemia do coronavírus. De cara, as nações buscaram preservar as vidas, criando quarentenas, em vários lugares paralisando a economia, quase totalmente.

Estabelece-se rapidamente a necessidade de produzir vacinas contra a doença e, enquanto ela não vinha, serviços de saúde eficientes para evitar mortes.

Os governos, no que diz respeito à roda que gira a economia, não queriam que empresas quebrassem, fechassem e o desemprego aumenta. Subsídios aos empresários e auxílios emergenciais foram criados para compensar a paralisação econômica.

Assim coube aos Estados estabelecerem programas de ajuda, a fim de não ver o país à bancarrota e ao mesmo tempo cuidar da questão sanitária.

Ao contrário da maioria do planeta, o Brasil de Jair Bolsonaro demorou em admitir que tivessem uma pandemia em curso e, quando ela veio goela abaixo, o governo mais uma vez titubeia e levanta o dilema inicial. Parecia que a Covid era algo distante de nossa realidade.

Bolsonaro e sua turma se recusam a estabelecer quarentenas, primeiro atacando as pessoas de “vagabundas” por aderirem ao “ficar em casa”. Segundo, este debate inútil de trabalhar ao invés de preservar as vidas.

Em 2020, os bolsonaristas resistiram às medidas de segurança, como uso de máscaras, nada de aglomerações e outras. Feito um macho alfa, Jair saía pelo País sem proteção, organizando motociatas e passeatas, e ao invés de discursar a favor da vacina, a negava. Não havia políticas de compensação, seja para as empresas, seja para os trabalhadores.

Tal quadro fazia crescer os contaminados e mortos pelo vírus, chegando ao final da pandemia com mais de 600 mil óbitos. Uma investigação ainda em andamento, contra Bolsonaro e seu secretário de Saúde, general Pazuello, dão conta de que o governo não quis comprar vacinas em junho de 2020, bem como tentou atrapalhar que São Paulo fizesse a Coronavac.

Só fomos ter vacinas em fevereiro de 2021, quase um ano do início da pandemia. O auxílio emergencial, que para o governo era de R$ 200, mas o Congresso estabeleceu R$ 400, só aparece um pouco mais tarde.

A apatia governamental trouxe prejuízos aos quais estamos carregando até os dias de hoje. Mais de 700 mil empresas fecharam as portas na pandemia, com várias multinacionais indo embora. Cresceu vertiginosamente o número de empregos informais e precários, algo em torno de 37 milhões de pessoas. O desemprego acelera terminando 2022 na casa de 14% de desempregados.

O Produto Interno Bruto (PIB) até que cresceu no período pandêmico, ficando em 13º entre 47 países mais afetados pela Covid-19, mais em função do retorno da economia em meados de 2021, com a vacinação a todo vapor.

Porém, a produção interna, aquela que gera emprego, se ressentia da desindustrialização crescente de uma década atrás, dos efeitos da pandemia e da ausência de políticas de enfrentamento de crise do governo, que praticava, em fins de 2021, uma taxa de juros na casa de 14% ao ano.

Entrávamos em 2022 com a economia ainda em frangalhos e sem muitas perspectivas de reaquecimento, pelo menos no que diz respeito a emprego, renda através da produção. Mas era um ano eleitoral e tudo podia acontecer.

A polarização política

Apesar da contaminação do coronavírus ter diminuído sensivelmente em função das vacinas, a economia permanecia uma incógnita, parecia terra arrasada em função do negativismo e da ausência de políticas compensatórias.

Um ano antes, o Bolsonarismo tenta um golpe no dia 7 de Setembro, se apegando a supostas fraudes nas urnas eletrônicas e alegando perseguição a liberdade de expressão.

O golpe flopa, por algumas razões: os atos antidemocráticos não foram de massas como se esperava e o Judiciário, em especial o STF, agiu nos bastidores para evitar mais um 64.

Mas no ano de eleições a narrativa bolsonarista não muda. Além de tentar desmoralizar o processo eleitoral, o discurso continua sendo de costumes, de espalhar ódio ao diferente e de evitar a todo o momento o debate sobre economia.

Lula liderava as pesquisas desde o início daquele ano de 2022 e vinha com um discurso de unificar, fazer uma frente de defesa da democracia, buscando isolar a extrema direita e seus aliados.

As mesmas pesquisas apontavam no início uma folga do petista, que ao longo do ano foi reduzindo e já se previa uma campanha polarizada e com resultados no mínimo apertados. Como dissemos acima, apesar da diminuição dos efeitos da pandemia, a economia vivia aos trapos, com o Posto Ipiranga de Jair sumido e questionado até pelo mercado rentista.

Algo neste campo precisava ser feito, o antipetismo e o discurso de “ódio” agradavam aos nichos bolsonaristas, mas não eram suficientes para uma vitória eleitoral. Era hora de mexer no cofre, abrir a caixa de recursos. E aí vem o famigerado pacote de “bondades” do Jair.

O pacote beneficiava, através de medidas provisórias e decretos, os mais pobres e a produção, dois setores mais afetados pelos efeitos da pandemia e pela ausência de Estado protetor naquele momento.

No primeiro momento, nem as esquerdas perceberam o que tinha por trás destas “bondades” de Bolsonaro que até ensaiou uma briguinha com Paulo Guedes, pois ele estaria furando o teto de gastos, menina dos olhos do mercado financeiro. Mas depois a máscara foi caindo e Jair foi acusado de estelionato eleitoral.

Medidas como as citadas abaixo contribuíram para alavancar a economia pelo menos até o segundo turno das eleições:

  • Ampliação do Auxílio Brasil em relação ao Bolsa Família;
  • Redução do ICMS sobre produtos essenciais;
  • Redução linear do IPI e redução de impostos federais para o gás e o diesel;
  • Ampliação do Auxílio Brasil para R$ 600;
  • Voucher Caminhoneiro de R$ 1 mil;
  • Repasse Tributário para incentivo de etanol em relação a gasolina;
  • Compensação financeira ao Estado por gratuidade no transporte público a idosos;
  • Auxílio financeiro aos taxistas;
  • Ampliação do Vale Gás;
  • Injeção de recursos no programa Alimenta Brasil, que incentiva a produção agrícola para alimentar famílias em insegurança alimentar;

O pacote consumiu do Estado mais de R$ 450 bilhões, além de outras medidas indiretas na ordem de R$ 260 bilhões. Esta gastança ficou claro se tratar de interesses eleitorais e, mesmo com elas, o Brasil termina o ano no mapa da fome. Apesar de um crescimento ligeiro do PIB no início de 2022, no final a economia desacelera, perdendo pontos no geral.

Começamos 2023, com a indústria paralisada e uma taxa de Juros de 13,75%, com o Governo Lula questionando as praticas do Banco Central autônomo e com um presidente nomeado pelo bolsonarismo.

Mas este assunto e mais uma tentativa de golpe é assunto para um outro Capítulo.

Dica cultural

Imagine você reunir quatro mulheres, com habilidades culturais e histórias de vida, diferentes. Imagine misturar a criatividade diversa, destas artistas em um único espaço.

Falo da exposição “Elas Contemporâneas”, que terá abertura no próximo dia 9 de março, com obras de uma ceramista, uma escritora, uma desenhista e uma pintora.

Veja neste link o Vídeo Promocional do evento, patrocinado pela Lei Paulo Gustavo, com Produção de Fernando Pimentel e Fotografia e Vídeo de Fabio Shiraga.

A todas e a todos, um feliz final de semana.

João Geraldo Lopes Gonçalves, o Janjão, é escritor e consultor político e cultural.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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