Entregas ultrarrápidas podem custar a vida de entregadores

por Claudia Coser

O mundo está com pressa! Cada vez mais precisamos de informações em segundos, queremos resultados rápidos no trabalho, corremos no trânsito, temos pressa para alcançar resultados pessoais e profissionais. Até na hora de se alimentar, não existe paciência para esperar. Os aplicativos de delivery já perceberam essa urgência e concorrem entre si para fazer a entrega mais rápida. Pois essa sua pressa em receber o seu lanche pode estar relacionada aos elevados índices de acidentes graves e fatais entre motociclistas.

Um a cada quatro entregadores do Brasil já sofreu um acidente. O dado é de um estudo feito pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) em parceria com a Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec). Segundo a pesquisa, que considerou trabalhadores das plataformas Uber, 99, Zé Delivery e iFood, 25% dos entregadores já se acidentaram.

 De acordo com dados do Governo Federal, estas lesões foram responsáveis no Brasil, em 2020, por mais de 190 mil internações nos hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) e hospitais conveniados, destes 61,6% eram de motociclistas. Em relação à mortalidade, foi a primeira causa na faixa de 5 a 14 anos e a segunda nas faixas de 15 a 39 anos, no total de 32.716 óbitos, destes 36,7% eram motociclistas. O estudo estimou o custo para a sociedade de cerca de R$ 50 bilhões por ano com acidentes de trânsito, a maior parte deste custo relativo é da perda de produção das vítimas, seguido pelos custos hospitalares.

Os motociclistas são envolvidos em lesões de trânsito com consequências mais graves. Além dos custos hospitalares, o maior valor estimado é referente à perda de produção das pessoas (41,2%), causando o empobrecimento das famílias e, em caso de morte, os custos recaem sobre a previdência social.

 O perfil das vítimas fatais de motociclistas em lesões no trânsito em 2021 é predominantemente do sexo masculino (88,1%), adultos jovens com idade entre 20 e 29 anos (30,8%), de baixa escolaridade com 8 a 11 anos de estudo (39,6%), de raça negra (64,9%) e solteiro (57,3%). A via pública é apontada como o principal local de ocorrência do óbito (49,5%).

Os dados são alarmantes! Claro que existem inúmeros fatores para que esses acidentes aconteçam, mas sem dúvida ao tentar entregar um lanche em 10 ou 15 minutos, como algumas plataformas garantem, o motociclista tem que correr mais, está mais ansioso e estressado vai dirigir de forma imprudente, vai ficar com menor capacidade de reação em situações de risco e com isso pode desrespeitar a sinalização e aumentar os riscos de se envolver em acidentes.

Muito se fala em ser um consumidor responsável, que além de prestar atenção com a vida do planeta também está atento a vida das pessoas envolvidas nos produtos e serviços que consomem. Neste caso, fazer pedidos com antecedência ou solicitações em que a entrega é feita dentro de prazos seguros, é uma forma de sermos consumidores mais responsáveis com a vida de entregadores motociclistas.

Claudia Coser é doutora e mestre em Administração na área de Estratégia e Organizações e fundadora da Plataforma Nobis.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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