O Mundo tem hora certa para acabar

por Fernando Bryan Frizzarin

A mente e a memória têm jeitos interessantes de trabalhar, de fazer conexões e levar a gente em lugares que, se fosse de propósito, jamais chegaríamos.

Saímos para assistir o novo filme dos Caças-Fantasmas: Ghostbusters – Apocalipse de gelo (Ghostbusters: Frozen Empire – Ghost Corps/Columbia Pictures – 2024). Excelente, mas não vou nem passar pela resenha ou crítica, é assunto para outra oportunidade.

Chegando em casa ligo a TV e o assunto do momento é que o Irã estava bombardeando Israel naquele instante. Havia até imagens ao vivo dos foguetes indo e dos contra foguetes vindo. Minha primeira reação foi “agora vai dar merda”. Por enquanto, até agora, não deu.

Mas acabei de ver um filme de ficção de apocalipse, ligo a TV e começo ver outro de não-ficção do mesmo assunto! Não dá para deixar de ter um pequeno sentimento de que o Mundo vai acabar, mesmo.

Aí lembrei do Doomsday Clock ou, traduzindo do jeito que mais me convém, Relógio do Fim do Mundo (Relógio do Juízo Final seria mais correto). Perguntei para meu filho se, com essa confusão, ele achava que o Relógio do Juízo Final ia ser adiantado. “Acho que vai. Pai, quanto tempo está?”, respondeu perguntando.

Achava que estava uns 3 minutos para a meia-noite. Foi verificar e descobri que está 90 segundos para a meia noite. Pior do que eu achava. O Mundo vai acabar mesmo!

Para você não ficar aí com essa cara de “ué” enquanto lê isso, igual a minha esposa enquanto falávamos, te explico o que é o Doomsday Clock:

É um projeto, que tem até site que pode ser acessado em https://thebulletin.org/doomsday-clock/, criado pela artista Martyl Langsdorf, que foi casada com o físico Alexander Langsdorf, que trabalhou no Projeto Manhattan, com Oppenheimer e companhia bela.

A ideia era ilustrar a primeira edição do Bulletin em junho de 1947. Aí ela teve a ideia do relógio.

Quando o relógio marcar meia noite a destruição total da humanidade terá sido causada pela própria humanidade. O tempo que falta para isso acontecer emula as contagens regressivas usadas antes dos testes nucleares e lançamentos de foguetes. Uma contagem regressiva até zero (meia noite).

A quantidade de tempo para a destruição, ou meia noite, é decidida por um conselho que é composto por cientistas e outros especialistas com profundo conhecimento em tecnologia nuclear e ciência climática, que frequentemente fornecem orientações especializadas a governos e agências internacionais. Eles consultam amplamente seus colegas em uma variedade de disciplinas e buscam as opiniões do Conselho de Patrocinadores do Boletim, que inclui nove ganhadores do Prêmio Nobel.

O tempo inicial em 1947 foi decidido em 7 minutos para a meia noite, porque Martyl achou que era um número bom e que as posições dos ponteiros lhe pareceram adequada esteticamente.

Em 1949 o relógio foi ajustado para 3 minutos para a meia noite, por causa de testes nucleares soviéticos.

Em 1953 foi para 2 minutos para meia noite, porque os EUA estavam testando artefatos termonucleares e a União Soviética a bomba de hidrogênio.

Em 1960 o relógio voltou para 7 minutos para a meia noite já que EUA e URSS permitiram que seus cientistas começassem a interagir e criaram canais de diálogo.

Em 1963 foi quanto tudo ficou mais longe da meia noite: 12 minutos. Soviéticos e estadunidenses, depois da crise dos mísseis em Cuba, baniram testes nucleares subterrâneos e começaram a trabalhar para evitara aniquilação nuclear.

Em 1968, o relógio foi ajustado para 7 minutos para a meia-noite, refletindo um período de relativa estabilidade geopolítica após a assinatura do Tratado de Não Proliferação Nuclear, que visava conter a disseminação de armas nucleares.

Em 1969, o relógio avançou novamente, desta vez para 10 minutos para a meia-noite, em resposta aos testes nucleares da China e à escalada da Guerra do Vietnã.

Em 1972, houve um pequeno recuo, com o relógio marcando 12 minutos para a meia-noite, devido à assinatura do Tratado de Limitação de Armas Estratégicas (SALT I) entre os EUA e a União Soviética.

Em 1974, o relógio retrocedeu mais um minuto, para 9 minutos para a meia-noite, após a assinatura dos Acordos de Genebra, que buscavam reduzir as tensões na Guerra Fria.

Em 1980, o relógio avançou novamente para 7 minutos para a meia-noite, refletindo as crescentes tensões entre as superpotências durante a Guerra Fria e os eventos como a invasão soviética do Afeganistão.

Em 1984, houve outro avanço, desta vez para 3 minutos para a meia-noite, em meio a uma escalada nas tensões entre os EUA e a União Soviética, especialmente devido ao impasse na Europa Oriental e ao aumento dos arsenais nucleares.

Em 1991, houve um salto significativo para trás, com o relógio retrocedendo para 17 minutos para a meia-noite, após o colapso da União Soviética e o fim da Guerra Fria, levando a uma redução nos arsenais nucleares e um clima de maior cooperação internacional.

Claro, continuemos:

Em 1995, o relógio foi ajustado para 14 minutos para a meia-noite, refletindo preocupações renovadas com a proliferação nuclear e a estagnação nos esforços de desarmamento.

Em 2002, houve outro avanço, com o relógio marcando 7 minutos para a meia-noite, devido ao fracasso das negociações sobre o controle de armas entre os EUA e a Rússia, bem como à retirada dos Estados Unidos do Tratado de Mísseis Antibalísticos.

Em 2007, o relógio avançou novamente para 5 minutos para a meia-noite, em resposta ao aumento das tensões nucleares entre as potências, preocupações com a segurança dos materiais nucleares e o fracasso das negociações sobre não proliferação.

Em 2010, o relógio permaneceu estável em 6 minutos para a meia-noite, refletindo um período de estagnação nas políticas de segurança nuclear e mudanças climáticas, apesar de alguns sinais de progresso em tratados de controle de armas.

Em 2015, houve outro avanço, com o relógio marcando 3 minutos para a meia-noite, devido à combinação de ameaças nucleares, mudanças climáticas desenfreadas e o surgimento de novas tecnologias potencialmente perigosas.

Em 2018, o relógio avançou ainda mais, para 2 minutos para a meia-noite, representando o ponto mais próximo da meia-noite desde 1953, devido à deterioração das relações internacionais, tensões nucleares entre os EUA e a Coreia do Norte, bem como a falta de ação significativa para combater as mudanças climáticas.

Em 2020, o relógio permaneceu estável em 100 segundos para a meia-noite, o ponto mais próximo da meia-noite já registrado, refletindo preocupações contínuas com a segurança nuclear, a emergência climática, a desinformação e outros desafios globais.

Em 2023, por causa da guerra na Ucrânia, Israel/Faixa de Gaza e eventos climáticos extremos, perdemos 10 segundos e estamos parados, hoje em 90 segundos para o fim do Mundo.

Falta pouco. Acho que chegaremos lá!

Fernando Bryan Frizzarin é professor, escritor, inventor, é Gerente do Suporte Técnico da BluePex Cybersecurity S/A, Diretor Técnico e Operacional na Fábrica de Inovação de Limeira e professor do ensino superior nas FATECs Araras e Americana, SP. Formado em Ciência da Computação, Especialista em Redes, Psicopedagogo e MBA em Gestão Estratégica da Tecnologia da Informação. Autor, coautor ou participante de vários livros na área de computação e literatura. Depositário de patente, marca e de diversos registros de programas de computador como autor ou coautor em cooperação com colegas de trabalho ou alunos. Membro imortal da Academia Mundial de Letras da Humanidade sucursal Limeira, SP. Foi laureado com o Diploma Pérola Byington da Câmara Municipal de Santa Bárbara d’Oeste e Professor Universitário Inovador da Câmara Municipal de Limeira.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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