Pobres Criaturas: o auge de Emma Stone

por Farid Zaine
@farid.cultura

Imagine uma mulher grávida que se suicida, e o cérebro de seu bebê é implantado na cabeça dela, no lugar do seu cérebro morto; essa mulher renasce em um corpo adulto, sem memória, precisando aprender tudo, como um recém-nascido, porém, com uma rapidez impressionante… Essa mulher, recriada num laboratório por um cientista estranhíssimo, ele próprio um produto das experiências de seu pai, um outro cientista fanático, pode ser vista como uma versão feminina do monstro de Frankenstein.

Ela é Bella Baxter, criação do Dr. Godwin Baxter, e tem uma voraz vontade de aprender tudo, não precisando obedecer a nenhuma convenção social. Bella quer conhecer o mundo além dos limites da casa de Godwin, a quem ela chama de God. Prometida em casamento a um jovem médico discípulo de Godwin, ela resolve viajar pelos continentes na companhia do mulherengo advogado Duncan Wederburn. Esse é um pequeno resumo da história de “Pobres Criaturas”, o filme de Yorgos Lanthimos que vem ganhando prêmios por onde passa, e é indicado ao Oscar 2024 em 11 categorias, atrás apenas de “Oppenheimer”, que tem 13 indicações.

Yorgos Lanthimos firmou seu nome na lista dos mais prestigiados diretores da atualidade, desde o sucesso de crítica de “O Lagosta” e principalmente de “A Favorita”, que deu o Oscar de Melhor Atriz para Olívia Colman.

Com “Pobres Criaturas” (Poor Things), Lanthimos atinge um nível de excelência não muito comum nos dias de hoje. Visualmente impactante, o longa foge das convenções assim como sua protagonista, através da qual vemos o mundo sob um ângulo inusitado.

Depois de assistir ao filme “Pobres Criaturas” não conseguimos imaginar Bella Baxter sendo interpretada por outra atriz que não fosse Emma Stone, absolutamente perfeita na milimétrica composição de sua diferente e cativante personagem. Stone, Oscar de Melhor Atriz pelo belíssimo “La La Land”, é forte candidata a ser novamente premiada. Isso só não acontecerá caso sua mais próxima concorrente, Lily Gladstone, vença a parada pela delicada e completamente oposta performance em “Assassinos da Lua das Flores”.

Emma Stone é uma das melhores atrizes de sua geração, e sua atuação em “Pobres Criaturas” é reveladora do seu talento e da sua dedicação, pois criar Bella Baxter exigiu dela um enorme exercício de pesquisa e perceptível esforço físico. Muito bem acompanhada por um elenco afiadíssimo, Emma Stone tem em Willem Dafoe, como Godwin, e em Mark Ruffalo, como Duncan, seus principais parceiros nesse filme carregado de misterioso encanto, que faz rir, chorar, pensar, analisar…

Com suas cores fortes e a alternância com o preto e branco, com sua ótima trilha sonora – que inclui uma aparição da cantora portuguesa Carminho, cantando um fado – com sua edição precisa e sua originalidade, “Pobres Criaturas” já nasce clássico. A cena em que Bella e Duncan (Stone e Ruffalo) dançam num salão luxuoso, já é uma das mais comentadas da temporada. Yorgos Lanthimos envolve o público com seus tipos estranhos de uma forma tão completa que é como se a plateia, assim como Bella, tivesse que reaprender o significado da vida, do corpo, do sexo, da comunicação, da dor e do prazer.

“Pobres Criaturas” levou o Leão de Ouro em Veneza, é espetacular, mas não será fácil conquistar as estatuetas douradas já “prometidas” a “Oppenheimer” na entrega do Oscar 2024, que acontece no dia 10 de março. Até lá os eleitores da Academia definirão para que lado penderão seus olhos, para o conhecimento científico extremo de Oppenheimer, que pode levar à destruição do mundo, ou para o aprendizado de Bella, que pode conduzir ao drástico aperfeiçoamento de máquinas humanas com defeitos de caráter.

POBRES CRIATURAS (Poor Things, 2023) – Longa de Yorgos Lanthimos indicado ao Oscar 2024 (filme, direção, atriz, ator coadjuvante, fotografia, trilha sonora, direção de arte, roteiro adaptado, edição, Maquiagem e Penteados e Figurino). Em cartaz nos cinemas.

Cotação: ***** ÓTIMO

Foto: Reprodução

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