Karim Aïnouz: nosso homem em Cannes

por Farid Zaine
@farid.cultura

O Brasil volta a Cannes na competição oficial em 2024 através de um diretor que tem tido passagem frequente pelo mais importante festival de cinema do planeta. Ele é Karim Aïnouz, cearense de 58 anos que já tem uma vasta obra tanto na direção quanto na escrita de roteiros. O filme que leva o Brasil a Cannes desta vez é “Motel Destino”, suspense com Fábio Assunção, Nataly Rocha e Iago Xavier. A sinopse diz:

“Motel Destino, definido como um thriller erótico, conta a história de uma mulher em um relacionamento abusivo com um ex-policial, dono do motel do título, que vê a sua vida mudar após um jovem, recém-saído de uma instituição socioeducativa onde cumpria pena, entrar nela”.

A sinopse é muito sugestiva, e quem se habituou a ver os longas de Aïnouz, já pode esperar um filme no mínimo interessante e muito bem acabado.

O diretor cearense começou sua carreira colaborando em diversos roteiros, incluindo o magnífico “Abril Despedaçado”, de Walter Salles, e “Cinema, Aspirinas e Urubus”, de Marcelo Gomes. Seus filmes mais conhecidos são “Madame Satã”, “O Céu de Suely”, “Praia do Futuro” e “A Vida Invisível”. Muito admirado nos festivais, o longa “A Vida Invisível”, de 2019, foi escolhido como melhor filme da mostra “Um Certain Regard” (Um Certo Olhar), em Cannes, e por isso foi credenciado para representar o Brasil no Oscar 2020, na categoria de melhor filme internacional, desbancando o favorito “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho. Não chegou a figurar entre os cinco finalistas.

Os filmes de Aïnouz primam pela beleza plástica e pela escolha das trilhas sonoras. É o caso do longa de 2014 estrelado por Wagner Moura, “Praia do Futuro”, um drama intenso de grande beleza plástica.

Sobre “A Vida Invisível”, com Carol Duarte e Fernanda Montenegro, escrevi por ocasião do seu lançamento:

“‘A Vida Invisível’ fala muito sobre a condição feminina no Rio dos anos 1950, mas fala também do homem e suas fraquezas. As mulheres aqui são sofredoras, mas são fortes e determinadas. O sexo surge o tempo todo, como um fator de sobrevivência, e na maioria das vezes não há erotismo nem poesia nas relações mostradas. Há sempre, na exuberância da natureza onipresente e no cotidiano das irmãs separadas, uma sensação permanente de ausência, distanciamento, sentimento de perda. A condução da narrativa pelas mãos seguras de Aïnouz nos transporta para dentro dessa humana corrida de desencontros, e nos toca tão profundamente, que saímos do cinema com a sensação de termos, cada um de nós, uma vida que é invisível para alguém. Ao final da sessão, o nó na garganta se transforma em aplausos”.

Há muita coisa a ser vista e revista da obra de Karim Aïnouz, enquanto aguardamos o lançamento de “Motel Destino” nos cinemas. Que venha logo.

Fiquemos atentos ao Festival de Cannes, que acontece de 14 a 25 de maio. Aïnouz nos representa, e seu nome figura entre diretores da grandeza de Francis Ford Coppola (O Poderoso Chefão), Paolo Sorrentino (A Grande Beleza), Yorgos Lanthimos (Pobres Criaturas), Paul Shrader (O Gigolô Americano), só para citar alguns deles e seus filmes mais conhecidos. Já que o Oscar está bem difícil para o Brasil, esperemos que “Motel Destino” nos dê uma Palma de Ouro, como aquela conquistada por “O Pagador de Promessas” em 1962.

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