Desastre internacional

por Igor Coimbra Manhani

Nesta terça-feira (21/09), foi dado, oficialmente, início à 76ª Assembleia Geral das Nações Unidas, um dos acontecimentos centrais para a definição das agendas globais e atualização das pastas de trabalho do órgão das Nações Unidas, no qual 193 países são membros. Para que se siga a tradição da Assembleia, líderes mundiais, acompanhados por suas respectivas comitivas formadas por assessores, ministros e demais membros de seu governo, compareceram à sede da ONU em Nova Iorque para proferirem seus discursos e oficializarem a abertura dos trabalhos da AGNU para o ano que se segue. 

Desde a constituição das Nações Unidas em 1945, o Brasil é o país responsável pela abertura dos pronunciamentos feitos pelos líderes mundiais membros, esse feito foi conquistado em virtude do reconhecimento dado aos esforços diplomáticos desempenhados por delegações brasileiras ao longo da segunda guerra mundial, postura à qual foi reverenciada pelas potências responsáveis pela formação da ONU e como símbolo de diálogo, prestígio e diplomacia concedeu-se a tradição de que os líderes brasileiros anualmente inaugurassem a ordem dos discursos oficiais. 

Na 76ª Assembleia Geral, tal tradição se manteve e Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, subiu, na manhã desta terça-feira, ao palanque das Nações Unidas para expor os principais pontos definidos por ele e sua comitiva. Espera-se que o discurso inicial dos líderes que ali estão adotem um tom generalista, com suas perspectivas para o futuro e com destaque aos temas que seu respectivo país traz maiores contribuições. Entretanto, o discurso do líder brasileiro assumiu outra roupagem, ao iniciar sua fala, Bolsonaro disse que sua intenção é apresentar em seu pronunciamento o Brasil que não é mostrado pela mídia e, sim, o país que, segundo ele, conta com mudanças desde 2019.

Em seguida, Bolsonaro destacou a ausência de casos concretos de corrupção desde o início de seu mandato, bem como ressaltou seus principais valores a família, Deus, o respeito à constituição e a lealdade a seu povo e, ainda, afirmou que o Brasil, antes de seu governo, caminhava rumo ao comunismo. 

Desde a vitória do Joe Biden nos Estados Unidos, o governo Bolsonaro passou a ser alvo de críticas, não só do líder norte-americano, mas também de demais chefes de Estado e de Governo mundo a fora, em relação ao tratamento da pandemia do coronavírus e também sobre a má gestão do meio ambiente, tendo em vista o crescente número de queimadas nos últimos dois anos. 

A fim de apresentar uma imagem positiva e esperançosa para a comunidade internacional, o presidente brasileiro sustentou uma perspectiva próspera e sem desafios para a situação ambiental do país, destacou a potência energética brasileira, mesmo que atualmente vivenciamos uma grave crise de abastecimento energético devido à ausência de incentivos às fontes renováveis de geração de energia. Ainda, segundo Bolsonaro, no que tange à pandemia, o Presidente afirmou que até novembro todos os brasileiros estariam completamente imunizados, reiterou sua defesa para a eficácia do tratamento precoce e, ainda, enfatizou que o governo foi responsável pela oferta de um auxílio equivalente à 800 dólares (cerca de R$ 4.216,00) a cada pessoa que sofreu diretamente com os impactos gerados pela crise sanitária. 

O pronunciamento de Bolsonaro já está sendo repercutido pelos grandes veículos de impressa internacionais, de acordo com o renomado jornal britânico, The Guardian, o discurso do presidente brasileiro foi considerado “lie-filled”, isto é, um discurso cheio de mentiras, em decorrência da defesa de medicamentos sem comprovação cientifica para o tratamento do coronavírus e a falta de base para as afirmações sobre a gestão de política ambiental. 

Mesmo antes do pronunciamento de Bolsonaro, sua presença em Nova York já acumulava comportamentos controversos, na noite de ontem, Bolsonaro e membros de sua delegação, foram proibidos de consumir na área interna de um restaurante devido à falta do comprovante de vacinação exigido pela prefeitura de Nova York. Em seguida o prefeito da cidade, Bil de Blasio, se posicionou contrário a líderes que não estariam imunizados para comparecer a eventos como o das Nações Unidas e, com isso, alocou um ponto móvel de vacinação em frente do prédio da ONU. 

Dentre os líderes do G-20 – grupo composto pelas 19 maiores economias mundiais somados ao bloco europeu -, o presidente brasileiro se destacou negativamente por ser o único líder de Estado não vacinado. Em encontro com o primeiro ministro britânico, Boris Johnson, Jair Bolsonaro afirmou não ter tomado nenhuma dose da vacina, enquanto o líder do Reino Unido congratulava àqueles que foram responsáveis pelo desenvolvimento da AstraZeneca. 

Cercado de grupos de manifestantes contrários a seu governo, Jair Bolsonaro expõe aos olhos da comunidade internacional seu comportamento negacionista e irresponsável, o qual foi adotado ao longo do enfrentamento de toda pandemia do coronavírus. O presidente e seus acompanhantes circulam pelas ruas de Nova York sem o uso da máscara e provocando aglomerações mesmo que não estejam completamente imunizados. A passagem do líder brasileiro pelas Nações Unidas demonstra a resistência do governo em relação às crises social, energética, econômica e sanitária que ainda estão vigentes no país demonstram a falta de responsabilidade do governo no que diz respeito a atual conjuntura a ser enfrentada pela população brasileira em um dos momentos mais críticos do espectro político, econômico e social. 

Igor Coimbra Manhani é limeirense, do Teixeira Marques, tem 26 anos, internacionalista e economista, da FACAMP, aluno formado pelo RenovaBr Cidades, atua na Subsecretaria de Juventude do Governo do Estado de São Paulo. Filho da Sueli e do Ronaldo. Torcedor do Galo, da Vila Esteves, e do Santos, da Vila Belmiro.

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