Crise hídrica, Iluminação LED e Cidades Inteligentes

por Marciél Gorrido Jr.

Os dados dos últimos meses já nos permitem cravar: estamos vivendo a pior crise hídrica dos últimos 91 anos, ou seja, desde quando temos medições amplas e confiáveis disponíveis. E, ao que tudo indica, não é obra do acaso.

O aquecimento global, apesar do negacionismo de alguns, já está em curso e afeta a vida de todos nós. O aumento das queimadas e desmatamentos na região amazônica afetam diretamente o regime de chuvas nas regiões centro-oeste, sudeste e sul do país.

O quadro é preocupante e nos faz refletir sobre como cuidar melhor do meio ambiente, mas também nos coloca o desafio de aprendermos a nos adaptar às mudanças, pois o planeta provavelmente já entrou em um ponto de não retorno. Pelo menos, não em um curto espaço de tempo.

A crise hídrica atual – da qual já tivemos uma amostra em 2014 – fez ressurgir um fantasma de 20 anos atrás: o risco de apagões e a iminência de um racionamento de energia, afetando diretamente a vida de todos e o já baixo crescimento econômico do Brasil.

Segundo o Operador Nacional do Sistema (ONS), os principais reservatórios do país estão com apenas 17% da capacidade, perdendo cerca de 1% por semana. O maior reservatório do estado de São Paulo e o quarto maior já estão zerados.

Gerar mais energia por outras fontes é caro e demorado e diante da urgência restam apenas as medidas de economia. Por isso, vem em boa hora medidas como a que a Prefeitura de Limeira está adotando na iluminação pública. 

O município vai contrair empréstimo de mais de R$ 40 milhões para substituição de aproximadamente 35 mil pontos de iluminação pública. Sem entrar no mérito do valor e da forma (empréstimo), os números técnicos são bem favoráveis à medida. As lâmpadas atuais consomem de 200 a 400 W, enquanto as de LED consomem de 120 a 180 W. Uma economia de aproximadamente 50%.

Grosso modo, deixaremos de consumir cerca de 3,5 megawatts/hora e de gastar de 4 a 5 milhões por ano, praticamente pagando o empréstimo em cerca de 10 anos. Além disso, a iluminação via LED produz um efeito luminoso mais satisfatório, elevando a claridade e contribuindo para a redução de acidentes e violência.

A medida está em consonância com o conceito de cidades inteligentes, muito difundido nos últimos anos. Limeira já ocupa posição de destaque nos rankings de cidades inteligentes e, certamente, avançará ainda mais com o novo modelo. Cidades Inteligentes são aquelas que, por meio de um amplo banco de dados, medidas de desburocratização e de economia, dentre outras, facilitam e barateiam a vida dos cidadãos, melhoram o meio ambiente e propiciam melhor qualidade de vida.

O Brasil possui cerca de R$ 20 milhões de pontos de iluminação pública. Medidas como a de Limeira, implantada em todo país, trariam uma economia de 2 gigawatts por hora. É a produção inteira da usina de Itumbiara, entre Minas Gerias e Goiás. A economia aos municípios chegaria a R$ 9 bilhões por ano.

Os cenários atual e futuro nos mostram que, cada vez mais, teremos que pensar em meios alternativos de gerar mais e consumir menos energia. Os carros elétricos já são uma realidade e irão demandar uma capacidade enorme do sistema. Os governos passados e o atual não investiram a contento e chegamos mais uma vez à iminência de um apagão.

Quando será que vão acordar para a realidade e tirar o país de mais este atraso?

Marciél Gorrido Jr. é engenheiro Civil, especialista em Infraestrutura Urbana.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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