Se você deixar a enxurrada leva até as lembranças

A tragédia climática que assola o estado do Rio Grande do Sul tem alarmado a todos, de maneiras diversas e com gatilhos psicológicos variados, despertando solidariedade e temor em relação ao que pode acontecer conosco em breve.

Além disso, notícias começaram a chegar do estado do Maranhão, no nordeste brasileiro, onde chuvas torrenciais e anormais têm causado estragos em várias cidades, de forma semelhante ao que ocorre no sul do país.

Entre todas as notícias, desde aquelas que pareceram curiosamente interessantes até as mais chocantes, que me causaram espanto, uma em particular chamou minha atenção. No último domingo, 12 de maio, vinda da cidade gaúcha de Muçum, situada a mais ou menos 110 quilômetros da capital Porto Alegre.

A água, na forma de enchente e forte enxurrada, devastou o cemitério da cidade. As lápides foram destruídas, os túmulos tornaram-se irreconhecíveis e o velório municipal foi arrasado. Todo vestígio de memória e qualquer materialização sentimental dos entes queridos que partiram desapareceu.

Os jazigos, agora irreconhecíveis, não mais evocam memórias nem permitem identificar os que ali foram sepultados.

O pior é que todos os documentos, contendo registros de mais de cem anos de sepultamentos, também foram destruídos, impossibilitando a identificação ou localização dos restos mortais ali depositados.

Você pode estar achando, neste ponto do relato, tudo um tanto mórbido, e talvez tenha sido essa a razão para me chocar. Mas devo confessar que não foi exatamente isso que me deixou estarrecido. O que verdadeiramente me surpreendeu foi o fato de que, dado que toda a documentação, todos os registros funerários, termos de posse e de localização estavam apenas em formato físico, papel. Até então não se pensou em ter uma cópia de segurança (backup) de toda essa informação, não apenas administrativa ou organizacional, mas também histórica para o município.

É compreensível que nem todos pensem em todas as eventualidades. No entanto, seria razoável dividir as preocupações em responsabilidades delegadas, garantindo que, com cada pessoa cuidando de algum aspecto, no conjunto tudo esteja resguardado.

Em 2001, esse alerta foi amplamente divulgado ao mundo nos atentados de 11 de setembro nos EUA: a importância de cuidar de arquivos físicos sensíveis, replicando dados em locais diversos, remotos e distantes, criando backups e planos de contingência para recuperação de desastres e continuidade dos negócios.

Quantas empresas, órgãos públicos e indivíduos perderam seus arquivos, documentos e memórias por não terem tomado precauções adequadas?

Não é momento de buscar culpados, mas sim de focar na reconstrução, seguir adiante e aprender com os erros. É hora de todos no Brasil se unirem e nunca mais se separarem.

Também é hora de começarmos a agir um passo à frente, em vez de dois atrás, pois essa pode se tornar nossa nova realidade, enfrentando tragédias desse tipo de tempos em tempos.

Se a próxima tragédia ocorrer aqui, quão preparado você, ou nós, estaremos?

Fernando Bryan Frizzarin é professor, escritor, inventor, é Gerente do Suporte Técnico da BluePex Cybersecurity S/A, Diretor Técnico e Operacional na Fábrica de Inovação de Limeira e professor do ensino superior nas FATECs Araras e Americana, SP. Formado em Ciência da Computação, Especialista em Redes, Psicopedagogo e MBA em Gestão Estratégica da Tecnologia da Informação. Autor, coautor ou participante de vários livros na área de computação e literatura. Depositário de patente, marca e de diversos registros de programas de computador como autor ou coautor em cooperação com colegas de trabalho ou alunos. Membro imortal da Academia Mundial de Letras da Humanidade sucursal Limeira, SP. Foi laureado com o Diploma Pérola Byington da Câmara Municipal de Santa Bárbara d’Oeste e Professor Universitário Inovador da Câmara Municipal de Limeira.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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