Ali Babá e os Quarentas Ladrões e as Mil e Uma Noites

Por João Geraldo Lopes Gonçalves

Certa noite, Sherazade, mais uma das esposas do sultão, resolveu lhe contar uma de suas histórias e se manter viva por mais uma noite. Um viajante viaja pelo reino da Pérsia, com o objetivo de trazer notícias ao rei. Em uma destas viagens, o homem deparou-se com o movimento em uma caverna.

Viu homens aos quais os identificou como ladrões. Um deles, ao dirigir-se à porta da caverna, diz:Abre-te Sésamo”.Com isto, a caverna se abriu e 40 ladrões entraram e saíram com vários sacos.

Ali Babá, este era o nome de nosso personagem, curioso em saber o que continha naqueles sacos e como tinha decorado as palavras para abrir a caverna, aguardou os homens irem embora e, após proferir as palavras-chaves, entrou no local.

Lá deparou-se com um enorme tesouro de joias e ouro. Sem pestanejar, ensacou vários dos tesouros e se apresentou ao rei. Na audiência, pediu a mão da filha de sua majestade em casamento e provou estar rico – tinha até comprado um palacete.

Em uma das visitas à Caverna do Tesouro, um dos ladrões viu Ali e o seguiu, descobrindo que ele irá se casar. Levou a informação ao seu bando e aí tramaram recuperar o tesouro perdido.

Na noite do casamento de Ali Babá, os ladrões entraram no palácio e lá se esconderam em uma adega nos toneis de vinho. Uma certa hora, um dos invasores diz que, à meia noite, atacariam a festa e recuperariam o que Ali os roubou.

Ocorre que um dos funcionários da casa ouviu e logo narrou ao patrão. Ali, imediatamente, ordenou a seus servos para irem até a adega e pegarem os 40 barris e jogarem ao mar. Tal ordem foi realizada e Ali Babá casou-se e viveu feliz para sempre.

Sherazade, com mais esta história, escapa da maldição de todas as esposas do sultão, que são mortas por ele no final da primeira noite de núpcias, consistindo num caso de feminicídio.

Um troquinho por uma joia

Qualquer semelhança da História que vou contar agora com a de Ali Babá é mera coincidência, viu? Rsss.

Era uma vez um Presidente da República que dizia a seus seguidores que tinha uma vida ilibada, que sua honestidade beirava a canonização, que era um cidadão de bem.

Este mesmo presidente rogava figuras do passado com torturadores e ditadores como exemplos a serem seguidos, bem como enaltecia suspeitos de crimes, como milicianos e outros. O tal presidente repetia que o PT e as esquerdopatas eram ladrões da República e que ele metralharia todos.

Os quatros anos na cadeira presidencial ostentaram a face de um homem de vida simples e hábitos populares, como forma de tentar provar que não tinha apreço por riqueza e possibilidades de enricar no cargo. Mais um pouco mais de seis meses longe do poder, a casa e a casca estão caindo e derretendo.

Um certo chefe de ordens de seu governo é pego na boca da botija, tentando sair do País com algumas joias. Sua prisão, vai revelar, se tratar de um general que tentava levar aos Estados Unidos joias da coroa do Planalto, para serem vendidas. E mais: o fruto das vendas seria repassado à família do tal presidente.

A versão, ainda no Governo, era de que as joias forram presentes dados por chefes de estado, entre eles o do regime facínora da Arábia Saudita. A Polícia Federal e a imprensa revelam que um punhado de homens de confiança do tal presidente formavam uma quadrilha, com o intuito de vender, até a preço de bananas, os presentes presidenciais.

Uma das lambanças dignas de ladrões de uma Republiqueta que serve de quintal para o cometimento de crimes. O tal presidente se dirige a sua claque como se fosse uma vítima do tal sistema, do qual ele se beneficiou a vida toda. A declaração recente que, se ficar no Brasil corre perigo, é um exemplo que sua preocupação é com sua própria pele.

E o Tesouro?

É comum que o presidente da República em exercício ganhe vários presentes. Eles são dados por chefes de Estado, empresas, entidades e pessoas comuns. Também é comum que o presidente presenteie, na maioria das vezes com produtos que representem a cultura de nosso País. Os seus presentes são considerados patrimônio da União e ficam no Acervo da Presidência, em especial os que vêm de chefes de Estado ou instituições mundiais.

Artigos como roupas e alimentos, de uso pessoal e comestíveis ficam de propriedade do Presidente no exercício ou fora dele, bem como vindos de pessoas comuns que não praticam nenhuma atividade correlata de Estado Nação.

O Decreto 4.344, de 2002, define troca de presentes e presentes dados como patrimônio da União. Até 2019, o acervo de itens ficava de posse do ex-presidente. Mas hoje os mimos devem ir para o acervo da União, onde joias e pinturas, por exemplo, vão para museus e salas especiais. Portanto, vender presentes é crime de lesa-pátria.

O ex-presidente pode ser preso? Sim pode. Não só porque se apropriou ilegalmente de um patrimônio público e tentou fazer dinheiro para si próprio. Mas por constituir uma quadrilha digna dos 40 de Ali Babá que se utilizaram da máquina do Estado, para benefício dos seus.

O ex-presidente tenta dizer duas narrativas que se perdem em um conto de fadas. A primeira é de que não sabia de nada e a culpa do entorno. A segunda, de que é vítima do sistema. O ex tem muito o que explicar não só sobre as joias: por que ele não pagou as multas da Justiça Eleitoral, com os 17 milhões recebidos pelo PIX? Afinal, pediu ou não pediu ao hacker de Araraquara para simular fraude nas urnas eletrônicas e o grampo telefônico em Alexandre de Moraes? Por que fugiu para os Estados Unidos à véspera da tentativa de golpe de Estado no Brasil?

Com a palavra, o mito de …

João Geraldo Lopes Gonçalves, o Janjão, é escritor e consultor político e cultural.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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