Celular na sala de aula

por Fernando Bryan Frizzarin

Platão era preocupado que textos escritos poderiam ser mal interpretados e o autor não teria a oportunidade de explicar melhor o que ali está escrito. Expressa essa preocupação, em especial, em Fredo: ou do Belo, onde aborda muitas coisas, desde o amor, a retórica, a filosofia e, claro, a escrita.

O grande filósofo coloca em debate que deveríamos deixar a escrita em segundo plano na educação, por exemplo, pois o conhecimento transmitido oralmente seria menos manipulável e quase que impossivelmente mal interpretável, já que o autor da ideia está ali, para explicar de imediato que está falando.

Ainda bem que o tempo passou e, infelizmente, quase ninguém gosta de filosofia mesmo e a escrita aí está. Livros: conhecimentos diversos e infindáveis. Ok, também são manipulados, escritos medonhamente, mal interpretados, mas na absoluta maioria maravilhosos, até para que possamos discordar deles, aprendendo o senso crítico e a base do ensino há muito, muito, muito tempo. À exceção dos livros técnicos-didáticos, Issac Assimov, Mario Prata, Antonio Prata, Marcelo Gleiser, Simon Sinek, Gabriel Prioli, Guilherme Bryan, meu primo, todos são meus favoritos mais recentes e antigos. Tenho um espaço especial cheio de livros.

Aí veio Babbage, Pascal, teorias sobre máquinas analíticas e diferenciais, testes, práticas e surgiu a calculadora lá por 1945, com o ENIAC. Depois disso os computadores, primeiro grandes e desajeitados, depois acomodáveis em uma escrivaninha e depois na mesa da sala na casa de quase todo mundo. No meio disso tem a calculadora eletrônica de bolso. Ok, algumas nem tão de bolso, mas pequenas o suficiente para que os estudantes pudessem levar na escola.

Ainda assim, essa disseminação das calculadoras eletrônicas não ocorreu sem oposições significativas. Muitos temiam que essas inovações tecnológicas levassem à substituição de empregos, especialmente em áreas que envolviam cálculos repetitivos e rotineiros. Além disso, houveram grandes preocupações no campo educacional. Educadores argumentavam que a dependência excessiva das calculadoras eletrônicas poderia prejudicar o desenvolvimento das habilidades matemáticas mentais dos estudantes, minando sua compreensão dos fundamentos matemáticos.

Sem os livros e as calculadoras não teríamos, por exemplo, grandes evoluções nas engenharias, já transmissão do conhecimento seria prejudicado e que os cálculos mais complexos necessários para os mais complexos avanços tecnológicos seriam inviáveis manualmente. Hoje, em praticamente qualquer faculdade de engenharia, matemática, contabilidade e economia há aulas específicas para ensinar o uso da calculadora financeira ou científica.

E os computadores, então?! Depois da inovadora invenção (existe isso? Fica para um próximo) das máquinas de calcular surgiram as máquinas de computar programáveis e de propósito geral. Ou seja, podem ser usadas para calcular, escrever, desenhar, ler e praticamente qualquer outra coisa que a imaginação conseguir conceber.

Os livros, as calculadoras e depois a TV foram parar dentro do computador. E a internet fez com que qualquer conteúdo de qualquer livro de qualquer lugar do Mundo possa ser acessado por quem se animar em buscá-los. O mesmo para os programas de TV, rádio e jornais e muitos etc.

E como compôs Belchior, em 1976: “É você que ama o passado e que não vê. Que o novo sempre vem!”.

O novo sempre vem! Vem o celular que colocou o computador e todas as outras coisas que já estavam dentro dele para dentro do bolso de quase todas as pessoas da face da Terra.

E quem estava contra a escrita, errou. Ela é a base da educação. E quem estava contra a calculadora, errou. Ela é a base de quase toda ciência exata. E quem estava contra o computador, errou. Ele é ferramenta onipresente e indispensável. E quem estava contra a internet, errou. Disseminou o conhecimento e coisas inimagináveis antes. E quem está contra o celular, vai errar também.

Há coisas sendo feitas e aplicadas de forma errônea em tudo isso? Sim, há. Mas tudo isso trouxe evolução porque as pessoas foram ensinadas a usá-las corretamente. A ter senso crítico sobre oportunidade e tempo.

Mas se você pensa que os alunos não sabem usar o celular corretamente na sala de aula considere que também devem aprender isso. Também é papel do professor e da professora ensinar o bom uso do celular, assim como o bom uso do computador no laboratório de informática, para que eles saibam fazer o bom uso de mais essa tecnologia. Claro, o professor e a professora também terão que aprender a fazer isso.

Ao invés das escolas terem que montar laboratórios caríssimos, por exemplo, com dezenas de computadores, espaço especialmente projetado, protegido e refrigerado, agora podemos ter a chance e o privilégio de ter o laboratório dentro do bolso do aluno, sem grandes esforços.

No século 21, há quem queira proibir totalmente celular na sala de aula, mas que tal levarmos esse assunto a sério, abrir amplo debate e criarmos projetos de Lei para inserir o uso de celular na sala de aula, treinando o corpo docente a administrativo para impulsionar o aprendizado e a inovação nas escolas?

Fernando Bryan Frizzarin é professor, escritor, inventor, é Gerente do Suporte Técnico da BluePex Cybersecurity S/A, Diretor Técnico e Operacional na Fábrica de Inovação de Limeira e professor do ensino superior nas FATECs Araras e Americana, SP. Formado em Ciência da Computação, Especialista em Redes, Psicopedagogo e MBA em Gestão Estratégica da Tecnologia da Informação. Autor, coautor ou participante de vários livros na área de computação e literatura. Depositário de patente, marca e de diversos registros de programas de computador como autor ou coautor em cooperação com colegas de trabalho ou alunos. Membro imortal da Academia Mundial de Letras da Humanidade sucursal Limeira, SP. Foi laureado com o Diploma Pérola Byington da Câmara Municipal de Santa Bárbara d’Oeste e Professor Universitário Inovador da Câmara Municipal de Limeira.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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