A tragédia epidêmica da violência contra a mulher

por Carlos Chinellato

A violência física contra a mulher se transformou numa epidemia brasileira. Os dados de registros de agressões e de feminicídios são cada vez mais assustadores, e estão disponíveis diariamente para quem quiser vê-los. O gatilho para esse quadro de certa forma é um fenômeno recente, apesar da sociedade tipicamente machista a qual estamos inseridos já existir há muito.

O que se discute hoje é se os casos aumentaram devido a uma ampliação da tomada de consciência da mulher agredida de denunciar, ou não? Fico com a primeira hipótese. Seja lá como for, é preciso se buscar senão a solução, mas ao menos medidas eficazes que passem por vários atores sociais, para que o quadro ao menos se amenize. Outro elemento relevante desse crime bárbaro é que ele não se aplica apenas a uma determinada classe social. A epidemia se alastra em todas as camadas sociais.

Do andar de baixo ao andar de cima, ninguém escapa. Não dá para comparar a dor da mulher tendo como régua as diferenças sociais. O sofrimento, sem dúvida, no limite, é o mesmo. Porém, é certo que nas períferias ou comunidades (nomenclatura mais recente para a denominação de favelas ou morros) escapar desse tipo de violência é uma tarefa mais dura e penosa para as mulheres.

O nível de marginalização desses grupos sociais, já vítimas do apartheid brasileiro, é suficientemente elevado, daí o pedido de socorro pela mulher violentada torna-se mais difícil. A dependência do parceiro nesse ambiente sufocante de muitos filhos, vida sofrida pela falta de necessidades básicas, é algo real, incontestável. Porém, quase invisível. O grito de socorro, portanto, deve ser único.

As redes de apoio precisam se multiplicar, seja por meio da sociedade civil e também do Poder Público. É uma guerra, em que devem estar do mesmo lado da trincheira as mulheres de mãos dadas, independente de classes sociais. Não deixemos de lado aquelas mulheres menos favorecidas e que brigam diariamente por outros tipos de sobrevivência, por favor.

Espera-se, contudo, também nesta guerra a firmeza de propósito dos homens conscientes de que a tragédia a qual assistimos exigem gestos relevantes de seu verdadeiro papel neste momento tão delicado que todos nós vivemos e não somente as mulheres. É um caso que envolvem aspectos de solidariedade plena, enfrentamento e busca incessante da civilidade.

Carlos Chinellato é jornalista.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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