Um pouco de tudo

Por João Geraldo Lopes Gonçalves

O professor Darcy Ribeiro definia o Brasil como um país multirracial e de culturas tão diversas que, ao mesmo tempo, produziam situações positivas como nos oferecia contradições das mais escandalosas possíveis. Darcy enfatizava que a cor do brasileiro definia (infelizmente) sua condição na sociedade, se participa ou não da partilha de oportunidades.

É claro que a condição do vil metal, aliado à raça, estabelece este domínio de uma “comunidade”, como chamou pejorativamente os pobres, o governador Zema de Minas Gerais. Ele protagonizou, uma das cenas mais ridículas e acachapantes deste ano de 2023.

Quase em um acesso de ciúme, o governador bolsonarista criticou o consórcio dos Estados do Norte e Nordeste para o combate a fome e a miséria na região. Ao invés de propor o mesmo, mas de forma solidaria e pacífica para todo o País, produziu uma das pérolas mais antigas do Brasil desde o período colonial.

Sem nenhum constrangimento e de forma violenta, Zema propôs que o Sul e Sudeste do País se separam do resto da nação, rememorando as Guerras dos Farrapos e outros episódios, de sangria e atraso político e econômico.

Lembro, quando estivemos a primeira vez no Rio Grande do Sul, o espírito separatista que, em um misto de preconceito de raças com prepotência econômica, era muito forte por lá. Não é à toa que o único governador a dar guarida aa Zema foi Eduardo Leite, mandatário dos gaúchos, em um rompante oportunista e perigoso.

Ainda bem que o restante do Brasil disse não a esta tese digna de um déspota.

Já o governo carioca que governa São Paulo, o também bolsonarista Tarcísio de Freitas, protagonizou duas medidas tão mais violentas que o discurso de Zema. Primeiro, ratificando o estilo das milicias policiais do Rio de Janeiro, que matam e investigam depois, bem como escolhem o público-alvo: negros, pobres e jovens.

O caso da chacina do Guarujá no Litoral Sul de Sampa demonstra que São Paulo vai se transformando rapidamente em um Estado Policial e de exceção. A Rota, a PM que mais matou na ditadura e nos anos 80, volta com tudo no governo de Tarcísio.

O modus operandis prossegue o mesmo: argumentos como “mataram um policial”, “vão morrer dezenas”, tudo em nome da lei e da ordem. Estamos chegando a mais de 20 mortes. A maioria delas de pessoas negras e pobres, com vários trabalhadores que nada tem a ver com crime organizado.

A imprensa, que às vezes homologa chacinas, ou por vergonha ou algumas por estar acordando, tem criminalizado os atos da Rota e as posições do governador de concordar com a violência. Mas Tarcísio de Freitas não para por aí.

Sua vontade e determinação de liderar o espólio de Bolsonaro é tão grande que ele faz de tudo para a agradar a audiência. A medida de não distribuir livros didáticos para a rede pública, prometendo que será tudo online, cheira a mais uma tramoia comercial e de sucateamento da educação. Seu secretário da Educação, importado do Paraná, já tinha feito este estrago por lá.

Investigações dão conta de que a mesma empresa que venceu licitação para fornecer computadores e rede de internet, naquele estado do Sul, já estaria na ponta da agulha aqui em São Paulo. Mas Tarcísio precisa entender que aqui há contraposição, há reação.

As pressões, em especial de educadores e alunos, fizeram o bolsonarista recuar e prometer imprimir os livros para os alunos, mostrando que a ideia do digital não seria para todos, além de ser improdutiva.

Na contramão de Romeu Zema e Tarcísio de Freitas, está a presidente do STF, Rosa Weber. Antes de sua aposentadoria, a ministra dá sinais de que quer deixar um legado progressista em seu mandato presidencial. Em pouco tempo desenterrou uma agenda que as esquerdas temiam, pois acham que perderiam e a direita preferia que ficasse embolorando do que ir para voto.

Três pautas, com duas aprovadas e uma a caminho, em menos de seis meses, chamam a atenção dos ideológicos e a população em geral.

A primeira tira o privilégio, de diplomados universitários, a prisão especial. A segunda em igual importância, retira teses de defesa, em nome da honra, do marido macho em violentar e matar sua mulher. Uma conquista e tanto. E por último a descriminalização da Maconha.

O texto que está sendo votado pela Suprema Corte determina que usuário da Cannabis não será preso por isto. A votação foi interrompida, com quatro votos favoráveis, faltando dois para obtenção de maioria.

Outros fatos nos chamaram a atenção, neste último mês em especial no mundo da bola. E pela primeira vez na história nossa Seleção Feminina de Futebol teve o apoio e a valorização necessária para uma competição mundial. Infelizmente, fomos eliminados ainda na fase de grupos. Mas mesmo com o machismo e a misoginia incrustrado nos homens deste País, o clima de afeto e carinho a nossa seleção foi bem maior. A sociedade volta a civilidade e ao bom senso.

E a Marta, hein?

Última Copa, sonho frustrado de não conseguir. Mas nossa Rainha não tem este título à toa. Ela nos trouxe o futebol das meninas. Ela nos trouxe o romper dos preconceitos. Ela nos trouxe a humildade que passa longe de um Neymar. Marta trouxe o Nordeste pobre, índio, negro, na pauta do dia, não como uma exceção a regra, mas integrante deste mundo chamado Brasil.

Este mundo, também citando novamente Darcy Ribeiro nos traz contradições. Pedro atacante do Flamengo, sofreu agressão física de um membro da comissão técnica. A diretoria do time carioca aceitou o pedido de demissão do agressor, quando deveria ter punido por justa causa. Ao invés disto, puniu o jogador sem emitir uma nota sequer sobre o ocorrido.

Pedro é um trabalhador, como qualquer um de nós. Tem direito a reclamar quando injustiçado.

Bom, um pouco do que aconteceu neste bazar de variedades chamado Brasil.

Abraços a Todas e a Todos.

João Geraldo Lopes Gonçalves, o Janjão, é escritor e consultor político e cultural.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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