Tim Maia por ele mesmo

Por João Geraldo Lopes Gonçalves

Resgatei um texto que fiz de brincadeira e, para quem não conhece o grande Tim Maia, decidi publicar neste Diário de Justiça. E para os fãs lembrarem do cara.

Que beleza é saber seu nome

Sebastião Rodrigues Maia. No começo me deram o apelido de Babulina, por conta da canção Bop-A-Lena. Nos Sputniks, eu era o Tião. Mais tarde o Imperial (Carlos) disse: “Põe o Tim, Tião não dá, né”. Aí ficou Tim Maia

Sua origem, seu passado

Tijuca, Zona Norte do Rio. Tião Marmita era conhecido pela rapaziada que escutava Elvis, Chuck Berry e outros, pois entregava as “quentinhas” que minha mãe fazia. Em resumo: preto, gordo e era pobre.

Eu sou canário do reino

Mas num é? Cansei do Rio, não conseguia nada. Queria ser cantor. O Roberto se deu bem nas minhas custas. Sou cantor do mundo do reino

E canto em qualquer lugar

Fui pros States. Lá descobri um bagulho de som diferente. Era música feita por preto pra preto cantar. Me amarrei. Estudei a língua, escrevi umas músicas e cantei por lá. Mas a dureza me atrapalhou. Dei uma errata e fui em cana. Aí os gringos me mandaram embora.

E na vida a gente tem que entender, que um nasce pra sofrer, enquanto o outro ri.

É brothers, foi foda, voltei pro Brasil, pra Tijuca. Barra pesadíssima. RC virou as costas de novo. E aí, duro, caí na lábia de um malaco e fui ver o sol nascer quadrado de novo. Era ditadura, fui torturado pacas. Saí e conheci um broto, lindo, mas me esnobou, sofri pra cachorro.

Mas quem sofre sempre tem que procurar, pelo menos vir achar, razão para viver

Um dia conheci Fabiano, cantor assim como eu. Cara gostava de música negra. Tava acontecendo e deu a mão, o pé o corpo todo pro gordo aqui. Uma gauchinha, pimentinha mesmo, ouviu um disquinho meu com uma música em inglês. Apaixonou e gravou. O Brasil começou a conhecer o gordo, preto, porém, não tão pobre mais.

Quando o inverno chegar, eu quero estar junto a ti; pode o outono voltar, eu quero estar junto a ti

Com Janaina Mon Amour, a vida ficava mais fácil e linda. Veio o primeiro Long Play, todo suingado, preto mesmo. Cassiano, o cara, me deu um presente. “Primavera” tocou até em comercial de cobertor e biquíni.

Meu amor, hoje o céu está tão lindo (vai chuva)

Bicho, fui pra uma temporada em Londres curtir a terra dos Stones. Dei um abraço de urso no “Cae” e no Gil. Os caras tavam mal, meu. Tentamos fazer música, mas não deu. Só curti, bebi e fumei os Baurets chiques da terra da Rainha. Mas Jana pirou e quis vir embora.

A cultura racional, é cultura sem igual, é cultura do desencanto, é cultura transcendental

Egoísta o mundo de achar que só tem vida aqui, né? Aí vi uns caras legais, com um troço de Cultural Racional. Larguei cigarros, bauret, bebida, deixei até de dar “uminhas”. Não quis mais ser empregado de gravadora que quer o seu sangue e que você grave merda só pra vender. Criei o bagulho Seroma, amores ao contrário e abreviação do meu nome de batismo. Gravei dois discos mensagens para se conectar (naquele tempo não tinha esta expressão, OK?), com os marcianos.

Não quero dinheiro, eu só quero amar, amar

Mas num é que o mestre da porra da seita era um charlatão? Saí daquele negócio. Voltei ao cigarro e a Janaina. Mas ela….me deixou pela terceira vez, com o Leozinho pra criar. Morri de novo.

O que eu quero? Sossego!

Mas não é o que todo mundo quer? Sossego, levar a vida numa boa?. Comi o pão que o diabo amassou, depois que a Jana me deixou e os problemas de grana. Mas o Gordo aqui, não nega a raça, sempre vai a luta. Fiz uns discos bacanas, na onda da Discoteca, de baile, de festa mesmo. Sossego, Vale Tudo, Do Leme ao Pontal e por aí afora Brother.

Como vai, meu velho camarada?

A Saúde não tava legal, não. Voltei a beber pacas, meu filho. Mas criei uma super banda, A Vitória Régia, que me acompanhou até o fim. Camaradinhas dos bons. Fizemos até um selo novo, com a marca da banda. Me enchi de novo com gravadoras. Gravei só o que eu queria. Bossa Nova, disco só com os clássicos da música preta. Até um comercial botaram uma gravação minha do genial Lulu, “Como uma Onda”, mas não é que tocou pra caramba nas rádios?

Quanto tempo eu não vejo mais você

Saudades do Hyldon, do Cassiano, do Fabiano. Foi legal, o disquinho dos camaradas. Vocês nunca me abandonaram, nem nas vacas magras, nem nas gordinhas. E o outro Babulina lá da Tijuca. O síndico agradece a Jorge Benjor.

O Márcio Leonardo veio na Seroma pra brincar! O Márcio Leonardo veio na Seroma pra tocar seu violão, seu piano!

Olha bicho, foi legal, o Leozinho, não quero nem saber o biológico dele. O cara é e sempre foi meu filho. Ele lá brincando na gravadora, de ser cantor. E hoje o neguinho canta. Maior barato.

Telmo! Tell me what to do? Telmo! Tell me what to say, cause I don’t know!

Errei o nome do Rebento? Pra mim é o Telmo, camarada, dos bons. Gosto de filhos, crianças, meu reino encantado, foi duro largá-las.

Toda verdade deve ser falada, e não vale a gente se enganar

Sempre fui bocudo. Nunca deixei de falar o que dava na telha. Muito carinha aí, não gostava do gordo, por isto. Sou o que sou (risos)

Não vou ficar, não, Não posso mais ficar, não, não, não

Queria ficar, mais uns duzentos anos, tipo Matusalém, saca bicho? Mas o Tião foi chamado sabe-se por quem né. Mas fui dessa pro fundo da terra cantando, porque feito Canário do Reino, meu negócio é cantar.

Ps 1: Utilizei trechos das seguintes canções do repertório do Tim: Imunização Racional, Canário do Reino, Azul da Cor do Mar, Primavera, Cultura Racional, Não Quero Dinheiro, Sossego, Velho Camarada, Marcio Leonardo e Teo, Não vou ficar.

Ps 2: Todas as informações foram baseadas no livro “Vale Tudo”, do Nelson Motta.

Um final de semana lindo a todas e a todos e sugiro ouvir Tim Maia, pra dançar e amar.

João Geraldo Lopes Gonçalves, o Janjão, é escritor e consultor político e cultural.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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