O que vimos no recesso

Por João Geraldo Lopes Gonçalves

Oi pessoal, estamos de volta, depois de duas semanas sem a coluna às sextas feiras neste Diário de Justiça. Um pequeno recesso para recolocar a cabeça e o corpo em ordem, depois de um ano em que morremos como afirma a letra de sujeito de sorte.

Recobrar a consciência pós-festas de fim de ano, em que paramos tudo para festejar, comemorar, pouco se reflete, muito se delira nos abraços e beijos, bem como presentes.

Mas de antemão já sabíamos que 2024, ano de 60 anos de golpe militar no Brasil, e de um ano de uma nova tentativa de terror, não seria fácil.

Um ano recheado de esperanças, de que a democracia se consolidará, e nunca mais teremos ditadura e ditadores. Um ano de Eleições municipais, onde o nacional, embora influencie, o voto no frigir das dúvidas se pauta pelos problemas locais e regionais.

Um ano que este escrevinhador espera estar indo para o transplante de rins, se tudo der certo. O recesso nos fez na ressaca das festas, pensar em projetos, planos e sonhos. Mas não deixei de zapear o que rolava no Brasil e em Limeira.

O calor infernal e a temeridade de tempestades com enchentes, queda de energia e outras consequências derivadas do descaso administrativo em muitos casos nos chamou bem a atenção. O Rio de Janeiro e seus onze mortos na semana passada que o digam.

Foi um tempo também de escrever um depoimento para um livro de memórias sobre militância nos anos 80. Em breve maiores informações.

Por hora, elencamos alguns assuntos breves sobre o que destacamos neste recesso. E aí, se gostar ou não, comenta o que acha de nossos escritos.

Futebol e São Silvestre

O 7X1 de 2014, na semifinal da Copa do Mundo contra o Brasil em pleno Mineirão em BH, nos faz esquecer de dois fatos bem legais. O primeiro, que a Alemanha nossa algoz, tinha um timaço, liderado no meio campo por Toni Kroos, que na sequência foi jogar no Real Madri, onde se encontra até hoje. Merecíamos perder.

Segundo, que a delegação alemã ficou sediada na Bahia e lá os jogadores demonstraram apreço por nossa cultura e declararam defesa dos Direitos Humanos, inclusive em um discurso antifascista.

De lá para cá, outros fatos e iniciativas, vindos de atletas da Alemanha, chamaram a atenção. O último foi do extraordinário ser humano, Toni Kroos. Durante a disputa da Super Copa da Espanha, na Arábia Saudita, onde o Real Madri foi o campeão, o alemão deu uma declaração que lhe custou vaias na final toda vez que pegava na bola.

Kroos, que já tinha se manifestado sobre o tema, disse que jamais jogaria naquele país, por algumas razões. Entre elas que a Arábia Saudita não respeita os direitos humanos, discrimina mulheres, persegue LGBTs, é acusada de matar jornalistas e impõe censura. Foi um recado a vários jogadores, que trocam a Europa ou outros países para jogar por milhões de dólares.

Toni Kroos supercoerente. Já Neymar Jr. e seu pai não primam pelo bom senso e pela ética há muito tempo. Se não bastasse sucumbir aos dólares árabes e apoiar o governo Bolsonaro, Neymar gosta de dar uma mãozinha a parças que cometem crimes. Uma notícia que abalou Bangu foi a de que o rapaz teria enviado quase um milhão de reais para aliviar a sentença de Daniel Alves, preso pela acusação de estuprar uma mulher.

No caso Robinho, já condenado também por estupro na Itália, o eterno moleque Ney já tinha se manifestado a favor do cara que foge da justiça Italiana. Em sua apresentação como técnico da Seleção Brasileira, Dorival Jr. declarou que precisamos nos acostumar a jogar sem Neymar. Emendo dizendo que o Brasil dos pobres e negro também faz coro com o Dorival.

Fique na Arábia Neymar, lá você se identifica melhor. Ainda falando sobre estupro; no recesso vimos o caso do treinador Cuca, que quando jogador foi condenado na Suíça por estupro coletivo a uma menina, terminar. Na verdade, a Justiça daquele País anulou a condenação, pois houve erros no processo e caiu em prescrição.

O tribunal suíço não discutiu o mérito. Assim Cuca não provou sua inocência. Pensamos que o treinador deveria lutar para provar que não tem culpa ou assumir o crime cometido.

E falando em mulheres, a presidenta do Palmeiras, Leila Pereira, toma um gesto bem bacana. Leila convocou nesta última terça-feira uma entrevista coletiva, com a presença de apenas jornalistas mulheres. A grita dos homens e donos de veículos de imprensa foi geral, condenando o gesto magnífico da presidenta, expondo um machismo bem presente em nosso esporte bretão.

Resta saber se as queixas são porque boa parte destes veículos não tem uma sequer profissional do sexo feminino ou se ainda insistem na política misógina e patriarcal de muitas de nossas redações.

E Mario Lobo Zagalo subiu ao andar de cima neste início de ano. Não há dúvida de que o cara prestou bons serviços ao futebol, sendo tetracampeão do mundo, o único no planeta. No entanto boa parte da mídia brasileira resolveu promovê-lo a condição de santo e herói. Um erro clássico de nossa pobre crônica esportiva.

Zagalo cometeu, sim, seus deslizes para com o País. Em 1970, só foi técnico no México porque era militar e o regime não queria João Saldanha, um comunista e oponente da ditadura. Convocou Dario Maravilha a mando do general Médici, o mais cruel dos ditadores. Não convocou Dirceu Lopes um dos melhores meias daquele tempo, pois o cara era oposição a ditadura.

Anos depois, no comando do Botafogo, Zagalo, afastou por meses o craque Afonsinho, alegando que o mesmo se recusava a cortar a barba e o cabelo. Na verdade, Afonso tinha se sindicalizado no sindicato dos atletas e reivindicado o passe livre, além de apoiar os combatentes contra os militares. Reconheçamos o valor de Zagalo, mas daí santificá-lo e não contar a história toda é no mínimo mal jornalismo.

E para encerrar este tópico, quero parabenizar os atletas da Associação Limeirense de Atletismo (ALA) pela participação brilhante, em mais uma edição da corrida de São Silvestre. E em particular minha irmã Katia Cilene, por completar o circuito todo da corrida.

BBB 24 será diferente

O primeiro Big Brother Brasil que assisti inteiro foi o da estreia do enlatado Americano. Em 2002, estávamos curiosos para saber que raio de programa era aquele. Nunca mais assistimos de cabo a rabo, só flashes e matérias na imprensa.

Pensar em um confinamento, onde a tal vida real é retratada, é no mínimo relegar o ser humano a uma condição de ser inviável nesta terra. Limitar os relacionamentos a intrigas, bate bocas, fofocas e a intenção de destruir para ganhar não são só Ibope, é projeto de sociedade.

Na edição do ano passado, parecia que o BBB estava fadado a sumir do mapa, pois sua fórmula de semear ódio, preconceito, não estava mais surtindo efeito. Desde novembro de 2023, a Globo vem anunciando um programa que parecia seria diferente. Sugeria maior participação popular e menos roteiro e a novidade: a maior parte dos integrantes da casa são pobres e o aumento da diversidade.

Chamou-nos a atenção, mas por pouco tempo. Nunca tivemos ilusão de que teríamos uma atração que consagraria princípios e valores, como solidariedade, o amor, o afeto, a fraternidade. Mas o Sistema Globo é o da competição para ganhar dinheiro e isto não se faz sendo leal, verdadeiro e honesto.

A Globo é a Globo, e a pancadaria teve início, já no terceiro dia. Um festival de misoginia, xenofobia, homofobia e outras barbaridades. Além, é claro, a ode ao consumismo com o desfile de patrocinadores e seus produtos. O BBB é descartável para nós.

8 de janeiro: o golpe fracassou

Muitos amigos apostavam que o pesadelo do bolsonarismo acabava com a derrota de seu chefe. A ausência de uma leitura sobre o que acontecia nas áreas do exército no final de 2022 incorreu no erro de subestimar a turba do ex-presidente e o que eles seriam capazes.

O 8 de Janeiro de 22 espalhou terror e o perigo de mais um golpe de Estado. Se ele dá certo, entraríamos para o livro dos recordes como o País com a sua elite que mais produz golpes contra a democracia. Mas as instituições agiram rápidas e o golpe foi derrotado.

Este ano fez aniversário em que terroristas invadiram os três poderes, destruindo tudo o que viam pela frente. Porém o perigo ainda ronda o Brasil. Muito terrorista ainda está impune, andando e circulando como se fosse um salvador da Pátria, em especial mandantes articuladores e financiadores.

Para a democracia se consolidar, é preciso colocar a limpo, não só o 8 de Janeiro, mas os quatro anos em que esta gente esteve no poder.

Dois fatos ilustram os perigos a paz. O primeiro aconteceu em Limeira. O ministro do STF, Alexandre de Moraes, não permitiu pedidos de um rapaz que cumpre prisão domiciliar, para visitar a namorada, igualmente ré do 8 de janeiro. As alegações de Moraes é que para se beneficiar da custódia residencial, há critérios e condições.

A rede Bolsonarista, só para variar, criticou as medidas do ministro. Acho incrível a cabeça deste povo. Se fosse um pobre, negro, estariam defendendo a pena de morte. Não são eles mesmos que dizem que a lei é para todos? Então, se cumpre a lei.

O segundo caso é a disseminação do ódio e da violência política. Um homem entra em um bar em Santa Teresa no Rio de Janeiro e quebra placa alusiva à vereadora assassinada Marielle Franco e dá um murro em quadro do presidente Lula.

O covarde agiu e deu no pé. A polícia carioca tenta localizar o terrorista. Imaginem se a moda pega. A Democracia tem que viver.

As últimas

Cerca de 15 mil pessoas que representam 0,01% da população viram sua renda triplicar no final do governo Bolsonaro. Isto ocorreu de 2017 com temer até 2022. Enquanto os mais ricos viam sua fortuna crescer, 96%, os mais pobres no mesmo período, tiveram apenas 33% de crescimento de renda.

Agora estão explicados os discursos de apoio a estes governos, por setores destas elites e o porquê são contra o imposto sobre heranças. O levantamento foi realizado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas). Um crime a favor das desigualdades sociais.

E falando em crime, o Governo Lula fez um golaço esta semana. O presidente sancionou a lei que considera crime hediondo o bullying e cyberbullying. Entenda-se por hediondo não ter direito á fiança e nem em responder em liberdade.

Sem dúvida, coibir este tipo de crime é importante e necessário. No entanto, é preciso, através da educação, medidas preventivas. Como, por exemplo, discutir valores desde a primeira infância, como solidariedade, respeito as diferenças, fraternidade e outros.

Dias atrás setores da imprensa iniciaram uma grita geral contra o governo Lula. O desacordo é porque Brasília resolveu apoiar sanção da África do Sul definindo Israel como genocida. Os números costumam não mentir.

Desde que o conflito começou, o exército israelense matou 24 mil palestinos, 90% civis, entre estes mulheres e crianças. Enquanto isto, o Hamas, grupo terrorista, teria matado menos de mil pessoas. Apoiamos a decisão do Governo Brasileiro. Esta guerra tem que ter fim.

Dica cultural

A plataforma digital Globoplay, desde dezembro, disponibiliza a série de oito capítulos “Betinho – No Fio da Navalha”. A história conta a trajetória do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, criador da campanha “Ação e Cidadania”, que até hoje, luta contra a fome no Brasil.

Um bom final de semana a todas e a todos.

João Geraldo Lopes Gonçalves, o Janjão, é escritor e consultor político e cultural.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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