História: Economia e a Industrialização II

Por João Geraldo Lopes Gonçalves

Desindustrialização significa uma precoce diminuição da presença da indústria num país em que ainda há muita coisa a fazer”. (Economista Wilson Cano)

Certa vez um dirigente sindical de Limeira nos contou uma história que ocorreu no início do século 21. Os anos 90, a crise econômica de 1998, bem como o neoliberalismo, afetaram em muito a economia produtiva, pois privilegiaram a estabilidade econômica, frearam os investimentos na indústria e outras economias. A questão do crescimento com justiça social veio à bancarrota.

Empresas quebram, fecham e não há recuperação com maior rapidez. E aí o desemprego é iminente. Nosso dirigente conta que sua casa é próxima de um antigo parque industrial e que todo o dia ao caminho do trabalho passava em frente aos barracões destas empresas.

Notou que, no portão fechado de uma delas, se encontrava um trabalhador conhecido, não entendeu o que ele ali fazia. Ao retornar para casa na hora do almoço, o senhor ainda estava lá no mesmo lugar e com sua mochilinha com a marmita de comida. Resolveu parar o carro e descer.

Ao ver o trabalhador e o mesmo também percebeu sua presença, o choro do segundo foi imediato e compulsivo. O sindicalista pediu que o amigo se acalmasse. E depois de alguns minutos, a pergunta que não queria calar. “Mas o que o companheiro faz aqui em frente desta fábrica fechada?”

A resposta inusitada foi: “Não vivo sem esta fábrica, trabalhei minha vida toda aqui, dei meu sangue e suor. Eles não podiam fazer isto comigo. Não sei fazer nada na vida além do trabalho aqui”.

Este fato citado é para ilustrar que entrávamos nos anos 2000 com uma das maiores crises de nossa indústria, onde o desemprego e as mudanças no chão de fábrica mostravam uma nova realidade.

Ao chegar em 2008, a política econômica do Governo Lula 2 mantinha a moeda estabilizada, controlava a inflação com programas sociais de distribuição de renda que aqueciam o mercado de consumo, combatendo a fome.

O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) tinha como objetivo o retorno da industrialização. Embora ele consiga reaquecer a indústria de construção civil e de infraestrutura, ainda vivíamos uma situação de ter inúmeros segmentos jogados ao esquecimento.

Com a crise imobiliária que começa nos Estados Unidos, as expectativas para uma hecatombe em nossa economia eram enormes. Porém, o impacto desastroso na América do Norte e na Europa, por aqui foi menor, mesmo causando alguns estragos, dando prejuízos ao capital produtivo, mas não ocasionou recessão e desemprego significativos.

Na época, o presidente Lula fez a seguinte declaração: “Lá (nos EUA), ela é um tsunami; aqui, se ela chegar, vai chegar uma marolinha que não dá nem para esquiar”. Mesmo assim, o índice Bovespa, que mede o capital investido em ações no país, caiu, aumentando o dólar e retirando recursos.

Mas o governo, feito um bombeiro, apagou e conteve a marolinha com algumas medidas, como a baixa das taxas de juros, isenção de impostos para a linha branca de eletrodomésticos, com o intuito de incentivar a indústria a produzir e o consumo aumentar e assim fortalecer nossa economia.

Se as medidas foram suficientes para evitar uma tragédia, elas não conseguiram retornar a industrialização ao seu papel de protagonista até a década de 80 do século passado. Lula terminava seu segundo mandato, com índices de popularidade altíssimos, capazes de fazer a sucessora Dilma Rousseff.

Mas a economia sustentada por uma indústria de ponta não acontecia, mesmo com a distribuição de renda promovida pelo Estado Brasileiro. E assim entravamos na era Dilma.

Economia em frangalhos, Lava Jato e golpe

Dilma Rousseff, a mãe do PAC, como dizia Lula, assume em 2011, com muita força, em função do sucesso dos mandatos de Lula. Ela se fortalece ao enxergar um País que diminuía as desigualdades sociais, mas tinha problemas com o crescimento mais sustentável.

O capital especulativo e rentista dominava a economia, colocando em segundo plano o capital produtivo. É famosa a Avenida Faria Lima em São Paulo, que terá destaque neste período. Sua fama se dá pelo fato de naqueles prédios monumentais e chiques se concentrarem uma economia que se baseia na compra e venda de passivos, baseado no humor da Bolsa de Valores.

O rentista vive de taxas de juros: quanto mais sobem, mais facilita sua pretensão de adquirir massas falidas por preços irrisórios e os vende por preços módicos.

A presidenta enfrentava um mercado econômico, ou melhor, financeiro, que não produz uma agulha sequer, especula para obter lucros exorbitantes sem ao menos dar contrapartidas sociais e claro econômicas.

Ao contrário da política populista do lulismo e de conciliação, Dilma Rousseff procura dar um salto maior no que vinha sendo feito até então. Havia uma crise econômica, ainda consequência de 2008, com muita força pelo caminho, em especial na Europa, que aumentou as taxas de importação para o setor produtivo.

Dilma resolve aproveitar e pensa em uma política de fomento a produção local, com inserções de impostos, fomento financeiro do BNDES e outras medidas. E compra uma das brigas que lhe vai custar muito caro.

Reduzir as taxas de juros a partir do Banco Central foi uma das medidas importantes, mas que esbarravam na resistência de bancos e entidades financeiras privadas que se negavam a praticar a taxa definida pelo BC. Juros altos impediam que o setor produtivo e mesmo as pessoas físicas apresentassem poder de endividamento.

O que fez a presidenta Dilma: começa a cobrar dos banqueiros e financistas a oferecerem juros definidos pelo governo e condições de pagamentos que não colocassem em risco o patrimônio ativo e passivo das empresas e das pessoas.

Outro aspecto de dificuldade é que o setor da indústria de produção não acompanhou o raciocínio do Estado, não apoiando as iniciativas e se aliando ao setor financista e especulativo. Neste momento também se discutia o que fazer com o pré-sal, uma das mais importantes descobertas da história Brasileira.

A exploração do petróleo embaixo do sal evidenciava ao governo a possibilidade de investimentos sociais como educação, saúde e infraestrutura. Na contramão, vinha o grande capital, especulativo e estrangeiro, com velhas bandeiras com a da privatização da Petrobrás e a anarquia da economia, ou seja, a substituição do produtivo pelo rentista.

Dilma Rousseff resiste às investidas, mas comete erros, como o de não ouvir as ruas nas manifestações de 2013, que clamavam por melhorias de vida e dos serviços públicos. Outro erro gritante foi colocar na economia um defensor do rentismo, travando a ideia de reconstrução da indústria de produção.

Tudo isto vai causar um caos administrativo e político, dando a sensação de que enfrentaríamos mais uma crise econômica. Tal situação levou as elites a condenarem o governo e a classe média ir às ruas assustada, preocupada em perder suas economias.

E aí vem a Lava Jato. Faltava um ingrediente na estratégia de crise: a corrupção. Supostas irregularidades na Petrobrás, muitas não provadas, foram o estopim para maior operação judicial da história deste Brasil. Com a bandeira da moralidade e não da Justiça, o juiz Sergio Moro e promotores da Lava Jato passaram por cima da legislação e da Constituição, condenando e prendendo por convicções pessoais e não provas.

Hoje o STF e a imprensa mostram os vários erros cometidos pela República de Curitiba, provando os interesses extremamente políticos de sua operação. Recentemente a grande imprensa noticiou em pé de pagina, mas o fez, uma possível articulação entre o então juiz Moro e os órgãos de segurança e justiça americanos, a partir de 2014, quando a LJ aparece.

Coincidência ou não, era o boom do debate do pré-sal e Dilma vinha fragilizada. Aumenta o discurso de derrotá-la nas eleições daquele ano. Mas os estragos já estavam sendo feitos, com a destruição de nossa indústria de infraestrutura, capaz de fazer a exploração do ouro preto abaixo do salitre.

Dilma Rousseff vence o pleito eleitoral, por uma diferença pequena do tucano Aécio Neves. Antes de tomar posse, a presidenta já tinha seu resultado questionado por setores políticos e empresariais. Começa a articulação do Golpe de 2016. Mas este assunto é para a próxima semana.

Dica cultural

O músico, violeiro e luthier João Lejambre está preparando um show de seu novo trabalho “Caipira Elétrico”, a ser realizado no dia 12 de abril no Teatro Vitória em Limeira (SP).

O espetáculo terá entrada ao apresentar um quilo de alimentos perecíveis. Mas para montar o show, o compositor lançou uma camiseta promocional no valor de R$ 70. Os interessados a contribuir com a cultura podem acessar o seguinte endereço para adquirir o trabalho, com arte de Wellington de Barros Pessoa.

Link: https://forms.gle/sjMWqgsBxZ6hNM7B9.

A todas e a todos um bom final de semana.

João Geraldo Lopes Gonçalves, o Janjão, é escritor e consultor político e cultural.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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