Dos vinhedos aos confins do Universo: o poder da experimentação

por Fernando Bryan Frizzarin

Já parou para pensar em algo que você poderia ter inventado, mas alguém já inventou?

Normalmente, as invenções surgem meio do acaso, assim como as inovações, mas não são totalmente aleatórias; sempre há algum evento ou necessidade que culminam nelas.

Um bom exemplo disso é a Dra. Therezinha Beatriz Alves de Andrade Zorowich, que, sendo cirurgiã-dentista e dona de casa, em 1959, preocupada com o desperdício de arroz indo pelo ralo da pia da cozinha e com os entupimentos que isso causava, pensou em uma tigela com uma fina tela no fundo, que deixa a água escorrer, mas não deixa que os grãos se percam.

Sabendo que isso poderia lhe garantir ganhos, já que se tratava de algo que acabara de inventar (não existia nada igual até então), registrou a patente. O registro foi concedido em 1961.

Essa é uma amostra de que invenções, ou inovações, claro, não são pensadas absolutamente do nada. Sempre há uma necessidade de algo novo, para invenções, ou alguma melhoria em algo que já existe, para inovações. Há sempre, invariavelmente, alguma conexão entre o que está sendo criado com o que acontece ou aconteceu na vida, na história, seja ou não correlacionado.

Outro exemplo é o tão festejado e impressionante telescópio espacial James Webb.

Esse telescópio foi colocado em órbita da Terra a 1,5 milhões de quilômetros da superfície em 2021. Essa órbita é conhecida como ponto de Lagrange L2, que é um ponto no espaço onde a gravidade da Terra e do Sol se equilibram.

Essa máquina incrível está vasculhando a infância do Universo em busca não só das respostas corretas, mas também das perguntas pertinentes para que possamos conhecer melhor o nosso lugar no Cosmos. Aliás, conhecer um pouco, porque não sabemos muita coisa sobre onde estamos, de onde viemos e para onde vamos.

O telescópio James Webb não poderia desvendar exoplanetas se não fosse por um monte de outras invenções, inovações e necessidades que permearam a Humanidade durante toda a sua história.

Steven Johnson, em seu livro “De onde vêm as boas ideias – uma breve história da inovação”, conta, no capítulo intitulado “Exaptação”, como os telescópios puderam ser pensados a partir da invenção da prensa para a produção de vinhos.

Uma exaptação é uma característica que foi originalmente adaptada para uma função, mas que foi posteriormente adaptada para outra função.

Johnson descreve que, descontentes com a produtividade e as dificuldades que enfrentavam para produzir vinho, agricultores da Idade Média inventaram a prensa de parafuso. Com essa prensa, puderam esmagar as uvas com mais eficiência, facilitando e aumentando a produtividade de seus vinhedos.

Por volta de 1440, um jovem empresário chamado Johannes Gutenberg começou a estudar as prensas para vinhos. Interessado nas palavras, na literatura e na escrita, Gutenberg uniu o tipo móvel, o papel, a tinta e a prensa de parafuso para produção de vinhos, inventados muito antes, para imprimir a primeira Bíblia, retirando de poucos o privilégio e o monopólio da produção de livros e da leitura.

Com mais cópias disponíveis, as pessoas começaram a interessar-se por aprender a ler e descobriram que com a idade a visão deixa de ser favorável para a atividade da leitura. Eu que o diga, aqui lutando com meus óculos para enxergar melhor de perto.

Óculos, na época de Gutenberg, já existiam, pois datam do século XIII, apesar de não se saber exatamente pelas mãos de quem e onde surgiram, mas há registros históricos do seu uso por monges e a realeza, em especial.

A necessidade de leitura criou um mercado para a ferramenta de leitura, os óculos, fazendo com que muitas e muitas pessoas possuíssem lentes à disposição e, com isso, criou-se a possibilidade de que fizessem experimentos caseiros com elas, aumentando e diminuindo a imagem observada dependendo da combinação desejada.

Dada essa popularidade das lentes, no século seguinte ao de Gutenberg, nasceu o proeminente gênio Galileu, astrônomo, matemático, físico e filósofo que, com livros para compartilhamento e continuidade do conhecimento, lentes para experimentar de diversas e incansáveis formas, criou a luneta. Observou a Lua, Júpiter e outros corpos celestes, abrindo caminho para que o telescópio espacial James Webb pudesse existir hoje.

Quando se perguntar por que aprender coisas diferentes, mesmo que ache que nunca vai usar, por que submeter-se a alguma experiência ou fazer alguma conexão, lembre-se: a partir da produção de uma bebida para embriagar, descobriremos os segredos do Universo!

Fernando Bryan Frizzarin é professor, escritor, inventor, é Gerente do Suporte Técnico da BluePex Cybersecurity S/A, Diretor Técnico e Operacional na Fábrica de Inovação de Limeira e professor do ensino superior nas FATECs Araras e Americana, SP. Formado em Ciência da Computação, Especialista em Redes, Psicopedagogo e MBA em Gestão Estratégica da Tecnologia da Informação. Autor, coautor ou participante de vários livros na área de computação e literatura. Depositário de patente, marca e de diversos registros de programas de computador como autor ou coautor em cooperação com colegas de trabalho ou alunos. Membro imortal da Academia Mundial de Letras da Humanidade sucursal Limeira, SP. Foi laureado com o Diploma Pérola Byington da Câmara Municipal de Santa Bárbara d’Oeste e Professor Universitário Inovador da Câmara Municipal de Limeira.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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