A Sala dos Professores: lições de um drama alemão

por Farid Zaine
@farid.cultura

“A Sala dos Professores” , representante da Alemanha no Oscar 2024, categoria Filme Internacional, estreou nos cinemas brasileiros nesta semana, tendo fortes concorrentes de outros quatro países, sendo o mais cotado até agora o inglês, aliás falado em alemão, “Zona de Interesse”. Os outros são o italiano “Io, Capitano”, o espanhol “A Sociedade da Neve” e o japonês “Dias Perfeitos”. Essa categoria do Oscar é bem complicada: mais de 90 países inscrevem seus filmes, geralmente escolhidos por uma Comissão encarregada de procurar o título que mais represente o cinema do país, recaindo a escolha sobre o que os membros julgam ter mais chances no Oscar. Neste ano, mais uma vez, o cinema brasileiro sequer chegou aos 15 semifinalistas, com o documentário de Kleber Mendonça Filho “Retratos Fantasmas”, um ótimo filme, por sinal.

“A Sala dos Professores” ( The Teacher´s Lounge, traduzido do alemão Das Lehrerzimmer) é o novo longa do diretor alemão de origem turca Ilker Çatak, e trata de um tema universalmente importante, a educação. No caso, o drama narrado não serve apenas para mostrar o cotidiano de uma escola alemã , com suas particularidades, mas para ir além e tratar de complexas questões como xenofobia, preconceito e intolerância.


“A Sala dos Professores” conta a história da jovem professora Carla Nowak (Leonie Benesch), que chega à escola cheia de entusiasmo para cumprir sua tarefa de ensinar matemática e dirigir atividades esportivas, tendo bom controle sobre sua turma. Tudo vai bem até que uma investigação sobre furtos que acontecem na escola acaba por fazer recair suspeita sobre um aluno de sua turma. O problema é que Carla resolve investigar o caso por conta própria, deixando a câmera de seu notebook ligada na sala dos professores, enquanto sai para outra atividade; pelas imagens ela descobre que a pessoa que possivelmente realiza os furtos é uma funcionária da escola, que ela reconhece pela camisa captada pela câmera, sem que o rosto da pessoa tenha sido filmado. A mulher, ao ser acusada, reage drasticamente, com veemente negativa. O filho da funcionária, aluno de Carla, passa a ter reações até violentas contra a professora, e um movimento para incriminá-la por ter feito uma filmagem sem autorização envolve a escola toda, incluindo um jornal produzido pelos alunos.
Ilker Çatak conduz “A Sala dos Professores” de modo a deixar o público o tempo todo interessado no desfecho da história, ora impressionado com a obstinada luta da professora, ora incomodado pela possibilidade dela estar cometendo um erro. Aí reside outra lição do filme: até que ponto ações mal resolvidas podem conduzir ao caos? Çatak não fez um filme açucarado, daqueles cheios de canções motivadoras, como é comum em obras que têm a educação como tema e o ambiente escolar como cenário. Seu filme tem suspense, drama e emoção, mas não busca o sentimentalismo, nem a cumplicidade fácil do espectador.

“A Sala dos Professores”, retratando um espaço que se imagina ser apenas de discussões pedagógicas, mas onde também ocorrem conflitos, choque de pensamentos e intrigas, pode ser bem uma ilustração do mundo em que vivemos, e onde tudo isso nos cerca no cotidiano. Afinal, todos os dias somos levados a fazer escolhas que definem nosso futuro.

A SALA DOS PROFESSORES (Alemanha, 2023) – Indicado da Alemanha ao Oscar 2024 de Melhor Filme Internacional. Em cartaz nos cinemas.
Cotação: ****MUITO BOM

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