Uma voz interna

por Fernando Bryan Frizzarin

Há pouco fiquei sabendo que desde 2021 existe um projeto de inteligência artificial chamado December. A ideia é treinar a IA com textos, publicações, e postagens de redes sociais, entre outras fontes, de pessoas falecidas.

Exato. A proposta é viabilizar conversas artificiais com pessoas que já não estão mais vivas. Meio Black Mirror.

Mas como tudo na vida, o Project December tem um custo de US$ 5 por mês e, talvez, acarrete mais traumas além do luto mal resolvido, e uma série de questionamentos éticos e religiosos que surgiram desde seu lançamento.

Em uma rápida pesquisa, é possível encontrar uma infinidade de notícias relatando experiências maravilhosas de usuários, como o “alívio” de conversar com entes queridos falecidos de forma repentina e inesperada, como no caso do noivo que “reencontrou” a noiva que o deixou pouco tempo antes do casamento devido a uma doença, o que o ajudou a seguir em frente. No entanto, também há relatos de pessoas que, ao perguntarem onde o falecido estava, receberam como resposta “no inferno”, causando ainda mais problemas do que esperavam resolver.

E como era de se esperar, as coisas vão se tornando cada vez mais complicadas. Já há quem afirme que o software criou uma ponte com o além e que é possível que espíritos estejam se comunicando através dele. Não estou afirmando nem negando, apenas registrando o que está sendo dito.

No entanto, ao mencionar “coisas complicadas” e considerando o projeto interessante, mas aparentemente inútil, comecei a pensar que seria realmente interessante criar um Projeto January. Imagine pegar o Projeto December e, em vez de carregá-lo com informações de alguém que já faleceu, carregá-lo com informações de alguém que ainda está vivo.

Teríamos a oportunidade de perguntar à inteligência artificial o que determinada pessoa pensa sobre qualquer assunto que nos interesse.

E nem seria necessário criar um novo projeto. É algo simples e já disponível, e é melhor do que se imagina: você pode fazer qualquer pessoa parecer pensar o que você quiser! No entanto, é claro que isso acarretaria problemas morais e legais, não é mesmo, advogados e advogadas leitores do Diário de Justiça?

Para evitar ter que enfrentar um juiz ou juíza para se explicar, que tal treinar a inteligência artificial com seus próprios dados? Já pensou, poderíamos conversar conosco mesmos. E se um louco não sabe que está louco, na dúvida, poderíamos perguntar a nós mesmos se estamos loucos.

E se eu perguntasse a mim mesmo o que acharia de determinado assunto, o que será que Fernando responderia?

Existem duas possibilidades:

1) Leria toda a explicação e argumentação e talvez terminasse com um discurso ainda mais enfático e convincente sobre o assunto, já que concordaria comigo mesmo, o que reforçaria uma crença, assim como uma voz interna, possibilitando um debate interno.

2) Leria toda a explicação e argumentação e talvez terminasse decepcionado ao perceber o absurdo de ter aquela crença ao ler meu próprio ponto de vista, o que o levaria, assim como uma voz interna, a buscar abandonar tais convicções em busca de outras melhores.

Conhecendo-me mais ou menos como me conheço, tem 1 em 2 chances de ser uma das opções. 50% para cada.

E você, o que acha que aconteceria?

Acesse o formulário em https://forms.gle/1NutqCNLFCEWd85Z8 e me conte. Prometo que, para todos os comentários que chegarem até terça-feira próxima, incluirei na íntegra em novo artigo. Não coletarei dados pessoais, apenas a contribuição, se quiser que seu nome ou outra identificação seja feita, por favor, deixe junto com seu comentário. Solte a imaginação e o verbo.

Fernando Bryan Frizzarin é professor, escritor, inventor, é Gerente do Suporte Técnico da BluePex Cybersecurity S/A, Diretor Técnico e Operacional na Fábrica de Inovação de Limeira e professor do ensino superior nas FATECs Araras e Americana, SP. Formado em Ciência da Computação, Especialista em Redes, Psicopedagogo e MBA em Gestão Estratégica da Tecnologia da Informação. Autor, coautor ou participante de vários livros na área de computação e literatura. Depositário de patente, marca e de diversos registros de programas de computador como autor ou coautor em cooperação com colegas de trabalho ou alunos. Membro imortal da Academia Mundial de Letras da Humanidade sucursal Limeira, SP. Foi laureado com o Diploma Pérola Byington da Câmara Municipal de Santa Bárbara d’Oeste e Professor Universitário Inovador da Câmara Municipal de Limeira.

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