The Underground Railroad – Os Caminhos para a Liberdade

Por Farid Zaine
@farid.cultura

Quando “Moonlight”, dirigido por Barry Jenkins, ganhou o Oscar de Melhor Filme em 2017, fiquei inconformado. Após uma das mais célebres gafes da história do prêmio, que tinha sido anunciado para “La La Land”, logo veio uma correção, diante dos embasbacados apresentadores, os veteranos Faye Dunaway e Warren Beatty.

Não que não tenha gostado de “Moonlight”, um ótimo filme, mas para mim o vencedor seria esse que considero um dos melhores musicais de todos os tempos, “La La Land”. Nada tirou, contudo, minha admiração por Jenkins, que demonstrou ser um diretor maduro e competente nesse drama que acumulou mais de 200 prêmios na temporada daquele ano.

Jenkins só vem confirmando seu talento, principalmente com o romance dramático “Se a Rua Beale Falasse”, que deu a Regina King seu Oscar de atriz coadjuvante em 2019. Consciente de seu papel de artista engajado, Jenkins prosseguiu nessa trajetória, fazendo do seu talento um meio de colocar em pauta permanente a história dos negros nos EUA, num momento tão crucial para o combate ao racismo.

O melhor trabalho de Jenkins até agora acabou de ser lançado na plataforma Amazon Prime. Trata-se da minissérie “The Underground Railroad – Os Caminhos para a Liberdade”, baseada no livro homônimo de Colson Whitehead, vencedor do Pulitzer 2017, um dos mais consagrados prêmios literários do mundo que, aliás, ele voltou a ganhar em 2020 com o romance “The Nickel Boys”, no Brasil traduzido como “O Reformatório Nickel”.

“The Underground Railroad” narra a história de Cora( Thusu Mbedu), uma jovem escrava que fugiu de uma fazenda na Georgia, após ser abandonada pela mãe, Mabel (Sheila Atim), e fazer, junto ao amigo Caesar (Aaron Pierrre) , a descoberta de uma trilha de fuga em direção aos estados do Norte, em busca da liberdade. Esses trilhos subterrâneos – ou clandestinos – de que trata o título, na verdade não existiram fisicamente, mas na forma de rotas de fuga para escravos auxiliados por pessoas que queriam ajudá-los a escapar dos horrores sofridos em fazendas escravocratas.

Na minissérie, Jenkins cria esse trem subterrâneo utilizando-se de cenários já existentes, mas com um design de produção excepcional que os transformaram completamente e que conferem à produção a maior cota de realismo fantástico que ela carrega.

“The Underground Railroad” é uma produção belíssima, e em cada episódio vemos justificado o orçamento de 150 milhões de dólares consumido em sua realização. São dez episódios , um melhor que o outro, sempre focados na fuga de Cora, suas passagens pelos estados americanos do sul, cada um com sua forma de mostrar o preconceito e a violência contra os negros, mesmo os já compraram a liberdade.

Com uma extraordinária fotografia, que faz uso poético da luz o tempo todo, e seu design de produção magnífico, a minissérie tem como ponto forte seu visual espetacular. Há violência explícita, sim, notadamente no primeiro episódio, com cenas de grande impacto. Jenkins não poderia fugir disso ao contar uma história em que a escravidão de negros no sul dos EUA mostrou sua face mais cruel e vergonhosa.

Cora, em sua fuga, conhece muitas pessoas no trajeto desse trem que a leva a diferentes lugares , sempre perseguida implacavelmente pelo caçador de recompensas Ridgeway, interpretado por Joel Edgerton. Ridgeway está sempre acompanhado do fiel escudeiro, o garoto Homer, vivido por Chase Dillon, de apenas 11 anos de idade.

Cora, a mais marcante personagem de “The Underground Railroad” teve em sua intérprete, a atriz sul-africana Thusu Mbedu, uma perfeita tradução. Com um aspecto frágil, Thusu precisa dar credibilidade a uma mulher que junta todas as forças do mundo para prosseguir em sua trajetória em busca da liberdade, carregando o peso do seu passado de sofrimento e traumas. Todo o esplendor visual da minissérie é acentuado por uma magnífica trilha sonora, que é tanto capaz de aguçar os momentos de tensão e angústia com a música criada por Nicholas Britell , como de gerar um momento de respiro romântico e suave, embora melancólico, ao som de “Clair de Lune”, de Debussy. Britell é parceiro de Jenkins também em “Moonlight” e “Se a Rua Beale Falasse”.

Eis aqui, portanto, uma minissérie que veio para ser sucesso imediato, merecidamente. Estamos em maio de 2021, mês do seu lançamento na Amazon Prime, mas já é possível prever que será uma das mais premiadas minisséries do ano. Difícil dizer que virá alguma melhor até dezembro. Barry Jenkins segue firme nesses trilhos que agora nos entrega, para se consolidar como um dos mais requisitados e respeitados diretores da atualidade.

“THE UNDERGROUND RAILROAD – Os Caminhos para a Liberdade” – Minissérie em 10 episódios – Amazon Prime.
Cotação:*****ÓTIMA

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