Spencer: Mais um olhar sobre o drama de Lady Di

Por Farid Zaine
@farid.cultura

Quando Pablo Larraín, cineasta chileno, lançou “Jackie”, sobre um recorte da vida de Jackeline Kennedy, depois Onassis, a curiosidade natural ficou em cima da interpretação de Natalie Portman. Como se sairia ela interpretando uma mulher cuja vida real poderia ser facilmente vista em farto material disponível na internet, em revistas, livros, filmes? Portman deu conta do recado e foi indicada ao Oscar. Agora, com “Spencer”, já em cartaz nos cinemas,  parece se repetir a história, só que a personagem desta vez é uma mulher ainda mais vista, mais registrada, mais fotografada, talvez a mulher mais perseguida de todos os tempos pelas lentes dos fotógrafos e cinegrafistas, a responsável pela popularização do termo “paparazzi”.

Trata-se da Princesa Diana, Lady Di, a que foi considerada protagonista de um conto de fadas real, mas que na verdade viveu, dentro dos castelos dos sonhos do mundo inteiro, dias de profunda tristeza, isolamento, males físicos decorrentes de depressões e ansiedade.

Como em “Jackie”, em que havia a onipresença de Jackeline Kennedy, quem domina o filme completamente em “Spencer”, é a Princesa de Gales, através do irrepreensível trabalho da atriz Kristen Stewart. Pablo Larraín é um grande diretor de atrizes. Mais uma vez seu trabalho que busca obstinadamente a riqueza de detalhes está presente no seu novo longa. E mais uma vez ele usa a liberdade de expressão para extrair de acontecimentos reais as brechas para os voos de sua imaginação criativa. 

“Spencer” não é a biografia de Diana. Trata-se de uma ilustração dramática de um Natal com a família real, em três dias de celebrações na propriedade de Sandringham, em Norfolk, bem próximo ao local de nascimento de Diana. Esses três dias teriam sido particularmente difíceis para a princesa, com o casamento em crise pelas traições escancaradas do Príncipe Charles com a mulher que amava verdadeiramente e com quem passou a viver depois do divórcio, Camila Parker Bowles.

Diana sofria com os “esquecimentos” do marido, que chegou a presentear as duas com idênticos colares de pérolas. O colar, aliás, carrega uma simbologia bem explorada pelo diretor. Bom lembrar que Spencer era o nome de solteira da princesa.
Kristen Stewart tem sua grande chance como atriz em “Spencer”. Ela ficou mundialmente conhecida pela saga juvenil “Crepúsculo”, em que fez par romântico com Robert Pattinson. Os dois evoluiram muito na carreira, abandonando de vez a imagem marcada pela cinessérie de sucesso popular. 

Stewart já fez inúmeros papéis dramáticos que consolidaram sua postura de atriz competente e de grandes recursos. Fez par com Juliette Binoche em “Acima das Nuvens”, dirigido pelo respeitado Olivier Assayas em 2015, e logo depois, em 2016, filmou “Café Society”, sob o comando de Woody Allen. Ao chegar  à protagonista de  “Spencer”, a jovem atriz já havia trabalhado muito, com  um currículo bem construído de filmes aprovados pela crítica.

“Spencer” nos envolve no estranho e fascinante universo da família real britânica, com sua imagem cuidadosamente montada para a manutenção das tradições, mesmo as aparentemente mais tolas e engraçadas, como também escancara os dramas familiares de quem precisa estar dentro dessa “prisão de comportamentos vigiados”.

Com uma trilha sonora permanentemente presente, acentuando a tensão crescente vivida por Diana,  e uma fotografia que reflete o frio do inverno cinzento no Natal de 1991, o filme de Larraín às vezes distrai o espectador, que fica mesmo sempre hipnotizado é com a presença de Kristen Stewart. Vale também, contudo, destacar a participação de Sally Hawkins, de “A Forma da Água”, como a surpreendente camareira Maggie, e a presença magnética de Stella Gonet como a Rainha Elizabeth II. 

“Spencer” é um drama bem-vindo nesta temporada de premiações, e o nome de Kristen Stewart aparece com força nas apostas pelo menos para uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz. Será a hora e a vez da jovem estrela? Se for, o minucioso estudo que ela fez, sendo americana, para compor a figura inglesa universalmente conhecida da Princesa de Gales, terá valido a pena.

Spencer – (EUA, 2021 – Dirigido pelo chileno Pablo Larraín) – Em cartaz nos cinemas.
Cotação: ****MUITO BOM

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