O Beco do Pesadelo: As almas perdidas de Guillermo del Toro

por Farid Zaine
@farid.cultura

“Nitghtmare Alley” é uma história fascinante contada no romance de William Lindsay Gresham, publicado em 1946, e  que logo em 1947 chamou a atenção do diretor Edmond Goulding. Nascia assim o filme noir “O Beco das Almas Perdidas”, com Tyrone Power, Joan Blondell, Coleen Gray e Helen Walker. O clássico agora é revisitado pelo olhar de Guillermo del Toro, logo após seu enorme sucesso  “A Forma da Água”, Oscar de Melhor Filme e Melhor Diretor em 2018. O filme é uma das apostas para a temporada de premiações de 2022, e por aqui foi lançado com o título original, isto é, “O Beco do Pesadelo”.

Del Toro conseguiu extrair o melhor deste que é considerado um dos grandes exemplos  do gênero que ficou conhecido como “filme noir”, e que deu muitas obras-primas ao cinema.

A nova versão de “Nightmare Alley” acentua o lado sombrio das personagens, com del Toro mais uma vez mostrando que o terror e a monstruosidade sempre estão, na verdade, dentro dos próprios seres humanos. Foi assim em “A Forma da Água”, com a estranha criatura mantida num laboratório experimental do Governo, que desperta o amor de uma mulher, e neste novo longa sequer existe um ser fisicamente diferente, a deformidade estando no caráter de cada um. Quem são os verdadeiros monstros ?, parece questionar del Toro o tempo todo.

“O Beco do Pesadelo” narra a história de Stanton Carslile (Bradley Cooper), que chega a uma espécie de parque de diversões cheio de atrações bizarras, após fugir de algo pesado em seu passado. Ali ele é logo empregado por Clem (Willem Dafoe), um homem bem sinistro, como ajudante geral, depois como parceiro de Zeena (Toni Collette), uma vidente esposa de um mentalista experiente, Pete (David Strathairn). Aproximando-se da bela e delicada Molly (Rooney Mara), após desenvolver um produtivo aprendizado com Pete, Stanton e ela partem para uma bem-sucedida carreira em casas noturnas de Nova Tork. Logo , porém, a ambição o leva a conceber um plano perigoso com a ajuda de uma misteriosa psiquiatra, a Dra. Lilith (Cate Blanchett). O decorrer da história trará revelações sombrias e grandes reviravoltas.

Del Toro é exímio construtor de visuais de impacto. Não é diferente com “O Beco do Pesadelo”, com sua fotografia belíssima e sua direção de arte magnífica, onde os ambientes são carregados com cores fortes contrastadas com permanentes sombras e penumbras, o que contribui substancialmente para o crescente clima de tensão e suspense que perpassa por todo o longa.

Bradley Cooper dá grande credibilidade a Stanton, o homem que carrega o peso dos seus segredos, contrastando com a suavidade que Rooney Mara entrega a Molly. Com sua costumeira competência, roubando as cenas em que aparece, está uma deslumbrante Cate Blancett, a própria encarnação das figuras femininas misteriosas que fizeram a marca do filme noir. É muito bem-vinda também a participação de Mary Steenburgen,  num papel pequeno mas muito significativo, responsável por uma das cenas de maior impacto.

“O Beco do Pesadelo” deve ser lembrado no Oscar 2022, talvez até como Melhor Filme e Melhor Direção,  e categorias técnicas como Melhor Desenho de Produção (Direção de Arte), Maquiagem e Fotografia. Neste ano, contudo, a concorrência está bem pesada em todas essas categorias.

Criador de “O Labirinto do Fauno”, Guillermo del Toro entrega, com “O Beco do Pesadelo” , sua obra onde se vê mais claramente um exemplo de  filme noir. Envolvidos nesse intrincado novelo de mistérios, segredos, trapaças, crimes e paixões, compreendemos mais a busca do diretor por colocar luzes sobre as almas perdidas que ele garimpa em histórias extraordinárias.

O Beco do Pesadelo (Nightmare Alley, EUA, 2021 – em cartaz nos cinemas)

Cotação: *****ÓTIMO

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