A Tragédia de Macbeth: um clássico reinventado por Joel Coen

Por Farid Zaine 
@farid.cultura 

A tragédia “Macbeth”, de Shakespeare, sempre rendeu bons momentos ao cinema, assim como toda a obra do dramaturgo inglês, uma das maiores expressões artísticas de todos os tempos. Muitas versões de “Macbeth” trouxeram para a tela grande o olhar de diretores diferentes, com leituras diferentes sobre o clássico texto, há séculos encenado no mundo inteiro e em todas as línguas.  

“Macbeth” teve versões com gente famosa por trás das câmeras e pela frente delas: Orson Welles dirigiu uma versão em 1948; em 1957, Akira Kurosawa concebeu “Trono Manchado de Sangue”, Roman Polanski teve sua versão filmada em 1971, Sean Connery foi  Macbeth em um telefilme de 1961. E por aí vai. 

Era com uma grande interrogação aguardada a versão de Joel Coen para “Macbeth”, principalmente pelo fato de o diretor fazer o trabalho sozinho, sem a companhia de seu irmão, Ethan, com o qual estabeleceu uma das mais longevas e produtivas parcerias do cinema. Eis que chega ao streaming neste janeiro de 2022, via AppleTV+, o longa “A Tragédia de Macbeth”, desde já ganhando os maiores elogios da crítica internacional. 

Em “A Tragédia de Macbeth”, Joel Coen conseguiu tanto manter intacto o espírito da obra de Shakespeare, como deu ao público a oportunidade de mergulhar num clássico tão conhecido, como se estivéssemos diante de algo completamente novo. Assim é o longa de Coen: o visual é arrebatador, com sua fotografia em preto e branco e seus cenários suntuosos. Temos a rara experiência de ver um filme baseado em uma peça de teatro, sem que deixemos de experimentar, ao mesmo tempo, as duas linguagens.  

“A Tragédia de Macbteth” impressiona pela beleza das imagens de um cenário geométrico, anguloso, que nos introduz a uma imensa encenação teatral, ao mesmo tempo em que vemos uma obra cinematográfica completa, com um roteiro preciso , figurinos que dialogam com o cenário, direção de arte como um espetáculo à parte. A trilha sonora é outro elemento fundamental, a conduzir a emoção e acentuar o suspense de uma história de assassinatos, paixões, luta pelo poder a qualquer custo, ambições desmedidas e o retorno inexorável das sombras da culpa às mentes dos criminosos. 

Nenhuma concepção visual perfeita, contudo, daria ao filme de Coen o status de obra-prima, não fosse pelas soberbas interpretações de Denzel Washington, como Lord Macbeth, e de Frances McDormand como Lady Macbeth. A dupla de protagonistas encarou o desafio de interpretar personagens icônicas e amplamente conhecidas, dando a elas uma roupagem nova e rigorosamente estudada.  

Pela primeira vez os papéis do casal são entregues a um ator e uma atriz com mais de 60 anos. Os dois, Washington e McDormand, coroam suas carreiras vitoriosas com atuações memoráveis que apenas confirmam seus celebrados talentos. Vencedores do Oscar (ele já com dois e ela com 3), eles voltam às listas dos críticos e às bolsas de apostas como prováveis indicados em suas categorias na edição de 2022 do Prêmio da Academia. Toda a filmografia desses dois grandes nomes do cinema americano merece ser revista. Assim será melhor para aproveitar a maturidade artística deles nesse filme tão significativo. Será também importante observar a ousadia do diretor Joel Coen, nesse trabalho solo tão intenso, o primeiro sem o apoio do irmão. 

A TRAGÉDIA DE MACBETH – (EUA, 2021 – direção de Joel Coen – Disponível na AppleTV+) 

Cotação: *****ÓTIMO 

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