Quem quer viver para sempre?

por Fernando Bryan Frizzarin

Num primeiro momento essa pergunta parecer ter resposta fácil e óbvia: todo mundo quer viver para sempre. Mas eu suspeito que não seja bem assim. Bem, eu não quero! Explico.

Imagine que seja possível que ninguém mais morra a partir e algum momento. Esse seria o início do ponto final do planeta, ou porque ficaria cheio de gente ou porque não teríamos mais filhos, justamente para que o mundo não fique, insustentavelmente, cheio de gente.

Lógico que os efeitos e complicações (e facilidades também) são inúmeros e nem a mais completa tese sobre o assunto poderia descrever todos, mas partindo dessa imagem de fim pelo excesso ou fim pela falta, me parece que o problema mais latente é permanecermos na mesmice monótona de sempre querermos a mesma coisa, que já é consolidada e bem-sucedida, já que é comum ouvir-se que “na minha época é que era bom!”. Agora imagina se essa época nunca mais passar!

Biologicamente, dado meus parcos conhecimentos nessa área, pelo menos, não vejo luz no final do túnel para a imortalidade. Muito pelo contrário, por causa da mortalidade logo veremos justamente a luz no final do túnel.

Mas tecnologicamente vejo que alguns de nós, seres humanos, não mais morreremos. Explico de novo.

Com o uso da tecnologia da inteligência artificial já é possível reproduzir vídeos de pessoas que já morreram há muito, a partir de vídeos antigos ou fotografias do rosto e de corpo inteiro. Já é possível, por exemplo, deixar atores consagrados, com a idade avançada, mais jovens para mantê-los vivos em personagens de filmes rentáveis.

Um exemplo prático que é possível vivenciar disso é ir assistir o último filme do Indiana Jones, ou a peça publicitária em que Maria Rita canta com sua mãe, Elis Regina, já falecida a um tempão.

E por falar em cantora, é possível, a partir do aprendizado de máquina e algoritmos de inteligência artificial, fazer com que a máquina aprenda a reproduzir a voz de um cantor, a partir de gravações pretéritas, para que o artista, mesmo já morto, possa cantar nova composições e até fazer parte de bandas atuais.

Há um exemplo prático para isso também: Paul MacCartney anunciou, em junho deste ano, que irá gravar uma nova canção com seu ex-companheiro de Beatles, John Lennon, utilizando técnicas de inteligência artificial. Mas o pioneiro mesmo foi o rapper Tupac, ressuscitado para continuar em turnês usando holografia.

A possibilidade de não morrer mais me deixa um pouco preocupado por vários motivos. Imagine a rentabilidade de manter-se um ator de muito sucesso sempre jovem, de ter um excelente cantor na ativa para todo o sempre. Pense nos novos atores ou cantores que não encontrarão um caminho para suas carreiras e para o sucesso, pois aquele nicho estará para sempre ocupado pela mesma pessoa.

Agora imagine o absurdo de ensinar para uma inteligência artificial todo o conhecimento, filosofia de vida e ideologias de um político, que por mais genial que possa ter sido, acabará por não querer mais sair do poder e irá se tornar um ditador virtual.

E não pense que é absurdo ou que está longe. A tecnologia e esse tipo de ideia de uso andam a galope, tanto que a atriz Whoopi Goldberg, atualmente com 67 anos de idade, já deixou em seu testamento instruções para proibir que seja ressuscitada por holografia ou inteligência artificial. “Se você quer se lembrar de mim, lembre-se de mim”, disse ela.

Digo o mesmo. Leia o que escrevo, converse comigo, me mande mensagens, assista minhas aulas, vá a minhas palestras, pois depois de bater as botas, deverá restar apenas lembranças e, quem sabe, bons legados. Não devo estar mais por aí e, com alguma sorte, alguém continuará o que comecei.

Fernando Bryan Frizzarin é professor, escritor, inventor, é Gerente do Suporte Técnico da BluePex Cybersecurity S/A, Diretor Técnico e Operacional na Fábrica de Inovação de Limeira e professor do ensino superior nas FATECs Araras e Americana, SP. Formado em Ciência da Computação, Especialista em Redes, Psicopedagogo e MBA em Gestão Estratégica da Tecnologia da Informação. Autor, coautor ou participante de vários livros na área de computação e literatura. Depositário de patente, marca e de diversos registros de programas de computador como autor ou coautor em cooperação com colegas de trabalho ou alunos. Membro imortal da Academia Mundial de Letras da Humanidade sucursal Limeira, SP. Foi laureado com o Diploma Pérola Byington da Câmara Municipal de Santa Bárbara d’Oeste e Professor Universitário Inovador da Câmara Municipal de Limeira.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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