O cenário político e outras questões

Por João Geraldo Lopes Gonçalves

Lula x Bolsonaro e o “Centrão” dá as cartas

Na semana passada, vários institutos de pesquisa de opinião publicaram seus trabalhos. Basicamente, a pergunta principal diz respeito sobre o desempenho do governo Lula nestes quase doze meses de mandato. Segundo os analistas de diversos órgãos de comunicação, após a tentativa de golpe patrocinada pela extrema direita em 8 de janeiro último, os índices de aprovação e reprovação continuam os mesmos.

O Datafolha, para ficar neste exemplo, aponta que 38% da população aprova a administração federal atual e 30% se diz contrária e os que consideram o governo lulista regular ficaram também na casa dos 30%.

Aqui um parêntese: a escolha pelo regular sempre ficou sem muita explicação. Alguns afirmam que esta opção se refere ao mais ou menos, ou agrada em algumas questões, mas deixa desejar em outras. Outros defendem ser a saída para os “muristas”, que pagam para ver, e que formam a massa de indecisos e não comprometidos. Fecha o parêntese.

Analisando o Datafolha que fez sua quarta pesquisa neste ano, há uma polarização clara entre dois projetos: Os que aprovam tendem a ser de esquerda ou simpáticos e progressistas, e os que reprovam, partidários do bolsonarismo derrotado nas eleições.

Esta uma explicação simples, ainda sem muito aprofundamento, pois o aspecto ideológico de tendências ainda é algo muito distante da população. As escolhas são mais como já disse: simpatia e satisfação com algo que o governo fez e contentou o cidadão.

Mas não dá para descartar a polarização que coloca entre os extremos a direita e seu golpismo e a esquerda representada por Lula. Há um índice que a mesma pesquisa aponta que pode colocar em xeque os números acima.

A satisfação de morar no Brasil subiu da última pesquisa de 59% para 74%. Já o orgulho de ser brasileiro dá um salto de 77% pra 83%. Aqui um outro parêntese: ter orgulho pode ser entendido com um sentido ufanista, patriota ou nacionalista.

Mas o resultado, embora o jornal não declare ter relação com o desempenho do governo federal, aponta melhora na economia, diminuição do desemprego. Ora, dona Datafolha, os motivos elencados por vocês necessitam da política para apontar mudanças, seja para o bem ou para mal.

Mas retornemos à polarização. Desde a redemocratização, até 2018, o Brasil sempre preferiu o chamado Centro Político, ou o centro direito, para governar. Tancredo/Sarney, os dois mandatos FHC I e II e, se forçar a barra, Michel Temer, tiveram lampejos de centrista.

Podemos dizer que Lula 2 e Dilma também se voltaram em alguns momentos de pender para o centro. Mas o Centro político se desmancha e derrete com a ascensão da extrema direita. Em alguns casos, o Centro se confundia com o bolsonarismo, em puro oportunismo e confusão ideológica.

Hoje, o centro direita, ou a direita, fica a reboque do bolsonarismo e das esquerdas. E quem domina e tenta cercar e amarrar o governo são o Centrão e sua conjunção de balaios de gato, que agem conforme interesses de grupos e de sobrevivência política.  

A derrubada dos vetos, a desoneração da folha de pagamento, tirando recursos das aposentadorias e pensões dos trabalhadores, e a tentativa de extermínio das populações indígenas com o estabelecimento do Marco Temporal, aliados às chantagens para cargos e recursos, nos faz concluir que o Centrão dá as cartas no Brasil a partir do Congresso Nacional. 

Os movimentos sociais não podem assistir de camarote as estripulias da turba direitista. Aguardemos os próximos capítulos.

Eu choro por ti, Argentina

A frase acima foi adaptada da celebre declaração de Eva Perón, uma das mais importantes figuras políticas da Argentina. “Não Chores por mim Argentina” é frase de Eva. Mas peço desculpas a este ícone para dizer que não há como não chorar pelos Hermanos, nossos vizinhos.

Assim que tomou posse, Javier Milei já porta o esdrúxulo e o terror. O esdrúxulo começa em alterar o bastão ou cetro, um objeto tradicional, que é passado do Presidente que deixa o governo para seu sucessor. Alberto Fernandez, ao entregar o bastão a Milei, chama a atenção de todos, para a estampa do referido. Javier Milei mandou esculpir o rosto de seus quatro cachorros, animais que ele já disse preferir e amar, talvez até que mais do que o ser humano.

Um parêntese: defendo os direitos dos animais, mas chega a ser absurdo esta obsessão pelos animais e seu descaso com o País.

Já de cara, Milei enterra as taxas de juros e seu controle, um passo importante para a melagomania de fechar o Banco Central. Decretou o fim dos controles de preços de mercadorias, inclusive para o consumidor comum. A medida logo provocou uma remarcação doida no mercado e uma corrida desenfreada das pessoas para adquirir produtos não remarcados.

Alem disto, extingue ministérios das áreas sociais, secretarias, e anuncia demissão em massa na administração federal. Redução de subsídios e recursos às províncias (Estados), redução de recursos para energia e transporte e suspensão de todas as obras públicas.

A conclusão do massacre é que a recessão, já em curso com uma inflação na casa dos 140%, puxa um arrocho de salários, que vai provocar o caos socioeconômico na Argentina.

Lá, ao contrário daqui, os movimentos organizados já estão nas ruas, protestando contra os desmandos de Javier Milei. Esta semana, o presidente de extremo direita ídolo de Bolsonaro, anunciou que usará as forças armadas para reprimir os protestos que só crescem na Argentina.

Alguns especialistas já apontam que o País caminha para uma Ditadura. Mas lá tem resistência e muita história de lutas.

E viva o SUS

Não é segredo para aqueles que acompanham nossos escritos neste Diário de Justiça e nas redes sociais, que fui do céu e voltei para terra. Adoeci a alguns meses atrás e quase fui à morte. Mas o Sistema Único de Saúde e a Santa Casa de Misericórdia de Limeira salvaram minha vida.

Todo o tratamento, para combater uma infecção bacteriológica, até a cirurgia e 67 dias de internação, foram realizados graças aos SUS.

A Ditadura Militar destruiu todo o nosso sistema de saúde, que já era precário e sucumbiu a imensidão de problemas e doenças crônicas, ocasionadas pelo regime de exceção. Os mais antigos devem se lembrar do INPS, que na época cuidava da saúde e das aposentadorias.

Era uma labuta. Faltavam médicos, equipamentos, quase não tínhamos unidades de atendimento e muito menos especializada. Nos anos 80, com as lutas de movimentos populares de saúde oriundos da resistência a Ditadura, surge a ideia de um sistema único e universal. Organizar em um único plano, todos os serviços de saúde, desde o básico, preventivo, ao especializado.

E mais que isto, que ele fosse universal, ou seja, que todos, negros, brancos, amarelos, pobres e ricos podem e devem ter acesso. Um sistema sem discriminação e com recursos para financiar as atividades.

Surge o SUS. O Sistema tem vários problemas, quase tocos de gestão, pois sendo uma rede ele depende da administração não só do Governo Federal, mas de Estados e Municípios. Às vezes a corda da rede dá uma enfraquecida. Mas o SUS é único, não há no mundo nada parecido com o nosso.

Esta semana, o megamilionário Bill Gates, fundador da Microsoft, fez elogios rasgados ao SUS. Transcrevo abaixo algumas declarações escritas nas redes sociais de Bill:

“O resto do mundo tem a aprender com o sistema adotado pelo Brasil e com os investimentos realizados nele…”

“Eles são creditados com o corte de mortalidade infantil e empurrando cobertura de imunização a níveis quase universais”.

“Isso não quer dizer que qualquer país possa ou deva replicar exatamente a abordagem do Brasil, uma vez que não existem dois países iguais. Mas com a combinação certa de investimento e inovação, o Brasil fez grandes progressos para se tornar um lugar mais saudável para o seu povo. Se o país continuar nesse caminho e continuar fazendo o que já fez bem, e se outros países seguirem – ou simplesmente traçarem seus próprios caminhos com o Brasil em mente – também teremos um mundo mais saudável”.

Um poeminha

Para terminar, uns versinhos mal escritos para vocês:

“Deus nos dará, prosperidade e vida eterna, diz o poeta.
Mas se a gente não for à luta, o bicho come, diz outro poeta.
Mas Deus é Brasileiro, diz Belchior em um de seus versos.

Sim, no entanto, brasileiro não pode desistir nunca, diz a frase.
Às vezes a fé nos pede: “Pai, afasta de mim este cálice”.
A dor faz o tempo parar e o espaço ficar reduzido.

Porém tem que sacudir a poeira e dar a volta por cima.
Isso não quer dizer que qualquer país possa ou deva replicar exatamente a abordagem do Brasil, uma vez que não existem dois países iguais.

Mas com a combinação certa de investimento e inovação, o Brasil fez grandes progressos para se tornar um lugar mais saudável para o seu povo.

Se o país continuar nesse caminho e continuar fazendo o que já fez bem, e se outros países seguirem – ou simplesmente traçarem seus próprios caminhos com o Brasil em mente – também teremos um mundo mais saudável.

Aliás, gente tem que brilhar e não morrer de fome, não é, Caetano?”

Um bom final de semana a todas e a todos.

João Geraldo Lopes Gonçalves, o Janjão, é escritor e consultor político e cultural.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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