Futebol e Política – Parte 2

Por João Geraldo Lopes Gonçalves

“Para os intelectuais de esquerda, o futebol impede que o povo pense. Para os de direita, prova que pensa com os pés. Que é um negócio” – Eduardo Galeano.

Bom que se diga que o esporte, para sobreviver e cada vez mais poder gerar emprego e renda, deve, sim, se profissionalizar e é, sim, um negócio como outro qualquer.

No entanto, não se pode incorrer no erro de achar que o futebol em especial é apenas meio para se ganhar dinheiro, se esquecendo do poderio do mesmo em inserir as pessoas na sociedade através da prática e da paixão pelo esporte.

Os amigos economistas e bons de cálculos, podem perfeitamente serem mais precisos que este escriba. Mas uma partida de futebol, reunindo equipes grandes, movimenta diversos mercados e economias: transporte, alimentação, vestuário, publicidade, comunicação e outros. Me refiro a uma peleja no momento em que ela é jogada. Agora, imaginem o dia a dia do esporte.

Os motivos para o Brasil sediar a Copa América, no momento mais cruel da Covid-19 são três. Vamos a eles:

Econômico. A Confederação Brasileira abocanhará com o evento mais de 400 milhões de reais, mais dindin de patrocinadores;
O presidente afastado da CBF, Rogério Caboclo, denunciado por prática de assédio sexual e moral, tentou mudar o foco para abafar os escândalos;
O presidente Jair Bolsonaro pressionado pela CPI da Covid-19 e pelas pesquisas eleitorais, tenta dar o circo, já que o pão (e a vida), ele vem tirando.

Não há motivo plausível para se sediar um evento tão sem utilidade como este.

Não é eliminatório para a Copa, não significa nenhuma data ou importância histórica, como por exemplo a Eurocopa, que se realiza como plano de retomada de eventos, após a paralisia da pandemia. Na Europa e países onde mais de 70% da população foi vacinada, inclusive atletas.

Na América do Sul, o contrário é verdadeiro. Não chegamos sequer 40% de imunizados. O atraso proeminente e boicote declarado e a incompetência do governo federal, nos leva a ter o bom senso de não aceitar aglomerações e aventuras como estas.

Até o meio desta semana já eram mais de 52 pessoas entre atletas e comissão técnica, contaminados com o vírus. O caso da Venezuela é o mais proeminente. O treinador teve que convocar quinze novos jogadores, pois não tinha time para colocar em campo.

Era isto que esperávamos dos jogadores da seleção e dos cartolas brasileiros, mas a decepção com Tite e seus comandados foi grande pelo País afora. O argumento de que não cabe a eles opinarem em certos assuntos é deplorável e lamentável.

Ao contrário de várias seleções na Eurocopa, que os atletas têm protestado contra o racismo no esporte e na vida, aqui parece que as atitudes e reações só acontecem quando aperta o umbigo.

A interferência de Bolsonaro nos assuntos futebolísticos, não é nova no esporte. Quem estudar a ditadura com profundidade vai ver que esquemas governamentais com cartolas de clubes de Futebol, foram constantes naquela época, desde a demissão de técnicos por sua posição política, até perseguição e tortura de Jogadores contrários a ditadura.

Esta semana,u ma luz no fundo do túnel parece que começa a se acender.

Dezenove clubes da Série A do futebol brasileiro apresentaram à CBF um manifesto onde anunciam que vão organizar uma Liga independente da Confederação e Federações para realizar o campeonato nacional.

A luz ainda não significa que Cartolas dos Times estejam se rebelando contra a corrupção que há anos se instalou no sistema federativo no Brasil afora, ou se apenas faz parte de interesses meramente econômicos, bem como relações políticas do dando que se recebe.

Mas pode ser o começo.

Vamos aguardar não é mesmo?

Por João Geraldo Lopes Gonçalves, Janjão, é escritor, consultor político e cultural.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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