Breves apontamentos de cenário

Por João Geraldo Lopes Gonçalves

O Parlamento é cúmplice do crime?

Pesquisa de opinião sobre credibilidade das instituições públicas e privadas junto a população sempre trouxe resultados desastrosos para o Congresso Nacional. A mais famosa casa de leis, local onde na teoria os representantes do povo eleitos pelo voto popular, fazem a defesa de seus anseios e reivindicações, aparece em inúmeros apontamentos com percentuais abaixo de 30%, perde disparado para as religiões, a primeira do ranking.

O fundo de verdade para esta impopularidade tem diversas razões. A primeira, o distanciamento de parlamentares não só dos interesses reais de seus eleitos, como a distância física. Segundo, comportamentos que, na maioria das vezes, contrariam o que demonstrou em uma eleição. Terceiro, sucessivos escândalos de corrupção envolvendo deputados e senadores. Quarto, ligações nada republicanas com setores legais ou ilegais da sociedade.

Este quadro medonho só aterra o perfil ideal de um parlamentar. O comprometimento com pautas sociais e políticas relevantes para a população, posturas éticas e total transparência nas atitudes e ações, é o mínimo que se pensa para um “representante” do povo.

O que vimos esta semana no plenário da Câmara dos Deputados foi assombroso. O Supremo Tribunal Federal decretou a prisão preventiva do deputado Chiquinho Brazão. O parlamentar carioca foi preso junto com seu irmão Domingos e o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro.

Os três são acusados de serem os mandantes das mortes da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Pedro Gomes, ambos alvejados por Ronnie Lessa e outros, contratados para isto no dia 14 de março de 2018. O crime, longe de ser passional ou de vingança, como boatos se espalham na época, foi motivado por razões fundiárias.

Os dois irmãos, e com certeza outros, cumprem o papel de especular terras de forma ilegal e clandestina. Tudo leva crer que Marielle se aproximava de desmascarar o esquema de uma máfia fundiária. Chiquinho, por ser parlamentar, tem o benefício do foro privilegiado. Somente a Câmara de Deputados pode autorizar ou não que ele continuasse preso. Para isto, o Plenário da Casa é que decide.

E para surpresa de nós, mortais, os deuses de Brasília (ou seriam outra coisa?), tiveram 129 deles que votaram sem nenhuma vergonha por permitir a liberdade de Chiquinho, contra os outros 277 pela manutenção. E é bom considerar que 106 outros deputados não votaram e, claro, sequer justificaram os motivos.

O colunista do portal UOL Josias de Souza, indignado com este quadro, escreveu que, se você somar os votos contrários com os ausentes, dá um total de 271. Este número mostra que mais da metade da casa que devia ser do povo, votou ou se omitiu, sobre um dos maiores crimes de nossa história. Esta realidade nos coloca em uma sinuca de bico, em uma encruzilhada de desacreditar ainda mais nas instituições.

Este ano temos eleições para Prefeituras e Câmaras Municipais. É preciso ter clareza do voto, estudar o candidato, não dá para acreditar na casca preparada por marqueteiro. No caso que analisamos acima, metade da Câmara de Deputados escolheu o crime organizado, e não a população.

Trágico.

Musk e a sua liberdade de expressão

Para quem viveu em uma ditadura militar civil, onde direitos básicos como o de expressar-se livremente era motivo de pau de arara, exílio e morte, o que o homem mais rico do planeta vem dizendo nas últimas semanas sobre liberdade de expressão cheira, no mínimo, esquisito.

Elon Musk, dono do Tesla e da Plataforma X (Twitter), vira e mexe prepara novidades para abalar soberanias de um Estado e de uma sociedade. No princípio de seu império, se colocava com meio democrata, meio republicano. Chegou a se considerar um socialista, não que distribui riquezas de forma justa, mas que, segundo ele, cria condições por meio das tecnologias, para que isto ocorra.

Mas até hoje seus produtos não apresentaram nem um traço capaz de mudar, como diz o autor de “Homo Deus”, Yuval Harrari. A humanidade tem três problemas graves, aos quais luta incessantemente para erradicá-los. A Fome, as Guerras e as doenças crônicas.

Segundo Yuval as tecnologias, em especial a Inteligência Artificial, podem cumprir este papel. Mas para isto é preciso democratizar informações, colocar à disposição os achados extraordinários a serviço de todos. Mas o próprio autor desconfiava daqueles que são “donos” desta tecnologia, se seus interesses são mesmo o bem da humanidade.

O lucro move os capitalistas, detentores dos meios de produção, já diria o velho Marx. Musk tem provado que fala muito e faz quase nada. Mas seu patrimônio pessoal cresce à velocidade da luz. Com a compra do agora X, o empresário amigo de Donald Trump e de repúblicas nada saudáveis, como a Hungria, Elon Musk vem produzindo cizânia e reforçando o discurso da extrema direita.

O conceito do sul-africano, naturalizado americano de liberdade de expressão, é o festival de fake news, barbaridades antidemocráticas e ataques a diversidade e outros. Pensa e defende Musk que, nas redes, tudo é liberado e as plataformas não devem cumprir legislação dos países e permitir a sangria do Estado Democrático de Direito.

Mas ele teve pela frente o ministro Alexandre de Moraes, que o obriga a retirar do ar os ataques sucessivos a cidadania e a soberania do Brasil. Pensamos um pouco sobre o assunto e pontuamos algumas razões para os ataques de Elon Musk:

  1. Lucro, quem paga mais tem prioridades, não importa se é golpista e racista;
  2. Estes movimentos já foram feitos nos Estados Unidos e alçaram Trump ao poder;
  3. Não há dúvida de que há conexão do empresário com o Bolsonarismo.
  4. Os ataques acontecem exatamente quando a Polícia Federal fecha o cerco sobre Jair, o inelegível.
  5. A polêmica de cortes nos dividendos dos acionistas estrangeiros da Petrobras, entre eles muitos americanos;
  6. A descoberta de novas jazidas de petróleo em solo brasileiro arregalou os olhos do grande K.

Estes eventos contribuíram em muito para uma trama para criar um clima internacional de desagrado ao Governo Brasileiro. Golpes começam com conspirações como essa, vinda, inclusive, de veículos de comunicação.

Meu mundo e nada mais

O título acima é de uma canção do extraordinário Guilherme Arantes, um grande sucesso dos anos 70. Confesso que sei pouco e venho tentando compreender mais o Autismo. O TEA (Transtorno do Aspecto Autista) tem crescido assustadoramente no mundo todo, inclusive no Brasil. Razões ainda muitas delas desconhecidas.

No Brasil, segundo o podcast AZmina, há um apagão de dados sobre o assunto e muito das referências vem de outros Países, nem sempre confiáveis e fora de nossa realidade. A doença que retira a pessoa da realidade cotidiana, a colocando em uma bolha, é um sofrimento para muitas famílias brasileiras.

Sem informações mais detalhadas sobre o assunto, campo especializado seja na medicina, seja na psicologia, há relatos medonhos sobre o comportamento da sociedade em relação ao autista. Preconceitos e exclusão são comuns a esta comunidade.

Não há políticas públicas eficazes tanto na área da saúde e da educação, capazes de busca solução à questão. De acordo com o podcast citado aqui, empresas brasileiras como Genial Care e outras realizaram uma pesquisa com 2.247 pessoas com TEA e familiares. Dos entrevistados, 13% são autistas. Destes, 65% declararam gênero feminino, 46% manifestaram que trabalham, 33% têm entre 24 e 33 anos e, desta fatia, 24% cuidam de uma criança ou adolescente com este diagnóstico. 68% dos que cuidam são mulheres e afirmam não ter tempo para descanso. 36% das cuidadoras se sentem culpadas pela condição do autista.

O estudo, um dos únicos no Brasil, carece de maiores informações, como estratificação de classes sociais e renda, bem como a questão racial e outras. O Dia Mundial de Conscientização do Autismo foi no dia 2 de Abril, vi políticos de Limeira fazendo declarações de preocupação com o assunto, mas sem apresentar soluções plausíveis.

Penso que assuntos como estes devem ser debatidos com mais seriedade.

Dica cultural

Estes dias, Ziraldo, o menino maluquinho, foi fazer companhia ao seu amigo Henfil lá no céu. Confesso que, quando jovem, era mais o porra louca do Henfil, embora amasse Ziraldo. Henfil e suas tiras iam de encontro a nossa alma revolucionária e maluca para adolescentes e jovens, filhos infelizmente do golpe militar.

A Plataforma da Disney Plus lançou um curta metragem fantástico, “Voltando a Ler a Graúna”, de um pouco mais de 59 minutos. A graúna era um dos personagens da turma da caatinga: negra, mulher e nordestina. A história de resistência e luta contra o regime dos generais estão todos lá.

Fica a dica.

Um bom final de semana a todas e todos.

João Geraldo Lopes Gonçalves, o Janjão, é escritor e consultor político e cultural.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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