A Serpente de Essex

por Farid Zaine
@farid.cultura

“A Serpente de Essex” , minissérie que entrou em cartaz na Apple+, mistura muitos assuntos para costurar uma história interessante. A princípio pode parecer que estamos diante de uma daquelas séries de suspense e terror, quando a procura por um monstro marinho é o tema principal, e veremos cenas violentas de ataques desse monstro a uma população assustada e indefesa.

A proposta chega , já no primeiro episódio, tentando criar essa expectativa, mas não fica claro o que realmente se quer mostrar. O suspense e o mistério existem, mas um conjunto de narrativas entrelaçadas direciona a atenção do espectador para vários pontos distintos, sendo os focos principais a ciência e a religião.

Enquanto um padre esclarecido tenta convencer seu rebanho de que a tal serpente não existe e seria produto do medo das pessoas e de sua sensação de culpa, uma viúva estudante de paleontologia surge no vilarejo cheia de teorias sobre “fósseis vivos”, o que explicaria a eventual existência de uma criatura estranha e assustadora, principalmente por guardar características de animais pré-históricos que deveriam estar extintos.

“A Serpente de Essex” , além da história do padre Will Ransome e da viúva Cora Seaborne, vividos por Tom Hiddlestom e Claire Dane, tem foco também na carreira do ousado cardiologista Luke Garrett, interpretado por Frank Dillane. As experiências do jovem e exibicionista médico servem para mostrar um tempo em que operar um coração era considerado algo impossível de concretizar. Nessa faixa do enredo, entra também a luta da socialista Martha (Hailey Squire), que procura meios de instituir uma política de igualdade social ainda inexistente , quando um imigrante indiano e sua irmã vivem em condições precárias, e ele se torna o primeiro paciente a sofrer uma arriscada cirurgia cardíaca. Martha é amiga de Cora e babá de seu filho.

O casamento de Cora é também um dos pontos explorados no roteiro: ela era infeliz e sofria violência doméstica, tendo sido um alívio a morte do marido abusivo que deixava nela marcas de verdadeiras e cruéis torturas.

A chegada de Cora e seu filho Francis, de 11 anos, à aldeia de Aldwinter , provoca reações diversas. De pronto ela faz amizade com o Padre Will, e ambos estabelecem uma relação de amizade , que vai se aprofundando, enquanto discutem seus pontos de vista que passam pela religião e pela ciência.

Os moradores da aldeia permanecem conectados à crença da existência da Serpente de Essex, ser que habitou os pântanos do lugar e que teria sede por vidas humanas. Acontecimentos envolvendo os habitantes locais acentuam o medo e a superstição, ao mesmo tempo em que Cora busca, nos seus estudos, explicações científicas para o caso. É inevitável que tais acontecimentos trágicos sejam atribuídos pelos habitantes à presença de Cora.

Claire Danes , intérprete de Cora, agora uma atriz madura, ficou conhecida como a Julieta da versão de Baz Luhrman para a tragédia “Romeu e Julieta”, de Shakespeare, quando ela fez par com Leonardo DiCaprio, que interpretou Romeu. O filme fez muito sucesso na época, 1997. Já Tom Hiddleston, marcado como o Loki de “Thor – Ragnarock” e outros filmes da Marvel, tem aqui um papel bem diferente.

“A Serpente de Essex” , cujos episódios são disponibilizados às sextas-feiras na plataforma Apple+, tem belo tratamento visual , com figurinos e direção de arte apropriados à produção de época, já que a história se passa em 1893. O clima de terror e suspense é mantido pelas imagens sombrias de um lugar por si só assustador, com seus pântanos e névoas realçados pela competente fotografia.

A minissérie tem 6 episódios e seu roteiro é adaptado da obra homônima de Sarah Perry, lançada em 2016.

A Serpente de Essex – Minissérie em 6 episódios – Apple+
Cotação: ***BOM

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