História: Economia e a Industrialização – VI

Por João Geraldo Lopes Gonçalves

“A vida de minha família começa agora ao pisar nesta terra nova”  (Frase de um migrante paranaense ao chegar em Limeira, nos anos 70)

O cenário é da Estação Ferroviária de Limeira, interior de São Paulo, em meados dos anos 70 do século passado. Homens bem vestidos, alguns com terno, esperavam na plataforma os trens que vinham de outras localidades do Estado de São Paulo.

Ao lado deles, donos de hotéis ou funcionários também estavam no local. Os trens começam a chegar e, ao descer, nos deparamos, com famílias inteiras, com suas enormes malas e sacos contendo roupas e outros objetos pessoais.

Ao descerem, os passageiros são abordados pelos elegantes homens que se apresentam, dizendo ser agentes de empresas da cidade que estão contratando mão de obra para indústria. Mal tinham chegado, as famílias se surpreendem com a notícia e o progenitor se coloca à frente e faz algumas perguntas.

A primeira: onde iam ficar dormir, tomar banho, comer? Os agentes logo apresentam os donos ou gerentes de hotéis, devidamente reservados para receber as famílias. Quanto ao trabalho, no dia seguinte os agentes levariam os adultos que podiam pegar na lida às empresas contratantes.

Esta cena que descrevemos aqui tem um pouco de ficção, mas o ápice da migração de brasileiros de muitos locais ao interior de São Paulo, bem como a capital, ocorreu assim.

As estradas de ferro traziam as famílias, motivadas por notícias na imprensa dos lugares onde moravam ou boca a boca e, com a fé e a coragem, vendiam tudo o que tinham e viajavam até as cidades desejadas. A propaganda era tanta que ao olhar para a penúria e pobreza em que viviam não havia outro jeito, senão ir à terra prometida.

Limeira nos anos 60 e 70 teria sua segunda revolução industrial. As portas abertas em 1959, pelo governo federal, a empresas de capital estrangeiro fizeram surgir inúmeros parques industriais por todo canto de São Paulo e de nossa cidade.

A maioria dos trabalhadores vinha de Minas Gerais, Paraná e do próprio interior do Estado, sem qualificação ou conhecimento industrial. A roça e o campo sempre foram o sustento da maioria destas famílias, que agora deixavam a enxada e iam operar máquinas nas grandes empresas do sul maravilha.

Aos poucos, loteamentos e residências populares, advindos de financiamentos públicos, foram o destino de moradia destas famílias, que iram formar as periferias da cidade, a classe C no aspecto econômico.

Limeira, apesar de alguns insistirem, nunca foi uma ilha. Aqui o que acontecia e acontece é fruto de uma conjuntura nacional e mundial. Assim, para chegar ao quadro contado acima, muito água rolou pela História.

Vamos contar um pouco dela.

A estrada de ferro e a expansão industrial

Um dos grandes debates no Segundo Império e que acelerou a queda da Monarquia Brasileira foi a industrialização da nação. A maior potência mundial, naqueles tempos era a Inglaterra, que exigia o fim da escravidão e a abertura econômica para Países estrangeiros.

O símbolo desta política eram as estradas de ferro. Elas significavam romper e devastar sertões e rincões por este Brasil, levando o desenvolvimento junto com as ferrovias. No início, matéria prima era importada, claro, da Inglaterra e países aliados; depois, pequenas fabricas foram montadas para produzir material para as estradas.

As ferrovias vão, no primeiro momento, reaquecer o mercado de exportações, como no caso da cafeicultura em Limeira. Até então naquele século XIX, a economia girava em torno da produção de café e do mercado de escravos negros. Com a Abolição da escravatura acontecendo, cidades como Limeira viviam exclusivamente do cultivo do café e, com as estradas de ferro, foi possível a política de exportação.

Em 1876, é inaugurada a estação e estrada de Ferro em Limeira e com ela a cidade vai mudar. Com a expansão da cafeicultura, os donos de fazendas resolvem investir em políticas industriais até para facilitar o aumento de seus rendimentos e, com isto, diminuir custos com importação.

Em nossa cidade esta expansão coincidiu ou não, com a imigração europeia, instalação de luz elétrica, do serviço telefônico.

A primeira indústria que se tem notícia foi a de Chapéus em 1906, que deu origem a toda poderosa Companhia Prada, hoje sede do Executivo limeirense. E assim a industrialização vai surgindo em nossa cidade.

Mas o estouro mesmo vem com as Machinas São Paulo.

Limeira: do desenvolvimento a incógnita

No início da primeira década deste século XXI, o Partido dos Trabalhadores possuía uma sede na Rua Santa Terezinha, próximo ao antigo Zoológico, hoje Bosque Maria Tereza de Barros Camargo.

Curioso foi pesquisar sobre o local e descobrimos que ali foram construídas casas de propriedade da Machinas São Paulo. Estas casas eram cedidas aos trabalhadores de uma das maiores empresas da cidade e do País.

Dr. Trajano Barros de Camargo vem de uma família de produtores de café, e herda, entre os anos 15 e 20 do século passado, as fazendas de seu pai. Logo constrói uma máquina de moer café e com seu sucesso começa a fabricá-la em longa escala. Daí surgi uma das epopeias de nossa História.

A Machinas São Paulo será uma potência de sua época na fabricação de aparelhos agrícolas. Com o tempo, se tornou autossuficiente, fabricando sua matéria prima, economizando na importação.

Duas lendas se repetem ao longo dos anos sobre a empresa: a primeira que, na Segunda Guerra Mundial, o fato da fábrica ser tão autossuficiente, armamentos bélicos foram produzidos e fornecidos aos dois lados do conflito.

A segunda lenda é que a empresa vem à falência em 1962, fruto de negligência gerencial, que daria no surgimento de outras empresas de funcionários da MSP.

O fato é que, com a ferrovia e a própria Machinas São Paulo, Limeira vai presenciar uma expansão industrial que terá seu auge entre as décadas de 50 e 70 do século XX.

Três fatores serão determinantes para a industrialização: a mão de obra barata, vinda de outros estados, em decorrência do êxodo rural; o boom da produção de laranja facilita instalação de empresas de sucos e derivados da fruta e, por último, a abertura a montadora de automóveis que geraram várias empresas de autopeças.

Este quadro sobrevive até o início dos anos 90, quando a quebradeira começa.

A ausência de políticas públicas

Não há dúvida de que a crise de industrialização no Brasil atingiu Limeira. Inúmeras empresas fecharam suas portas ou diminuíram em muito as ofertas de emprego. Exemplo disto são dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que apontam que, em 2023, tivemos apenas 1.472 novas vagas, contra 4.801 em 2022. Isto aponta 64% de redução de postos de trabalho.

Outra situação que preocupa é que setores industriais enxugaram suas plantas ou deixaram de existir. Segmentos como o de folheados vivem uma situação de regulamentação de empresas de fundo de quintal, prejudicando o emprego formal, o de carteira assinada. O que se nota é que a ausência de políticas públicas só agrava a situação.

É responsabilidade do poder municipal, o Executivo em especial, a elaboração de um plano de aquecimento da indústria, com o intuito de gerar emprego e renda.

O retorno de políticas sociais como o Minha Casa, Minha Vida, seria uma proposta para o objetivo de combate ao desemprego e o incentivo à indústria.

Uma política de primeiro emprego é urgente, bem como buscar ampliar nosso parque tecnológico e educacional (onde estão as Faculdades de Medicina e Tecnologia?).

Iniciativas paliativas, como temos vistos capitaneadas por alguns Vereadores, são validas, mas não se sustentam e tiram do Poder Executivo suas responsabilidades.

Com a nova Política de Industrialização do Governo Lula, penso que os governos devam aproveitar e estabelecer objetivos e metas neste sentido. A industrialização é um caminho para restabelecer a produção e buscar o desenvolvimento.

Mas este é assunto para o próximo texto da série.

Dica cultural

A Câmara Municipal de Limeira promove, no próximo dia 6 de março, uma palestra com a filósofa, escritora e acadêmica Djamila Ribeiro. Com vários livros publicados, o tema de igualdade feminina e racial faz parte de suas pesquisas.

Ela abordará o tema “A Mulher Contemporânea e suas Conquistas”. Será no dia 6 próximo, às 19h, no Teatro Vitória em Limeira.

A todas e a todos, um feliz final de semana.

João Geraldo Lopes Gonçalves, o Janjão, é escritor e consultor político e cultural.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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