Emergência Hídrica em Limeira

por Marciél Gorrido Jr.
Nesta semana, como publicou o Diário de Justiça, a Prefeitura de Limeira decretou emergência hídrica. O decreto autoriza, dentre outras medidas, o rodízio de abastecimento quando necessário e estabelece normas a serem seguidas para se evitar o colapso no abastecimento, como a proibição de lavar calçadas e veículos com uso contínuo de água.

Limeira possui duas fontes de captação: o Rio Jaguari e o Ribeirão do Pinhal, mas não possuímos um reservatório (represa) robusto que nos possibilite passar o período de seca com tranquilidade. O Ribeirão do Pinhal possui algumas represas particulares, mas nenhuma delas é destinada especificamente para atender o abastecimento de água urbano. Como medida emergencial, utiliza-se a represa da Pequena Central Hidrelétrica Salto do Lobo.

É no Rio Jaguari que está o nosso principal problema da atualidade. Antes de chegar em Limeira e formar o Rio Piracicaba ao se juntar com o Rio Atibaia, o Rio Jaguari alimenta a maior represa do Sistema Cantareira, que abastece a região metropolitana de São Paulo. De Bragança Paulista, onde se situa a represa, até Limeira, o Rio Jaguari abastece mais algumas cidades.

O Sistema Cantareira também passa por um período de baixa. Com isso é liberado para o Rio Jaguari o mínimo estabelecido pela Agência Nacional de Águas (ANA) que é de 2,00 metros cúbicos por segundo. Mas até chegar em Limeira outras captações prejudicam este volume e hoje (29 de setembro de 2021) a vazão em Limeira está abaixo de 1 metro cúbico por segundo, prejudicando a captação.

Enquanto passamos por esta situação, a região metropolitana de São Paulo retira do Sistema Cantareira cerca de 27 metros cúbicos por segundo de água. Após utilização, este volume é devolvido em forma de esgoto (tratado ou não) ao Rio Tietê. Um verdadeiro desfalque ao nosso município e região!

O regime de chuvas tem mudado nos últimos anos. O efeito La Ninã, que é o resfriamento das águas do Oceano Pacífico, está atuando pelo terceiro ano consecutivo. Ele afeta o regime normal de ventos e a evaporação das águas dos mares, diminuindo os volumes de chuvas nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul do Brasil. 

Além disso, o desmatamento desenfreado na região amazônica também contribui para a diminuição das chuvas. Funciona assim: no processo de fotossíntese as árvores liberam vapor d’água, formando nuvens. O vento predominante na Amazônia empurra essas nuvens em direção à Cordilheira dos Andes. Ao baterem na Cordilheira, as nuvens são desviadas para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. Com menos árvores na Amazônia, a evaporação diminui e, consequentemente, os volumes de chuva também.

Todos esses processos não são facilmente modificados a curto prazo. Mesmo que zerasse o desmatamento e fosse feita a recomposição das florestas, levaria anos para as árvores crescerem e voltar a emitir vapor d’água. Por isso, a principal forma de amenizar a crise é economizando água.

Voltando a Limeira, apesar de termos duas fontes de captação, elas são de água corrente. Dependemos da afluência destas duas fontes. Sem um reservatório robusto e sem água nos rios, corremos o risco de ficarmos, de uma hora para outra, sem água.

Por isso não adianta fazer racionamento preventivo em Limeira. Pela captação ser em água corrente e não em reservatório, racionamento preventivo não adianta. A Prefeitura e a Concessionária BRK Ambiental agiram corretamente em não decretar emergência hídrica antes. Entretanto, chegou o momento de o poder público pensar no longo prazo e investir na construção de uma represa robusta, dedicada exclusivamente ao abastecimento de água do município.

Ao que tudo indica a escassez de água veio para ficar e não podemos mais contar com os recursos que tínhamos até aqui. Assim como nos anos de 1970 construímos um sistema de captação moderno, pensado para as próximas gerações, é preciso dar mais um passo de vanguarda e construímos esse reservatório.

Marciél Gorrido Jr. é engenheiro Civil, especialista em Infraestrutura Urbana.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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