Cinema: os destaques de 2023

Por Farid Zaine
@farid.cultura

1. OPPENHEIMER – O drama biográfico “Oppenheimer” é uma produção requintada, com fotografia, som, direção de arte, trilha sonora e edição espetaculares, e já pode ser vista como uma potencial receptora de indicações ao Oscar 2024. A história do físico J.Robert Oppenheimer gera enorme interesse. Afinal, foi ele o grande responsável por todos os estudos, testes, coordenação de uma enorme equipe por muito tempo em Los Alamos, no Projeto Manhattan, até que se chegasse à produção do “artefato de guerra” mais assustador da história da humanidade, a bomba atômica. Quem não deseja conhecer a vida de um homem que é o centro desse fato científico e político de potencial devastador para o mundo? Pois Chistopher Nolan, o diretor, atendeu às expectativas e construiu um filme interessante e instigante do começo ao fim, como se fosse um longa ficcional de angustiante suspense. Um filme obrigatório!

2. ASSASSINOS DA LUA DAS FLORES – Martin Socorsese novamente entrega um filme com mais de três horas de duração. Em “Assassinos da Lua das Flores”, nenhum minuto é desperdiçado. O espectador é envolvido na primeira cena e fica preso à história até à surpreendente, original e bela sequência final, quando o próprio diretor aparece em cena.

As interpretações de Leonardo DiCaprio e Robert De Niro são espetaculares, e até aí nenhuma surpresa. O que temos de novidade, e muito bem-vinda, é a atuação de Lily Gladstone, soberba como a índia Mollie. Gladstone tem uma presença absolutamente fundamental no longa, e cada fala sua, cada olhar, cada sorriso ou lágrima são construídos de forma a revelar o imenso talento dessa jovem e promissora atriz. Como sempre também, a presença de Jesse Plemons no elenco é garantia de mais uma interpretação magnífica pelo extraordinário ator de “Ataque dos Cães”.

3. MAESTRO – Bradley Cooper é o regente desse belo concerto que ele concebeu para se tornar o filme que revela Leonard Bernstein. O criador de peças eruditas, o regente de memoráveis concertos, o autor das músicas de grandes musicais, incluindo um dos maiores de todos os tempos, “Amor, Sublime Amor” (West Side Story), tem o livro de sua vida aberto ao mundo. É uma leitura que o público faz com deleite, curiosidade, admiração e respeito, mergulhado numa trilha sonora que fala alto aos ouvidos, corações e mentes. Cooper tem extraordinária performance como Bernstein, acompanhado de Carey Mulligan, como Felicia, a esposa do maestro, em soberba atuação. Os dois são fortes candidatos ao Oscar de Melhor Ator e Melhor Atriz.

4. BARBIE – Fenômeno mundial, “Barbie” encontrou no olhar da diretora e roteirista Greta Gerwig e nos perfeitos protagonistas, Margot Robbie e Ryan Gosling (Barbie e Ken), os elementos cruciais para o sucesso do projeto. Deu tudo certo. O longa é engraçado, discute questões sérias, é embalado numa produção luxuosa, com direção de arte espetacular e trilha sonora muito interessante, com várias canções originais com potencial para o Oscar da categoria. Claro, como tudo o que tem grande visibilidade, também não faltam polêmicas sobre o filme. No ano que passou, ninguém escapou da rósea sedução desse que já é um dos maiores blockbusters de 2023.

5. O CONDE – Em “O Conde”, a imaginação poderosa de Pablo Larraín, diretor de “Jackie”, “Spencer”, “No” e “Neruda”, resolve mergulhar na origem do ditador chileno Augusto Pinochet, que teria nascido há 250 anos, de pais desconhecidos, e cuja mãe conheceremos no ato final do filme. Na juventude, ele seria o soldado Pinoche, que descobre nele mesmo um poder especial, advindo de uma condição muito, muito peculiar: alimentar-se de sangue humano, e mais precisamente, de corações fortes arrancados do peito das vítimas. Sim, aquele que viria gerações mais tarde a pousar no Chile, era um vampiro. O país latino-americano logo se tornou um lugar ideal para que ele ascendesse na carreira militar e política, até se tornar o seu mandatário maior.

Larraín constrói sua narrativa como um filme de terror, com extraordinária fotografia em branco e preto, com lances que remetem ao expressionismo alemão, o mesmo que nos deu o “Nosferatu” de F.W. Murnau em 1922.

6. HOMEM-ARANHA ATRAVÉS DO ARANHAVERSO – Visualmente sensacional, “Homem-Aranha Através do Aranhaverso”, passeia pelos universos paralelos diferentes sempre lhes dando características próprias, o que ajuda a não causar confusão em trama tão complexa. O filme mantém o espírito e a forma das HQs, com seus traços, suas cores e texturas, acrescidas do poder do cinema, transformando tudo em uma aventura veloz e ininterrupta em todos os seus 136 minutos de duração, com efeitos visuais e sonoros de última geração e trilha sonora perfeita.

A moda dos multiversos, que já vinha sendo acentuada por longas anteriores ao lançamento do filme de 2018, e que culminou no campeão do Oscar deste ano, “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”, ganhou novo impulso com “Homem-Aranha Através do Aranhaverso”. Cuidem-se as animações que desejam o Oscar 2024 da categoria, pois já existe um candidato mais do que poderoso para colocar as mãos na estatueta. De novo.

7. CINEMA BRASILEIRO – O cinema brasileiro trouxe como destaques dois excelentes documentários: “Retratos Fantasmas”, de Kleber Mendonça Filho, que representou o Brasil no Oscar, mas não chegou sequer aos semifinalistas, nem entre os candidatos a Melhor Filme Internacional, nem a Documentários. Melhor sorte poderia ter tido “Elis e Tom: Só Tinha de ser com Você”, de Roberto de Oliveira e Jom Tob Azulay, um registro magnífico da produção de um dos mais memoráveis encontros da MPB, Elis Regina e Tom Jobim, quando gravavam, em Los Angeles, em 1974,  o antológico álbum “Elis e Tom”.

Grandes promessas como o britânico “Zona de Interesse”, o francês “Anatomia de Uma Queda” e os americanos “Pobres Criaturas” e “A Cor Púrpura”, o musical, terão estreia no Brasil somente a partir do início de 2024.

Seja 2024 um ano de saúde e prosperidade para todos, com a magia sempre renovada do cinema, mais do que centenário e cada vez mais vigoroso.

Foto: Reprodução

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