MAESTRO: vitória de Bradley Cooper

por Farid Zaine
@farid.cultura

Bradley Cooper já demonstrou o domínio da música no primeiro longa que dirigiu e interpretou, “Nasce Uma Estrala”, quarta versão de uma das mais consagradas histórias do cinema. No caso, ele cantou ao lado de Lady Gaga. Sucesso imediato, o filme recebeu 8 indicações ao Oscar, incluindo as de melhor filme, ator e atriz. A música “Shallow” foi vencedora como melhor canção original. Não é pouco para um ator consagrado, mas um diretor estreante.

Pois acabou de estrear na Netflix, após rápida passagem por algumas salas de cinema, o segundo longa dirigido por Cooper, “Maestro”, sobre a vida de um dos maiores ícones da música erudita e também popular, Leonard Bernstein. Segundo matérias jornalísticas , Cooper teria se dedicado durante 6 anos para chegar à direção do filme e à composição da figura muito conhecida de Bernstein. Tanto o trabalho dele como ator e diretor são muito competentes. É sempre perigoso para um ator interpretar uma figura pública, principalmente quando há uma enorme quantidade de registros dela em todos os meios. Cooper se valeu desse material, debruçou-se sobre ele e, de sua exaustiva pesquisa, surgiu uma interpretação intensa , à altura da vida do biografado. Chegando em dezembro, “Maestro” já entrou na lista dos melhores do ano, e já é forte candidato para indicações em muitas categorias do Oscar 2024.

“Maestro” registra momentos memoráveis da carreira de Leonard Bernstein, como a regência do Concerto Nº 2 de Mahler – Ressurreição, recriado na Catedral de Ely, Inglaterra, onde o concerto foi realizado em 1973. O realce, contudo, é a vida pessoal do maestro, seus amores e seu casamento com Felicia Montealegre, interpretada com milimétrica perfeição por Carey Mulligan. Bernstein era bissexual e Felicia sabia desse detalhe e conviveu com isso, às vezes com leveza de mulher compreensiva, outras carregando um peso de ter que dividi-lo com outros homens.

Mulligan, uma das melhores atrizes de sua geração, é uma das grandes forças do filme de Cooper. Bernstein transitava pelos seus amores com absoluta naturalidade, mesmo num período de grande preconceito contra a homossexualidade, existente até nos meios mais liberais, como os artísticos. Não por acaso, um dos amantes de Bernstein, David Oppenheim, é interpretado por Matt Bomer, astro da minissérie “Companheiros de Viagem”, que relata as dificuldades de levar adiante um romance gay nos anos 1950, principalmente no meio político, abalado pela imposição da “inquisição” instituída pelo macartismo.

“Maestro” é uma obra séria, com requintada produção muito bem pensada e levada a cabo com êxito. A fotografia é um ponto forte: começa em preto e branco, com perfeita alusão aos filmes dos anos 1940 e 1950, em certos momentos lembrando imagens da obra-prima “A Malvada” (All About Eve). A passagem ao colorido dos anos 1950 vem com uma sequência muito significativa de uma fase da vida de Bernstein e Felicia, e aí , acertadamente, a trilha sonora traz o tristíssimo e maravilhoso Adagietto da Sinfonia nª 5 de Mahler, celebrizado em “Morte em Veneza”, de Luchino Visconti. Há um sentido especial nessa passagem, reveladora de muitos aspectos da vida do casal.

Bradley Cooper é o regente desse belo concerto que ele concebeu para se tornar o filme que revela Leonard Bernstein. O criador de peças eruditas, o regente de memoráveis concertos, o autor das músicas de grandes musicais, incluindo um dos maiores de todos os tempos, “Amor, Sublime Amor” (West Side Story), tem o livro de sua vida aberto ao mundo. É uma leitura que o público faz com deleite, curiosidade, admiração e respeito, mergulhado numa trilha sonora que fala alto aos ouvidos, corações e mentes.

MAESTRO – (EUA, 2023) – Longa sobre a vida de Leonard Bernstein, dirigido e estrelado por Bradley Cooper, com Carey Mulligan. Disponível na Netflix.
Cotação: *****ÓTIMO

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