Rustin: mais uma luz sobre a História

por Farid Zaine
@farid.cultur@admin

Muita luz tem sido colocada ultimamente sobre fatos históricos, principalmente sobre períodos que ainda precisam de mais holofotes para que verdades encobertas apareçam. No caso recente da série “Companheiros de Viagem”, uma das melhores do ano, tivemos a chance de, através de um romance entre dois homens nos extremamente conservadores anos 1950 nos EUA, descobrirmos mais absurdos do que apenas a perseguição a supostos comunistas pelo famigerado macartismo. A série nos revela a verdadeira inquisição formada nos bastidores da política americana, que tinha o objetivo de expor a vida íntima de homossexuais e execrar sua condição. A série é um sucesso no Partamount+.

Logo em seguida, mais coisas do gênero estrearam: neste mês de dezembro de 2023, chegou ao streaming, via Netflix , o longa “Rustin”, estrelado por Colman Domingo, desde já um potencial candidato a melhor ator em diversos dos prêmios da temporada, incluindo o Oscar. Aliás, Domingo já está indicado a melhor ator em filme de drama no Globo de Ouro 2024.

É sobejamente conhecido o período dos anos 1950 pelo auge do racismo nos Estados Unidos, e pelo início de um importante e vigoroso movimento para dar fim às normas absurdas vigentes, que legalizavam uma pavorosa discriminação. No fim da década começaram a ficar muito fortes os nomes de líderes de um grande movimento pacífico que sacudia o país, incluindo o do Dr. King, o Pastor Martin Luther King.

No filme “Rustin”, é contada a história do homem que ficou por trás da maior manifestação pacífica de todos os tempos, a chamada “Marcha Sobre Washington”, que levou à capital americana mais de 250.000 pessoas, com resultados históricos para a causa. Bayard Rustin foi o condutor de uma enorme equipe de voluntários que conseguiram organizar a Marcha em poucas semanas.

Rustin era negro e gay, e sofria discriminação até por parte de seus companheiros, por exibir sua homossexualidade com determinação, coragem e naturalidade. Sua resiliência, contudo, fez dele um grande líder, ao lado de Luther King,  que mudaria o curso da história com seu célebre discurso marcado pela frase “eu tenho um sonho”. Rustin preferia agir nos bastidores, para que toda os holofotes ficassem sobre o Dr.King, o que era necessário.

O diretor George C. Wolfe acertou ao contar os detalhes da preparação da Marcha Sobre Washington, ao mesmo tempo em que se debruçou sobre a biografia de Bayard Rustin, assim também revelando um período nebuloso e triste da história americana.

Wolfe já demonstrou seu talento para contar histórias biográficas sem que elas pareçam tediosos documentários. É o caso de “A Voz Suprema do Blues” (Ma Rainey´s Black Bottom), em que ele disseca a vida da cantora de blues Ma Rainey, artista que viria a exercer grande influência sobre futuras divas do jazz e do blues. Wolfe comandou um extraordinário duelo de interpretações entre Viola Davis e Chadwik Boseman, que teve aí seu último trabalho no cinema, pouco antes de sua morte precoce.

“Rustin” entra para o rol de filmes importantes que jogam luz sobre o racismo e sobre a luta sem fim por direitos iguais entre pessoas de todas as raças, credos e orientações sexuais. Além do ótimo Colman Domingo como Bayard Rustin, o longa de Wolfe ainda conta com inspiradas interpretações de Johnny Ramey, como o Pastor Elias, caso de Rustin, Gus Halper como Tom e Chris Rock como Roy Wilkins.

Perto do natal, “Rustin” é uma opção para, mais do que aquecer corações, colocar nas mentes de todos que a paz e a união são possíveis, mesmo sem pegar em armas e derramar sangue.

RUSTIN – filme de 2023 dirigido por George C. Wolfe, com Colman Domingo – disponível na Netflix.

Cotação: **** MUITO BOM

Deixe uma resposta

Your email address will not be published.

error: Conteúdo protegido por direitos autorais.