Bolsonaro chega até 2022?

Por João Geraldo Lopes Gonçalves

Este escriba mantém, desde 2014, uma coluna no perfil do Facebook, com a enigmática frase “Pergunta que Não quer Calar”. A coluna, que é semanal, perguntou nesta semana, após a pesquisa do Instituto Datafolha que aponta a tendência de que 54% da população brasileira defende o impeachment de Jair Bolsonaro, se o internauta acredita que o mesmo pode acontecer antes do pleito eleitoral de 2022.

Os últimos acontecimentos, sobretudo da semana passada, apontam para o agravamento da crise política no interior do governo bolsonarista. Durante as eleições de 2018, Bolsonaro e sua claque repetiam em alto e bom som que não eram corruptos e que combateriam os malfeitos na administração pública a ferro e fogo.

E, assim que venceu, Jair nomeou, como seu ministro da Justiça, o até então elevado à condição de salvador da pátria, o hoje ex-juiz Sergio Moro, chefe da Operação Lava Jato. A cada questionamento de suas atitudes, em especial a defesa do uso da violência, do ataque as mulheres, negros, comunidade LGBTQ+, Bolsonaro respondia com a frase de que não tinha corrupto de estimação.

A bola começa a ficar murcha, com as denúncias de esquema de “rachadinhas” com dinheiro público, envolvendo o gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, o Zero 01, e mais recentemente, o do vereador Carlos, o seu filho Zero 03, bem como o seu mandato quando deputado federal. E Fabricio Queiroz, ex-policial e amigo do peito do pai Jair é o pivô das “contribuições” dos funcionários dos gabinetes da família Bolsonaro. Mas mesmo as “rachadinhas” não ameaçavam a cadeira número um do País no Planalto.

No máximo, poderiam prender Queiroz ou mesmo chamuscar Flavito e Carlito, mas não derrubariam o mandatário. Mas o que o ex-capitão expulso do Exército não esperava era um inimigo cruel, o qual ele por conveniência (ou será ignorância?) negou desde o seu surgimento.

Primeiro, era uma “gripinha”, depois uma conspiração comunista chinesa petê, que queria derrubar o cidadão de bem e a cristandade. Mas como o vírus deu uma banana ao negativista, a contaminação e as mortes foram se multiplicando. Aí vem mais uma fase de sua política de boicotar e criar caso com governadores e prefeitos que buscavam combater a pandemia.

O ponto nevrálgico que fez mais da metade da população concluir que o que acontece no Brasil é um genocídio calculado, planejado, foram as negociações. Primeiro, a ausência delas para compra de vacinas, que, se estivessem disponíveis, na certa não teríamos mais de meio milhão de cadáveres. Depois com muita pressão da sociedade, e de olho nas urnas em 22, corre para comprar os imunizantes e aí que chegamos ao caso Coxavin.

A CPI da Covid-19, que Jair trabalhou para não sair, não se limitou apenas a criar desgastes na imagem presidenciável, com o intuito de lhe tirar votos das urnas eletrônicas no ano que vem. Aliás, este papo de voto impresso, se não passar no Legislativo (e não será aprovado), não passa de balão de ensaio para, neste momento, desviar a curva dos acontecimentos dos escândalos das vacinas superfaturadas, negociadas por alguns militares, parlamentares do Centrão e até um reverendo.

A bandeira da suposta luta contra a corrupção, desmascarada por Moro quando foi demitido por Bolsonaro, cai na vala comum de boa parte dos políticos brasileiros. O bolsonarismo tentou e ainda tenta esconder seus monstrinhos contra Deus e a Pátria, mas parece que os comunistas, que agora não se resumem à imprensa, o Supremo e os vermelhos, descobriram que o santo (que nunca foi) tem pés de barro.

Os comunistas, segundo o Datafolha, são no mínimo 54% da nação, que o consideram, na mesma pesquisa, um despreparado, irresponsável, só para ficar nos adjetivos mais leves. As ruas, desde maio, estão lotando com a bandeira do Fora Bolsonaro. Já existe uma certeza, elas vão impulsionar o futuro.

O Bolsonarismo não é uma galinha morta. Pelo contrário, é uma forma de pensamento que se mantém com 20% de adeptos, e não irá largar o osso facilmente. Mas o fardo de mortos, desempregados, mapa da fome e agora a corrupção já está ficando sem quem possa segurar.

A pergunta ainda fica sem resposta. Mas, se alguém arriscar palpites, escreva nos comentários.

Em tempo: não dá para precisar se a internação do presidente por obstrução intestinal irá alterar o quadro conjuntural acima, mas, a julgar pelas redes sociais do bolsonarismo, a ideia de criar um mártir começou a ser construída. Se dará certo ou não, só os dias dirão.

João Geraldo Lopes Gonçalves, o Janjão, é escritor, consultor político e cultural

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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