Bar Doce Lar: Clooney de novo como diretor

por Farid Zaine
@farid.cultura

Está em cartaz no Amazon Prime o drama americano “Bar Doce Lar” (The Tender Bar), novo filme dirigido por George Clooney. É uma adaptação do livro de memórias do escritor J.R.Moehringer, sobre sua infância e a trajetória até alcançar seu objetivo. Clooney dirigiu filmes bem aceitos pela crítica, como o ótimo “Boa Noite e Boa Sorte”, que rendeu seis indicações ao Oscar 2006, incluindo a de Melhor Diretor, que ele perdeu para o extraordinário trabalho de Ang Lee em “O Segredo de Brokeback Mountain”. Já a ficção científica “O Céu da Meia-Noite” , de 2020, disponível na Netflix, teve recepção morna. 

“Bar Doce Lar” é um filme delicado. Ao acompanhar as  memórias de J.R. Maguire, desenrolam-se dramas familiares, casos de relacionamentos complicados e o mundo dentro do qual se move um menino inteligente, cercado de adultos problemáticos. O grande achado de Clooney para este filme foi o menino Daniel Ranieri, que interpreta J.R. quando criança. O garoto de apenas dez anos é um talento impressionante. Ele cativa o público desde a primeira aparição com uma atuação natural e que deixa transparecer espontaneidade, coisa só conseguida por atores com anos de técnica e experiência. 

Ben Affleck surge na pele do tio de J.R. , Charlie Maguire, dono de um bar chamado Dickens, em homenagem a Charles Dickens, consagrado escritor inglês do qual é grande fã. Affleck está muito bem e foi indicado ao Globo de Ouro como Melhor Ator Coadjuvante, mas perdeu para o novato e brilhante Kodi Smit-McPhee de “Ataque dos Cães”. A personagem de Affleck, o tio Charlie de J.R., foi fundamental para a educação do menino. O bar Dickens recebia os amigos de Charlie, e todos davam alguma contribuição à formação do garoto. 

O cenário do bar é particularmente interessante, pois junta o balcão, as garrafas e os copos a uma quantidade enorme de livros. A orientação para J.R. era que ele lesse todos os livros que estavam ali, tarefa que ele iria desempenhar com prazer, pois adorava ler. O bar existe e funciona ainda hoje em Long Island, mas agora com o nome de Publicans, segundo matéria no Observatório do Cinema.

O drama da vida do menino é a ausência do pai (Max Martini), que ele chama apenas de “A Voz”, porque esse pai ausente tem um programa de rádio. Vivendo com a mãe, Dorothy (Lily Rabe) e tendo um avô ranzinza mas muito afetuoso, J.R. vai construindo sua imagem do universo e amadurecendo seus sentimentos, enquanto prossegue com suas leituras e sua evolução nos estudos. O avô é interpretado por Chrystopher Lloyd, o cientista de “De Volta para o Futuro”, numa aparição muito bem-vinda.

Tye Sheridan, o ator de “Jogador Nº 1”, de Steven Spielberg, faz o J.R. quando jovem, ao terminar o ensino médio e ir para a Faculdade. A fase da juventude, com os amigos que surgem, e a da descoberta do amor, compõem uma parte importante das memórias de Moehringer, ele próprio acompanhando a produção do filme. A primeira paixão de J.R., pela colega Sidney (Briana Middleton), fará com que ele tenha de lidar com sentimentos novos, como o desejo, o despertar do sexo, o ciúme e a decepção. 

“Bar Doce Lar” é uma boa opção para os que desejam encontrar um filme que fale com delicadeza das transformações de uma criança em adulto, dos conflitos familiares onde um pai é ausente, de afetos, sonhos, encontros e descobertas , tudo o que faz valer a pena ficar registrado nas memórias de uma pessoa. Não é o melhor trabalho de George Clooney como diretor, mas dá para curtir numa boa.

Bar Doce Lar (The Tender Bar, USA 2021) – Direção de George Clooney – Disponível no Amazon Prime.
Cotação: ***BOM

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