A polarização e o dilema do centro

Por Leandro Consentino

A última pesquisa da Datafolha demonstrou que, em meio a uma das piores crises da história do Brasil, o cenário eleitoral para 2022 começa a se desenhar de modo a reeditar a polarização da eleição anterior, dividindo o eleitorado entre a direita bolsonarista e a esquerda petista. Com essa configuração, é nítido que o principal perdedor é justamente o centro democrático que, pulverizado entre diversos nomes e ensanduichado entre os dois extremos, enfrenta sérias dificuldades para chegar ao segundo turno e retomar a Presidência da República.

Nesse sentido, a primeira providência para o Centro seria exatamente a união em torno de um projeto comum – calcado em um modelo liberal na política e social-democrata na economia – representado por uma candidatura única que consiga agregar da centro-esquerda que rechaça embarcar no projeto lulista até a centro-direita que evita se juntar ao bloco bolsonarista. Obviamente, essa é uma tarefa bastante complexa – sobretudo em um meio onde os egos são sempre inflados e o diálogo está permanentemente eivado de desconfianças – mas é a condição necessária para o processo.

Além disso, para além do projeto e do nome, é preciso também de uma estratégia clara. Diante da sinalização de que Lula lidera a corrida para o Planalto na pesquisa, cabe às lideranças de centro demonstrarem que são mais capazes de evitarem a retomada do projeto petista, sem aprofundar os arroubos autoritários do bolsonarismo. Dessa maneira, aproveitaria o desgaste atual do governo para derrotá-lo em primeiro turno e, uma vez na segunda volta, contaria com a alta rejeição de Lula e do petismo para vencer.

Naturalmente, é muito mais fácil falar que agir e a realidade da política – que o ex-governador Magalhães Pinto dizia ser como as nuvens – é extremamente mutante. Assim sendo, cabe também aos líderes do bloco estarem preparados para adaptarem-se às mudanças bruscas advindas de um cenário tão conturbado, bem como dinamizar os diálogos com as mais diversas forças políticas que pretendem estar situadas nas corridas estaduais e parlamentares no pleito.

Por fim, é preciso registrar que uma vitória do centro, para além de qualquer consideração ideológica, pode representar a última oportunidade de evitar um esgarçamento do tecido democrático de nosso país que o antagonismo entre as forças populistas, à esquerda e à direita, pode acabar provocando no caso da derrota de um dos dois projetos pelo outro. Precisamos voltar a enaltecer aquilo que nos une e não insistir nas diferenças que nos apartam e 2022, nos duzentos anos de nossa independência, precisamos recuperar nosso verdadeiro sentido de nação.

Leandro Consentino é bacharel em Relações Internacionais pela Universidade de São Paulo (USP), mestre e doutor em Ciência Política pela mesma instituição. Atualmente, é professor de graduação no Insper e de pós-graduação na FESP-SP.

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