Os Senhores da Guerra

Por João Geraldo Lopes Gonçalves

“O senhor da guerra
Não gosta de crianças
O senhor da guerra
Não gosta de crianças”
(Trecho de ‘Canção do Senhor da Guerra’, da Legião Urbana)

O historiador inglês Eric Hobsbawm, em uma de suas últimas obras, deixa um legado que é a trajetória da Era dos Extremos. O século XX, intitulado como o período das extremidades, começa para ele em 1914 e termina em 1989. Este período é definido por três Grandes Guerras: a Primeira, de 14 a 1918; a Segunda, de 1939 a 1945; e a Guerra Fria, de 1948 a 1989.

O século passado começa quando o século anterior terminava gerando revoluções das mais diversas. O século XIX consolida o Capitalismo na Europa, surgido na Revolução Francesa, presencia a ascensão e queda de Napoleão Bonaparte, a segunda revolução Industrial, o fim da escravidão negra, o surgimento dos sindicatos e, talvez a mais importante delas, o marxismo e o conceito de socialismo.

No período seguinte, até o assassinato do arquiduque e herdeiro do reino Austro Húngaro e sua esposa em Sarajevo, o mundo vivia das conseqüências da Era das Revoluções, citada acima. Rússia Czarista, a Alemanha dos impérios, a Itália buscando o socialismo, são exemplos de que as revoluções estavam em curso.

No entanto, após a morte do mandatário Austro Húngaro, agressões de ambas as partes foram tomadas, até que blocos se formaram. De um lado a Alemanha e o Império Austro Húngaro, mais tarde a Bulgária e o Turco Otomano, que se uniram em torno da ideia de dominar territórios, expandir economicamente, tendo como meta um Império Ampliado, conceito que ainda vigorava mesmo com as revoluções em curso.

Do outro lado, uma aliança das Potências Unidas: Rússia, Grã-Bretanha, França e mais tarde os Estados Unidos. O discurso era frear os objetivos dos inimigos, evitarem que a “democracia” sucumbisse ao suposto autoritarismo do bloco Alemão-Austro.

No fundo, ou escancaradamente, a briga era pelo controle do planeta e estabelecer, a partir de potencias bélicas e econômicas, quem o domina.

A Primeira Guerra Mundial foi sangrenta e deixou a Europa falida e destruída. Países se beneficiam deste conflito: os Estados Unidos, com seu arsenal industrial, fabricaram armas para ambos os lados e depois foi agiota na reconstrução europeia. A Rússia, que antes da guerra vivia em ebulição, faz a Revolução Socialista de 1917, aproveitando o desgaste do regime czarista com o conflito bélico. Uma nova era de contraponto surgia: o socialismo.

Estas potências vão dominar durante décadas o mundo, defendendo ideologias distintas, mas jamais abrindo mão do expediente da guerra. A guerra sempre foi e ainda é utilizada não como último recurso, quando a diplomacia fracassa e se esgota, mas como estratégia fundamental de domínio para aqueles blocos.

A Segunda Grande Guerra Mundial vai mostrar, em luta, estas três concepções de mundo. Presenciará os extermínios de, inclusive, judeus pelo Nazismo e vai visualizar a união de americanos e russos contra os alemães.

Com o final da guerra em 1945 e a declaração universal dos Direitos Humanos, vão estabelecer uma nova ordem mundial. Se a Declaração limita o expediente de uma guerra mundial, deixa o mundo dividido em dois blocos: o capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o socialista pela União Soviética. Estava decretada a Guerra Fria.

Diz a lenda que o premier soviético ficava em uma sala com controles de botões. O vermelho detonava armas nucleares voltadas aos Estados Unidos e Aliados. Ainda na lenda, o mesmo acontecia com o presidente americano, cujo botão de detonação era azul. Este clima de tensão foi intitulado de Guerra Fria ou psicológica.

Conflitos localizados foram deflagrados, entre eles a Guerra da Coréia nos anos 50, o Vietnã nos anos 60 e 70, revoluções na América Central, ditaduras como no Brasil e na Argentina, invasão de Granada pelos americanos e do Afeganistão pelos soviéticos. Em todos estes conflitos, as duas potências estiveram envolvidas ora como promotoras, ora como apoio a um dos lados, mas o interesse sempre foi o controle.

E aí chega o ano de 1989 e, com ele, a queda do muro de Berlim.

Um filósofo nipo-americano, Francis Fukuyama, declara em um livro que, com o fim do socialismo no Leste Europeu e a queda das Repúblicas Soviéticas, o capitalismo tinha vencido e chegamos ao fim da história.

Fukuyama foi e é questionado até os dias de hoje. Nenhum sistema que não alcança a felicidade e satisfação do ser humano pode ser considerada consistente e definitiva. O século dos extremos ainda não terminou. Ele ainda germina nestes primeiros vinte anos de século XXI. Os avanços tecnológicos não acompanham o atraso de consciência cidadã das pessoas. As guerras ainda se fazem presentes.

O ódio e a intolerância ao diferente está mais forte que nos anos 40 do século anterior. A fome e a miséria estão em toda parte. Por isto que as Guerras existem: elas fazem parte da estratégia dos donos do mundo: os Senhores da Guerra.

Semana que vem vamos abordar sobre os conflitos deste século, novos blocos e nova ordem mundial.

A todas e todos, um bom final de semana.

João Geraldo Lopes Gonçalves, o Janjão, é escritor e consultor político e cultural.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

Deixe uma resposta

Your email address will not be published.

error: Conteúdo protegido por direitos autorais.