Documentário, um gênero em alta

por Farid Zaine
@farid.cultura

Os documentários ganharam bastante notoriedade no início do ano com os 5 indicados ao Oscar da categoria, um melhor que o outro. Meu favorito, “Professor Polvo”(Netflix), levou a estatueta. A inusitada história de uma “amizade” entre um mergulhador e um polvo (no filme é uma fêmea, tratada sempre por “she”) rendeu um filme incrível, de extraordinária beleza e com grande capacidade de nos remeter a reflexões profundas sobre o relacionamento entre o homem e a natureza.

Mas os outros filmes eram ótimos também. Caso de “Crip Camp: Revolução pela Inclusão” (Netflix), sobre um acampamento de lazer para deficientes, de onde saíram pessoas que depois fariam um movimento extraordinário pela inclusão e contra os preconceitos. A ação dessas pessoas mudou radicalmente a forma de tratamento dos deficientes, e motivou profundas mudanças em todo o mundo, a partir de um célebre movimento iniciado nos EUA.

Outro belo filme é “Time” (Amazon), em que uma mulher luta por mais de 20 anos para tirar o marido da cadeia. As imagens são registros da família durante duas décadas, e todas elas colocadas em preto e branco, dando uma homogeneidade dramática a todo o longa. Vindo da Romênia, o documentário “Collective” causou impacto ao mostrar um caso de corrupção no sistema de saúde daquele país, e levou o filme a ser aclamado e premiado em todo o mundo. Por último, um filme latino-americano figurou entre os finalistas, o chileno “Agente Duplo” (Globoplay), em que um idoso é infiltrado num asilo para investigar um possível caso de maus tratos a um dos hóspedes.

Todos esses filmes são obrigatórios para quem deseja estar em sintonia com o avanço do gênero. No Brasil não é diferente. No cinema ou no streaming podemos encontrar excelentes documentários atuais, lembrando que temos cineastas magníficos que fizeram documentários antológicos, como o caso de José Padilha com “Ônibus 174” (Globoplay), e os vários filmes de Eduardo Coutinho, tendo como exemplo máximo o já clássico “Cabra Marcado para Morrer” (Globoplay).

Nas plataformas, causam interesse as séries sobre o assassinato do menino Evandro, “O Caso Evandro” (Globoplay) e “Elize Matsunaga” (Netflix), sobre a mulher que matou e esquartejou o marido que a traía, o empresário Marcos Matsunaga. No Globoplay encontramos ainda a série “Em Nome de Deus”, sobre João de Deus e o escândalo que escancarou a vida bandida de um dos médiuns mais famosos do mundo, e que colocou a pequena Abadiânia (GO) no cenário internacional. Vale citar outra série excepcional do Globoplay , “Assédio”, que é ficcional, mas inspirada em um caso real que chocou o Brasil, o do médico Roger Abdelmassih.

Neste ano, o filme que representou o Brasil no Oscar para tentar uma vaga entre os 5 finalistas a Melhor Filme, foi um documentário. Trata-se do belíssimo longa que Bárbara Paz dirigiu para contar os últimos dias do cineasta argentino naturalizado brasileiro Hector Babenco, “Babenco: Alguém tem que ouvir o Coração e dizer: Parou”(Google Play e outros). Reunindo, sem qualquer didatismo e com grande carga poética, imagens dos filmes dele e da luta de Babenco pela vida , Paz construiu uma obra de grande beleza e que faz jus à carreira do cineasta, cheia de memoráveis filmes como “O Beijo da Mulher Aranha”, “Brincando nos Campos do Senhor”, “Carandiru”e ,meu favorito, o magnífico “Ironweed”, com Jack Nicholson e Meryl Streep.

Quem acha que ver documentário é um exercício chato, mudará de opinião se assistir ao menos a uma parte dos indicados aqui.

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