por Farid Zaine
@farid.cultura
Recentemente falamos dos filmes libaneses. Vamos garimpar outras preciosidades: Não dá para lembrar de muita coisa ligada ao cinema do Cazaquistão. Em 2008, um filme , “Tulpan”, chamou a atenção, quando representou o país no Oscar. O nome do país ficou popular através da sátira “Borat – O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País do Cazaquistão”, comediante Sacha Baron Cohen. O Cazaquistão não viu com bons olhos seu nome ser tratado como fictício e daquela forma . Mas em 2021, com o segundo filme, “Borat – Fita de Cinema Seguinte”, o Cazaquistão resolveu aproveitar o potencial do longa e passou a usar a expressão “Very Nice”, bordão usado por Borat, como slogan para promover o turismo do país.
Chegou agora à plataforma Belas Artes à La Carte a obra “Um Homem Muito Sombrio”, produzida no Cazaquistão, de onde também não costumam chegar filmes para o streaming. Entre as muitas novidades propostas por essa plataforma, surgem muitas coisas que não são comuns nas outras. Essa produção do Cazaquistão, claro, é uma grande novidade. Sempre é muito bom conhecer linguagens do cinema e da TV de outros países, onde se falam línguas diferentes e onde os costumes e a cultura também são peculiares, e às vezes causam um estranhamento.
“Um Homem Muito Sombrio” é a história de um homem simples, com problemas mentais que o fazem agir como criança, e que é usado para assumir a culpa pelo assassinato de meninos, mortos após violência sexual. Um investigador da polícia local, que é totalmente corrupta, é destacado para fazer um relatório incriminando o inocente, mas passa a ser acompanhado por uma astuta jornalista, que deseja ir fundo na investigação.
A condução do enredo em “Um Homem Muito Sombrio” é diferente do estilo adotado em Hollywood. A produção é modesta, tem um ritmo mais lento, mas fotografia e direção de arte são competentes, assim como o elenco e sua forma também peculiar de interpretação. Vale a pena conhecer, principalmente pela possibilidade de sermos introduzidos a uma cinematografia cujas obras custam a ficar acessíveis por aqui. O filme, que é dirigido por Adilkhan Yerzhanov, estreou no Festival de San Sebastian em 2019, mas surge como minissérie em 3 episódios no Belas Artes.
Vale lembrar aqui um longa importante que representou a Mauritânia no Oscar 2015: um belíssimo e atual filme que colocou o país africano pela primeira vez na disputa do maior prêmio do cinema. Trata-se de uma história baseada em fatos reais, acontecida num povoado chamado TIMBUKTU, também nome do longa, uma pequena e pobre localidade no meio do Saara. Lá chegam extremistas religiosos islâmicos e começam a impor duras regras aos habitantes, uma delas obrigando as mulheres a cobrirem todo o corpo, usando luvas e meias em pleno deserto. Uma delas, vendedora de peixe, fica revoltada, recusa-se a obedecer à norma absurda, e é presa; uma família, reunida para tocar violão e cantar, também é submetida a castigos por se dedicar à música, atividade proibida; o futebol também é proibido, o que gera uma das mais belas e comoventes cenas do longa: meninos jogam uma partida sem bola! “Timbuktu” é um filme obrigatório, que nos remete a um universo que parece saído de uma ficção terrível, mas que existe aqui e agora, no mesmo tempo em que estamos vivendo. Filme de grande impacto, perdeu o Oscar de Melhor Filme Internacional para o também ótimo “Ida”, da Polônia. Dirigido por Abderrahmane Sissako, “Timbuktu” está disponível no Amazon Prime.
Então, para quem deseja pesquisar e curtir obras faladas em outros idiomas, outras culturas e formas de produção, recomendo essa viagem cheia de surpresas aos poucos conhecidos Cazaquistão e Mauritânia.
Um Homem Muito Sombrio – Cazaquistão , 3 episódios disponíveis em Belas Artes à La Carte
Cotação: ***BOM
Timbuktu – filme digirido por Abderrahmane Sissako – representante da Mauritânia no Oscar 2015 – disponível no Amazon Prime
Cotação: *****ÓTIMO
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