Análise de dados em nuvem: os passos da PF contra condenados em Limeira

No último dia 2, a Justiça de Limeira condenou três homens envolvidos com uma associação para o tráfico de entorpecentes que movimentava grande volume de drogas entre o Mato Grosso e a região. O resultado na Justiça é desfecho da “Operação Bragi” (lei mais aqui), atividade realizada pela Polícia Federal, que usou vários recursos autorizados pela Justiça para monitorar os envolvidos, inclusive análise de dados hospedados em nuvem.

Um dos monitorados pela PF foi F.S.F. e ele seria o responsável por organizar transporte de entorpecentes em caminhões. Ele, conforme o Ministério Público, é um dos responsáveis pela carga apreendida em Limeira de 388 quilos de cocaína (leia aqui e veja vídeo do flagrante abaixo). Para isso, ele contava com o auxílio dos outros dois réus: E.G.D. e L.C.S., motoristas de caminhões.

Para descobrir toda a atividade do bando, a PF recorreu à Justiça e obteve autorização para fazer interceptação telefônica e interceptação do fluxo de comunicações de informática. A justificativa, além de amparada por vasto material de investigação, era: “apurar atividades de uma suposta organização criminosa dedicada ao tráfico de drogas atuante na região de Limeira. As diligências indicam que o grupo criminoso estaria realizando o transporte de drogas desde o Mato Grosso, por meio de caminhões e carretas, até a região de Limeira, onde disporia de acesso a empresas para realização do transbordo do material ilícito”, citou na ocasião o delegado Florisvaldo Emílio da Neves.

Após o flagrante em Limeira, houve necessidade de ampliação das investigações e os policiais constataram que as movimentações continuavam e eram intensas, sendo que a Justiça autorizou o monitoramento de correspondências eletrônicas (e-mails), fornecimento do rastreamento das linhas nas ligações recebidas e efetuadas pelas linhas alvos, que poderiam surgir no período de monitoramento, apreensão de dados verificados nos telefones, acesso a contrato feitos pelos investigados com empresas que alugam veículos e, também, aos dados em posse de empresas que fornecem, por exemplo, energia elétrica. A PF também pediu permissão para usar captação ambiental.

Com todo aparato, foi descoberto o modo de agir do bando e também o homicídio de um dos homens monitorados. Tiago Pereira Fernandes era tido pelos policiais como o responsável pelo financiamento ou mobilização do dinheiro necessário para o transporte da cocaína. Ele foi assassinado em Ribeirão Preto quando foi alvejado, no interior de seu veículo, por nove disparos. “Após sua morte, o veículo foi transferido para o seu nome e entregue à viúva. Percebe-se, assim, que a organização criminosa encontra-se em plena atividade, seja com desavenças internas que levaram ao assassinato de um dos integrantes, seja por brigas entre facções rivais, a demonstrar a necessidade da custódia cautelar”, consta na sentença.

DETALHES DO TRÁFICO
Quando acessou informações hospedadas em serviço de nuvem dos investigados, os policiais identificaram, por exemplo, foto de um caminhão usado para o transporte de drogas, pois o mesmo teve passagem por Limeira. Numa das conversas, um dos monitorados cita que tinha um homem que preparava seus telefones e ele tinha dois: um social e outro preparado para camadas de criptografia.

Outra imagem encontrada em nuvem chamou a atenção dos policiais. Tratava-se de uma reprodução de uma tela de sistema de consulta dos dados do semirreboque e a imagem de tela de computador exibindo Cadastro de Identificação Civil em nome de uma pessoa. “Era possível que ele tinha contato com algum servidor público, com acesso a esse tipo de banco de dados”, mencionou a PF.

Nos dados da nuvem de F., havia vários registros de localização, com destaque para o alto volume de presença numa mecânica de Campinas, local possivelmente utilizado para atividades ilícitas. “Em diligência no local, foram avistados veículos estacionados do interior do galpão, além de terem visto três pessoas no local, uma delas com as características de F.. Observou-se que o local aparentemente não presta serviço ao público, o portão permanecendo fechado até em dia útil. Pela quantidade de imagens no local, até do começo do ano, depreende-se que este galpão também seja utilizado pelo grupo criminoso. Também foi identificada a provável residência de F., uma casa com área externa e piscina. No local havia uma carreta, que havia sido avistada no galpão em Limeira. No material em nuvem de F. também foram encontrados registros de documentos dos veículos em nome de L.C.S.”, consta nos autos.

POSSIBILIDADE DE TRANSPORTE EM NAVIO
Numa das conversas monitoradas pela PF, há o relato de possibilidade de transporte de entorpecentes via navio. Para um dos investigados, dessa forma, a carga iria a granel porque poderia se despejada em compartimentos maiores dos navios. “O valor de venda pode chegar a 25 euros, contra 5 no Brasil, valores compatíveis com o praticado nos dois lugares”.

No entanto, para que isso ocorresse, segundo os investigados, seria necessário que o comandante e a tripulação estivessem envolvidos na atividade ilícita e que o embarque fosse feito a cerca de duzentos quilômetros da costa. Posteriormente, eles descartaram essa via.

CONDENAÇÃO
A ação foi analisada pelo juiz Guilherme Lopes Alves Lamas, que condenou todos os réus por associação para o tráfico de drogas. F. também foi condenado, por duas vezes, pelo crime de tráfico. Ele recebeu pena de 18 anos e 8 meses de prisão em regime fechado. E. e L. receberam pena de 4 anos e 3 meses de reclusão, também em regime fechado. Todos podem recorrer, mas não em liberdade.

Ao final da investigação, a PF relatou ter tirado de circulação 572 quilos de cocaína, avaliados em R$ 16,3 milhões, além de quatro veículos pesados, avaliados no total em R$ 644 mil.

Foto: Polícia Federal

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