2021: o ano em que o golpe de estado pediu carona

Por João Geraldo Lopes Gonçalves

Nos anos 80 do século passado, o cinema de Hollywood explode um estilo de filmes que irá cair nas graças das pessoas, lotando as salas de exibição. Tratavam-se de películas, onde um serial killer ou uma máquina como um carro, um fantasma vindo do inferno, chamavam a atenção das bilheterias. Eram filmes que hoje viraram cult e, visto com olhos mais atentos, pode-se catalogar como ruins ou mais ou menos, ou até como foi fazer sucesso, né?

Mas fizeram. O contexto ainda era de guerra fria, mas já com o neoliberalismo e a tese da globalização na boca de governos e economistas do chamado mercado.

Guerras ainda davam impacto e mexiam com lucros exorbitantes as nações. Mas já não era mais necessário invadir países que, teoricamente, ameaçavam a paz mundial.

Um novo planejamento econômico estava em curso, com a ideia sendo proliferada aos quatro cantos do mundo: o Estado Mínimo e o domínio do grande capital sobre os meios de produção. Acumular para não distribuir era a lógica. E, para quem reclamava, o discurso da incompetência estava na ponta da língua. E salve, salve a meritocracia.

E o cinema com os filmes de catástrofes, heróis mercenários como Rambo, serial killer como o do filme “A morte pede carona”, só existiam porque a humanidade não fazia a sua parte, a lição de casa.

Ter acessibilidade e inclusão não era para qualquer um. O estado tinha que deixar de ser “papaizão” e fazer os pobres fazerem jus a saúde pública, educação, emprego, salário e comida na mesa. Senão a Morte pedia carona e matava por pura falta de competência das pessoas.

Mas o neoliberalismo fez água e regimes e governos populares quebraram a concepção do Estado Zero para os pobres.

Bolsonaro e sua turma de fascistas são neoliberais, da escola mais tradicional e estúpida do mundo, os “Chicago Boys”, amigos e colaboradores da extrema direita no mundo e de ditaduras como a do Chile de Pinochet. Até 2020, o miliciano tinha a companhia de Donald Trump. Já este ano, sem o chefe, Bolsonaro ficou meio perdido, mas acirrou sua ideia de sabotar o Brasil.

Desde sua posse, o ex-capitão não sossega o facho, tem ideia fixa em destruir conquistas de décadas, rasgando direitos trabalhistas e previdenciários. A morte para o ocupante do palácio do Planalto é sua companheira. Desde o primeiro decreto liberando armas para todos, o País aumentou o arsenal de armas de fogo e chacinas e assassinatos de pobres, negros, LGBTQ+ e outros cresceram assustadoramente.

A morte sempre pede carona ao Bolsonarismo. Tentou sabotar o isolamento social, acelerou as mortes por Covid-19, quando se recusou a comprar vacinas e estimulou aglomerações e o não uso de mascaras. Alias, a carona para a morte quebra um dos discursos de sua turma: ele não faz nada, mas não é corrupto.

Mentira das grandes: a CPI da Covid-19 prova o favorecimento do governo a empresa, hospitais e laboratórios, com participação direta do presidente. As motociatas e o ato golpista de 7 de setembro último foram responsáveis por torrar em palanques eleitorais mais de 5 milhões de reais só este ano. A morte com Bolsonaro não anda em fusquinha. Vem de jet ski ou a jato, com nos famigerados atos golpistas do dia da Independência.

A morte no Bolsonarismo é programa de governo. Seu chefe, Jair, não esconde este propósito. Na pandemia, afirmou “o que são idosos morrerem, né?” e depois, diante do genocídio, justifica que “todo mundo morre um dia, Taokey?”.

Mas os mortos do Bolsonarismo não são os que andam de moto nas manifestações golpistas ou nas lanchas e praias em que Bolsonaro prolongou suas férias, exatamente para gerar mais mortes. Os baianos, em função das chuvas, estão literalmente de baixo d’água e o governo nada faz.

A morte é tão presente no Governo Bolsonaro que suas aparições públicas, mesmo com textos para serem lidos, passam a impressão de ser um anúncio de luto. A morte não pode ser um tema de discurso. A morte deve ser prolongada, e cabe ao Estado Democrático de Direito garantir que as pessoas vivam o máximo que possam.

Na primeira década deste século até a metade da segunda, a expectativa era de 77 anos. Com a morte nas pautas do Bolsonarismo, com a fome, o bang-bang em função das armas de fogo e a ausência de programas de distribuição de renda, não temos dúvida de que a expectativa será bem menor.

Assim, nosso desejo para 2022, é que a morte saia dos noticiários como algo provocado por um governo que deveria proteger seu povo, e não o maltratar.

É o nosso desejo. No mais, até o ano que vem, se possível vivos.

FELIZ ANO NOVO A TODAS E TODOS.

João Geraldo Lopes Gonçalves, o Janjão, é escritor e consultor político e cultural

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