Qual o Brasil que queremos deixar para nossos filhos?

por Amilton Augusto
Há cerca de 3 anos uma reportagem dizia que “ser ‘patriota’ nunca esteve tão na moda no Brasil” e, em via transversa, nesse ano, por ocasião das comemorações do 7 de setembro, foi divulgada uma pesquisa que afirmava que a maioria dizia “ter mais vergonha do que orgulho de ser brasileiro”¹, vergonha que, na verdade, está muito atrelada ao momento atual que o País atravessa, seja no campo esportivo, social, econômico, mas, muito em especial, em relação ao campo político-governamental.

Por certo que o orgulho do brasileiro sempre guardou relação com os ídolos do esporte e as belezas naturais do povo e dessa terra tão abençoada, afinal, sempre foi motivo de orgulho de todo cidadão brasileiro vestir uma camisa verde e amarela e sair pelo Mundo causando inveja em todos aqueles que tinham que assistir do outro lado da torcida nomes como Pelé, Garrincha, Romário, Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho.

Ah! Quanto orgulho de ser brasileiro!

Quem não se lembra da Seleção do treta e, depois, pentacampeã mundial de futebol?! Quem não se lembra das meninas do volley, da seleção de Bernardinho?! Quem não se lembra do volley masculino, campeão mundial e olímpico?! Quem não se lembra da seleção campeã mundial de futsal e o gigante Falcão?! Quem não se lembra da seleção campeã mundial de futebol de areia?! E quem poderia esquecer do verdadeiro mito nacional, Ayrton Senna da Silva?!

Eram muitos os motivos que nos faziam encher o peito e dizer, para todo o Mundo ouvir, “eu sou brasileiro”, incluindo o fato de sermos o único no Mundo a termos: a maior floresta urbana; a maior floresta, a Amazônia; sermos um dos maiores produtores de petróleo; termos o povo mais acolhedor; as mulheres mais bonitas; a maior costa marítima; sermos o povo mais criativo; as maiores belezas naturais; a cidade maravilhosa; o Carnaval; as praias mais bonitas; e, além de tudo isso, por tantas bênçãos, termos a absoluta certeza de que Deus é brasileiro.

No entanto, há alguns anos que o brasileiro perdeu todo esse orgulho e prazer de ser quem realmente é. Muitos creditam tal fato a perda de qualidade da seleção brasileira, principalmente após a derrota para a Alemanha, por 7 x 1, na semifinal da Copa do Mundo de 2014, que foi certamente um balde de água fria na confiança do povo tão aficionado pelo futebol.

Fato é que, embora esse fosse um fator muito impactante da relação do brasileiro com o verde e amarelo, com as manifestações de rua, pós processo do Mensalão e Lava-Jato, contrários as cores do partido que estava no poder, o vermelho do PT, inflados pelo impeachment da ex-Presidente Dilma, o verde e amarelo foi, de certa forma, absorvido por aqueles que buscavam o poder nas eleições de 2018 e que hoje são os atuais governantes, movimento que fez com que, diante de todas as mazelas que atravessamos e pela repercussão negativa da política econômica e governamental, em especial a política externa, o brasileiro deixasse de se reconhecer como um cidadão verde e amarelo.

Esse movimento que encampou as cores da bandeira nacional fez com que grande parte da população passasse a se sentir incomodadas por utilizar tais cores, pelo simples fato de haver uma comparação ou, ainda, uma espécie de aprovação, pelo que atualmente acontece ao nosso País, transformando o que antes era motivo de orgulho em uma verdadeira vergonha nacional. O verde e amarelo virou sinônimo de um pequeno grupo que contradiz o verdadeiro significado de ser brasileiro.

Diante desse cenário, por tudo o que somos enquanto povo e nação, pela certeza de que as instituições são muito superiores a qualquer pessoa e que o Brasil é verdadeiramente do seu povo brasileiro, sem contar o fato de que persiste por certo, ainda que lá no fundo, o orgulho máximo de sermos cidadãos dessa terra tão abençoada, de um povo tão heroico, acolhedor e tão amistoso, por toda a grandeza pessoal, social e natural que nos cerca, é que precisamos refletir e olharmos adiante com o coração pulsante e a esperança de que dias melhores virão, mas sempre com a consciência crítica e questionadora sobre qual o Brasil que queremos.

Afinal, não é por menos que… “Gigante pela própria natureza / És belo, és forte, impávido colosso / E o teu futuro espelha essa grandeza / Terra adorada / Entre outras mil / És tu, Brasil / Ó Pátria amada! / Dos filhos deste solo és mãe gentil / Pátria amada / Brasil!”.

QUE VENHA 2022!


¹ https://www1.folha.uol.com.br/paineldoleitor/2021/09/voce-sente-orgulho-de-ser-brasileiro-participe-de-interacao-da-folha.shtml

Amilton Augusto é advogado especialista em Direito Eleitoral e Administrativo. Vice-Presidente da Comissão de Relacionamento com a ALESP da OAB/SP. Membro julgador do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB/RJ. Membro fundador da ABRADEP – Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (2015). Membro fundador e Diretor Jurídico do Instituto Política Viva. Membro do Conselho Consultivo das Escolas SESI e SENAI (CIESP/FIESP). Membro do Departamento de Assuntos Regionais da FIESP – DEPAR/FIESP. Conselheiro da Associação dos Municípios do Estado de São Paulo – AMESP. Coautor da obra coletiva Direito Eleitoral: Temas relevantes – org. Luiz Fux e outros (Juruá,2018).  Autor da obra Guia Simplificado Eleições 2020 (CD.G, 2020). Coautor da obra Dicionário Simplificado de Direito Municipal e Eleitoral (Impetus, 2020).  Palestrante e consultor. Contato: https://linktr.ee/dr.amilton 

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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