O Menino do Bosque: até onde você iria para salvar milhões de vidas?

Os livros de Harlan Coben podem desanimar o leitor que se assusta com a quantidade de páginas, mas o ritmo veloz da escrita desfaz qualquer impressão precipitada. “O Menino do Bosque”, lançado no Brasil pela Editora Arqueiro em 2021, segue a fórmula que consagrou o escritor como um dos principais autores de literatura policial nos últimos tempos, com obras traduzidas em mais de 40 países.

Coben teve a ideia do livro enquanto fazia trilha em uma colina próxima à sua casa, quando avistou um menino perto de uma floresta. Mas o título engana: não se trata de um suspense no meio de uma mata. A trilha que começa com um desaparecimento termina em meio a mistérios que envolvem até o jogo político norte-americano.

Wilde é o protagonista, o menino encontrado vivendo na mata como um selvagem. Na história, porém, ele está adulto e só leva o rótulo do título. Naomi, garota que mora nos arredores da floresta, desaparece. Hester Crimstein, uma famosa advogada criminalista com quem Wilde tem uma conexão, fica sabendo que a jovem era vítima de bullying na escola.

Ela some uma vez e é encontrada por Wilde. Depois, some de novo. E, em seguida, outro adolescente desaparece. Para resolver o mistério dos sumiços, o “menino no bosque” precisa adentrar o universo fechado de adolescentes. O que o leva a um outro mistério: um pedido de resgate que envolve fitas e gravações que podem comprometer um famoso senador que pretende disputar a presidência dos Estados Unidos.

O livro que se encaminha de um jeito na primeira metade torna-se outro na segunda metade. Ao mesmo tempo em que tentam entender o que se passa em torno dos desaparecimentos, Wilde e Hester enfrentam seus dramas pessoais, cada um ao seu modo.

O mais interessante do livro, porém, está nos desdobramentos que envolvem o “figurão” da política. E a ficção se confunde com a própria realidade. O senador em questão fala abertamente sobre o que deseja de plataforma para se eleger. E diz, com sinceridade, a um assessor:

“Agora vai ser fácil destruir a ordem social. O centro ficou complacente. São pessoas inteligentes, porém, preguiçosas. Enxergam os tons de cinza. Entendem o lado oposto. Os extremistas, por outro lado, só enxergam em preto e branco. Não somente têm certeza de que seu ponto de vista é correto como são incapazes de entender o lado oposto. Quem não acredita no mesmo que eles é inferior em todos os sentidos, por isso são capazes de matar por essa visão. Eu atraio estas pessoas”.

Parece exatamente o Brasil polarizado de 2022 das redes sociais.

Quando Wilde soluciona o mistério, ele é confrontado pelo mesmo assessor, que ensina ao menino do bosque o preço a se pagar por escolhas:

“A vida não é vivida em preto e branco. Hoje em dia as pessoas gostam de pensar assim. Toda essa indignação nas redes sociais, como se as coisas fossem ou totalmente boas ou totalmente más… Mas a vida é vivida no cinza. É vivida nas nuances”.

O livro que promete um suspense colorido é tragado ao preto e branco da realidade. Se falha no mistério original, entrega bons debates sobre fazer escolhas decisivas – e nem sempre legais – para se buscar valores maiores. E resta a pergunta do assessor a Wilde, o protagonista:

“Até onde você iria para salvar milhões de vidas?”

A resposta é com o leitor!

Avaliação
Nota: 7/10

Título: O Menino do Bosque (The Boy from the Woods)
Autor: Harlan Coben
Editora: Arqueiro
Páginas: 336
Gênero: Thriller, suspense
Ano de Lançamento: 2021

Foto: Reprodução

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