Com Jô Soares, é possível rir em história de mistério que traz Sherlock Holmes ao Brasil

O Brasil perdeu neste mês um dos artistas mais multifacetados de sua história. José Eugênio, o Jô Soares, recebeu inúmeras homenagens por tantos trabalhos à cultura brasileira, seja no teatro, TV, cinema, artes plásticas ou na literatura. Nesta última área, Jô manteve, na escrita, a elegância que sempre marcou suas obras e sua estreia na ficção se deu na literatura policial com “O Xangô de Baker Street”, lançado pela Companhia das Letras em 1995.

Acredite: é impossível não dar gargalhadas durante a leitura. Jô trouxe o famoso detetive britânico Sherlock Holmes ao Brasil para solucionar um mistério a pedido de Dom Pedro II, imperador que dava as cartas no país nos anos 1880, crepúsculo da monarquia tupiniquim.

Um violino Stradivarius desaparecido, algumas orelhas cortadas e seus respectivos cadáveres são os mistérios que Holmes tem pela frente acompanhado de seu amigo Dr. Watson.

Aliás, Jô eleva o amigo do detetive ao protagonismo nas cenas pitorescas. Sem falar uma palavra em português, as desventuras de Watson no Rio de Janeiro são impagáveis, como sua tentativa de cortar cabelo sem saber se comunicar com o barbeiro.

Jô pôs o detetive em meio a feijoadas, vatapás, mulatas, intelectuais de botequim, pais-de-santo e cannabis sativa. Foi assim que o escritor criou a cena, já histórica, da perseguição de Holmes ao assassino, interrompida porque a apimentada comida brasileira o levou, com urgência, ao sanitário mais próximo.

Além dos mistérios e da comédia, o livro também leva o leitor para o ambiente do Rio de Janeiro em fins do Império. Uma cidade repleta de intelectuais boêmios, que discutem assuntos sérios – e outros não tão sérios assim – de forma despreocupada numa roda de bar. O livro se passa, principalmente, no Centro Velho do Rio de Janeiro, região que até hoje guarda muita história do Brasil Imperial que, no final dos anos 1880, já via a aproximação da República, que chegaria em 1889.

Com escrita refinada, mas leve, a estreia de Jô Soares na ficção é uma leitura agradável e humorada. Ele lançou outros três livros na mesma linha: “O Homem que Matou Getúlio Vargas” (1998), “Assassinatos na Academia Brasileira de Letras” (2005) e “As Esganadas” (2011), todos igualmente divertidos. E Jô faleceu com a ideia de outro livro policial nos planos: uma série de assassinatos ambientados em um prédio de São Paulo. Uma pena que essa ideia tenha se perdido para sempre.

Avaliação
Nota: 8/10

Título: O Xangô de Baker Street
Autora: Jô Soares
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 352
Gênero: Policial, literatura brasileira
Ano de Lançamento: 1995

Foto: Divulgação

Deixe uma resposta

Your email address will not be published.

error: Conteúdo protegido por direitos autorais.