Como sabotam sua produtividade: o manual definitivo

por Fernando Bryan Frizzarin

Uma conversa aleatória me fez lembrar que em 2012 a CIA tinha manual de sabotagem para que espiões reduzissem a produtividade de empresas de nações “inimigas”. Coloco “inimigas” entre aspas porque uma nação amiga que se envolva em um negócio que possa competir seriamente em alguma coisa não é tratada como amiga nesse quesito.

Uma rápida busca na internet e pude relembrar de todos os detalhes da história, já que o repertório eu tenho, mas me falta a memória, que agora compartilho contigo. Preste atenção, pois há muitas conclusões que você tirará ao final deste texto.

Em 2008, anono qual eu já habitava este mundo há muito tempo, a CIA removeu a classificação de sigilo de um documento chamado “Simple Sabotage Field Manual” ou, em tradução livre, “Manual de Campo para Sabotagens Simples”, que foi escrito em 1944, no contexto da Segunda Guerra Mundial pelo Escritório de Serviços Estratégicos (OSS – Office of Strategic Services), desativado em 1945 com o fim da guerra e que dizem ser o precursor da CIA, fundada em 1947.

Em 2012, o jornal Folha de São Paulo publicou uma matéria no caderno de Classificados – Negócios, intitulada “As dicas da CIA para você não sabotar sua produtividade”. Era um ponto de vista positivista, sugerindo que as pessoas devem fazer exatamente o contrário do que versa o tal manual.

Fato é que, 12 anos depois, parece que as pessoas aprenderam mais com o manual de sabotagem do que com a matéria da Folha.

Isso me deixa profundamente estarrecido. Você pode encontrar um fac-símile do manual em https://www.cia.gov/static/5c875f3ec660e092cf893f60b4a288df/SimpleSabotage.pdf

Mas vou resumir para adiantar a expediente e poupar-lhe o inglês. Então você poderá comparar com o que faz, ou com o que as pessoas fazem, cotidianamente. Especialmente em órgãos públicos.

Depois me diga se conhece algum lugar ou alguma pessoa que trabalha exatamente seguindo o manual de sabotagem e não o contrário, como deveria.

Lá pela página 28 e seguindo:

Produção
(a) Organizações e Conferências

  1. Insista em fazer tudo através dos “canais”. Nunca permita atalhos para acelerar decisões.
  2. Faça “discursos”. Fale o máximo possível e por muito tempo. Ilustre seus “pontos” com longas anedotas e relatos de experiências pessoais. Nunca hesite em fazer alguns comentários “patrióticos” apropriados.
  3. Quando possível, encaminhe todos os assuntos para comitês, para “estudo e consideração” adicionais. Tente tornar os comitês o mais grandes possível – nunca menos de cinco.
  4. Traga questões irrelevantes o máximo possível.
  5. Barganhe sobre as formulações precisas de comunicações, atas, resoluções.
  6. Volte a assuntos decididos na última reunião e tente reabrir a questão da conveniência dessa decisão.
  7. Defenda “cautela”. Seja “intransigente” e instigue seus colegas a serem “razoáveis” e evitar pressa que possa resultar em constrangimentos ou dificuldades mais tarde.
  8. Preocupe-se com a adequação de qualquer decisão – questione se a ação planejada está dentro da jurisdição do grupo ou se poderia conflitar com a política de algum escalão superior.

(b) Gerentes e Supervisores

  1. Exijam ordens por escrito.
  2. “Entendam mal” as ordens. Façam perguntas intermináveis ou se envolvam em longas correspondências sobre tais ordens. Discutam sobre elas quando puderem.
  3. Façam tudo o que for possível para atrasar a entrega das ordens. Mesmo que partes de uma ordem estejam prontas antecipadamente, não a entregue até que esteja completamente pronta.
  4. Não peçam novos materiais de trabalho até que seus estoques atuais tenham sido praticamente esgotados, para que o menor atraso no preenchimento do seu pedido signifique uma paralisação.
  5. Peçam materiais de alta qualidade que sejam difíceis de obter. Se não conseguirem, argumentem sobre isso. Advertam que materiais inferiores significarão trabalho inferior.
  6. Ao fazer atribuições de trabalho, sempre atribuam os trabalhos menos importantes primeiro. Certifiquem-se de que os trabalhos importantes sejam atribuídos a trabalhadores ineficientes ou máquinas ruins.
  7. Exijam trabalho perfeito em produtos relativamente não importantes; enviem de volta para refinamento aqueles que têm o menor defeito. Aprovem outras partes defeituosas cujos defeitos não sejam visíveis a olho nu.
  8. Cometam erros no encaminhamento para que peças e materiais sejam enviados para o lugar errado na fábrica.
  9. Ao treinar novos trabalhadores, deem instruções incompletas ou enganosas.
  10. Para diminuir o moral e, com isso, a produção, sejam gentis com os trabalhadores ineficientes; deem-lhes promoções não merecidas. Discriminem contra trabalhadores eficientes; reclamem injustamente sobre o trabalho deles.
  11. Realizem conferências quando houver mais trabalho crítico a ser feito.
  12. Multipliquem o trabalho burocrático de maneiras plausíveis. Iniciem arquivos duplicados.
  13. Multipliquem os procedimentos e autorizações envolvidos na emissão de instruções, cheques de pagamento e assim por diante. Certifiquem-se de que três pessoas tenham que aprovar tudo, onde uma seria suficiente.
  14. Apliquem todos os regulamentos à risca.

(c) Funcionários de Escritório

  1. Cometam erros nas quantidades de material ao copiar pedidos. Confundam nomes semelhantes. Usem endereços errados.
  2. Prolonguem a correspondência com órgãos governamentais.
  3. Arquivem documentos essenciais erroneamente.
  4. Ao fazer cópias carbono, façam uma a menos, para que um trabalho extra de cópia tenha que ser feito.
  5. Digam a chamadas importantes que o chefe está ocupado ou falando em outro telefone.
  6. Segurem o correio até a próxima coleta.
  7. Espalhem rumores perturbadores que pareçam informações privilegiadas.

(d) Funcionários

  1. Trabalhem lentamente. Pensem em maneiras de aumentar o número de movimentos necessários em seu trabalho: usem um martelo leve em vez de um pesado, tentem fazer uma chave pequena funcionar quando uma grande for necessária, usem pouco esforço quando for necessário um esforço considerável, e assim por diante.
  2. Inventem o máximo de interrupções possível em seu trabalho: ao trocar o material no qual estão trabalhando, como fariam em um torno ou perfuradora, levem tempo desnecessário para fazê-lo. Se estiverem cortando, moldando ou fazendo outro trabalho medido, meçam as dimensões duas vezes mais vezes do que o necessário. Quando forem ao banheiro, passem mais tempo lá do que é necessário. Esqueçam ferramentas para que tenham que voltar depois.
  3. Mesmo que entendam o idioma, finjam não entender as instruções em uma língua estrangeira.
  4. Finjam que as instruções são difíceis de entender e peçam para que sejam repetidas mais de uma vez. Ou finjam que estão ansiosos para fazer seu trabalho e incomodem o encarregado com perguntas desnecessárias.
  5. Façam um trabalho ruim e culpem ferramentas, máquinas ou equipamentos ruins. Reclamem que essas coisas estão impedindo que façam seu trabalho corretamente.
  6. Nunca transmitam sua habilidade e experiência para um novo ou menos habilidoso trabalhador.
  7. Complicem a administração de todas as maneiras possíveis. Preencham formulários ilegivelmente para que tenham que ser refeitos; cometam erros ou omitam informações solicitadas nos formulários.
  8. Se possível, juntem-se ou ajudem a organizar um grupo para apresentar problemas dos funcionários à gerência. Certifiquem-se de que os procedimentos adotados sejam o mais inconvenientes possível para a gerência, envolvendo a presença de um grande número de funcionários em cada apresentação, exigindo mais de uma reunião para cada queixa, trazendo problemas que são em grande parte imaginários, e assim por diante.
  9. Desviem materiais.
  10. Misturem peças boas com sucata inutilizável e peças rejeitadas.

(e) Dispositivos Gerais para Reduzir o Moral e Criar Confusão

  1. Deem explicações longas e incompreensíveis quando questionados.
  2. Relatem espiões ou perigos imaginários à polícia.
  3. Finjam ser estúpidos.
  4. Sejam o mais irritáveis e briguentos possível sem se meterem em encrenca.
  5. Comentem todos os assuntos possíveis, como racionamento, transporte, regulamentos de tráfego.
  6. Reclamem contra materiais substitutos.
  7. Tratem friamente os nacionais do eixo ou os colaboracionistas em público.
  8. Parem toda conversa quando nacionais do eixo ou colaboracionistas entrarem em um café.
  9. Chorem e soluçem histericamente em todas as ocasiões, especialmente quando confrontados por funcionários do governo.
  10. Boicotem todos os filmes, entretenimentos, concertos, jornais que estejam de alguma forma ligados às autoridades colaboracionistas.
  11. Não cooperem com planos de salvamento.

Fernando Bryan Frizzarin é professor, escritor, inventor, é Gerente do Suporte Técnico da BluePex Cybersecurity S/A, Diretor Técnico e Operacional na Fábrica de Inovação de Limeira e professor do ensino superior nas FATECs Araras e Americana, SP. Formado em Ciência da Computação, Especialista em Redes, Psicopedagogo e MBA em Gestão Estratégica da Tecnologia da Informação. Autor, coautor ou participante de vários livros na área de computação e literatura. Depositário de patente, marca e de diversos registros de programas de computador como autor ou coautor em cooperação com colegas de trabalho ou alunos. Membro imortal da Academia Mundial de Letras da Humanidade sucursal Limeira, SP. Foi laureado com o Diploma Pérola Byington da Câmara Municipal de Santa Bárbara d’Oeste e Professor Universitário Inovador da Câmara Municipal de Limeira.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

Deixe uma resposta

Your email address will not be published.

error: Conteúdo protegido por direitos autorais.