Apocalipse do conhecimento escrito

Por Fernando Bryan Frizzarin

Sim, quando a humanidade acabar, não restará nada. Não haverá pergaminhos, mas o mar morrerá. Para uma civilização que nos encontre em um futuro distante, será um mistério, assim como são os incas para nós, pois não haverá o que ler para explicar como fomos geniais e estúpidos, tudo na mesma sentença.

A culpa será dos livros digitais. Não só por não haver mais livros nas estantes que possam restar como objetos de arqueologia, mas também como um fim trágico e triste para quaisquer obras existentes cuja decisão de existir está nas mãos de poucas pessoas.

Se Elon Musk já mandou tirar do ar a internet de parte do mundo porque ele, e somente ele, estava com medo do uso de armas atômicas, Bezos pode resolver que você não deve mais ler algum livro, simplesmente porque ele acha que não deveria haver tal obra no Kindle. Ele poderá mandar retirá-lo do acervo, ninguém mais acessará e será o fim, a morte definitiva de uma obra. Ninguém mais a lerá, quem a leu não poderá reler e… fim.

Você deve estar argumentando que isso é improvável, senão impossível, já que você pagou por aquele livro digital. Só que não é assim, atente-se:

Quando você “compra” o livro digital, na verdade está adquirindo a licença de uso e não o direito material de posse sobre o livro. Sim, isso mesmo, o livro nunca é seu, você está pagando para poder lê-lo.

A verdade é que somente quando você tem seu livro na estante de casa ou do trabalho, ninguém tem o poder de pedi-lo de volta ou impedi-lo de ler e reler a qualquer momento.

Saiba que, em 2009, a Amazon, sem qualquer aviso prévio ou comunicado, apagou de todos os Kindles o livro “1984” de George e junto com o livro destruiu as anotações e grifos que os usuários tinham feito nele. Além de impedir a leitura arbitrariamente, muito trabalho acadêmico foi destruído.

Esse episódio foi pouco noticiado, mas bem documentado no livro “O Infinito em Um Junto” de Irene Vallejo.

Não é à toa que governos totalitários elegem os livros como inimigos com facilidade e os colocam para queimar. Anote que a Santa Inquisição, que além de pessoas, queimou livros também. E adicione o nazismo, o fascismo e tantos outros, a lista é grande o suficiente para preencher apenas ela neste espaço, em vez de qualquer outro texto.

Acrescente a isso a possibilidade de alterarem o conteúdo de um livro que julgarem ofensivo ou inadequado por qualquer motivo, de forma online e em tempo real. Hoje você pode ler uma página com um conteúdo e, amanhã, ela pode ter outro, completamente diferente. Pense no risco de isso acontecer, em especial, nos livros didáticos!

Ler é libertador, ainda mais em livros físicos, que te libertam do conjunto tela, tomada e bateria, e garantem que, além de novos pensamentos e conhecimentos, você também possa ser livre para que o livro seja um bem seu, que você pode emprestar para amigos e amigas que goste, pode vender um que já sabe de cor para que, depois, possa comprar outro e deliciar-se com ele. Pode também esquecê-lo ou perdê-lo, para a sorte de quem o encontrar, que, se conseguir devolvê-lo, ganhará um amigo, ou, se não devolver, ganhará uma ótima leitura.

Fernando Bryan Frizzarin é professor, escritor, inventor, é Gerente do Suporte Técnico da BluePex Cybersecurity S/A, Diretor Técnico e Operacional na Fábrica de Inovação de Limeira e professor do ensino superior nas FATECs Araras e Americana, SP. Formado em Ciência da Computação, Especialista em Redes, Psicopedagogo e MBA em Gestão Estratégica da Tecnologia da Informação. Autor, coautor ou participante de vários livros na área de computação e literatura. Depositário de patente, marca e de diversos registros de programas de computador como autor ou coautor em cooperação com colegas de trabalho ou alunos. Membro imortal da Academia Mundial de Letras da Humanidade sucursal Limeira, SP. Foi laureado com o Diploma Pérola Byington da Câmara Municipal de Santa Bárbara d’Oeste e Professor Universitário Inovador da Câmara Municipal de Limeira.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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