Alguém anotou a placa do tanque de fumaça?

por Marcos Paulino

Algumas coisas mudam, mas não deveriam. Veja por exemplo as placas dos veículos. No padrão Mercosul, sumiram os nomes das cidades em carros, caminhões e motos brasileiros. Tchau, diversão. Curralinho, Ponta Grossa e outros tantos municípios proporcionaram durante décadas piadas de duplo sentido de péssimo gosto, e por isso tão divertidas. Até Dois Córregos já foi motivo de chacota numa viagem. “Só podia ser de Não-Sei-Onde!”, a gente comentava quando via um motorista cometendo uma barbeiragem.

Como acredito que ainda não exista o bullying automotivo, admito que sempre me esbaldei com essas bobagens, que, doravante, terão vida curta. E as cidades nas placas dos automóveis ainda rendiam boas histórias. Conta-se que o cantor Agnaldo Timóteo ia todo ano à mineira Timóteo para licenciar seus carros, só para ter o próprio sobrenome neles. Tenho um amigo que, décadas atrás, achava tão chique ter Rio de Janeiro estampado em sua placa, que se recusava a transferir o documento do veículo para sua cidade.

Por outro lado, há mudanças que foram para melhor, mas que estão ameaçadas de regressão. Cito o voto eletrônico, por ora garantido, mas vai saber… As eleições brasileiras se tornaram exemplo de agilidade e eficiência para o mundo todo depois da implantação das urnas eletrônicas. Mas há quem ainda pense que contar papeizinhos é mais seguro que lançar mão da avançada tecnologia existente no mercado. Testes e mais testes comprovaram a idoneidade do atual sistema, mas a turma que ainda sonha com fitas cassete não se conforma.

Enfim, há quem ache que a tão cafona ditadura é o melhor sistema de governo. Paciência. Deve ser preguiça de ter que optar por isso ou aquilo. Mais fácil que alguém determine o que se pode ler, ouvir, assistir ou escrever. Ter opinião própria – e defendê-la – dá um trabalho danado. Melhor deixar que um militar ou um político (ou um militar-político) nos diga como agir. Nesse caso, nem precisa do voto, impresso ou eletrônico. Basta o arsenal das Forças Armadas, que aliás tem sido exibido pelas ruas de Brasília como um fumacento atestado de covardia.

Ah, e tem quem acredite que vacina não funciona. Na época de Oswaldo Cruz, também havia gente assim. A diferença é que o famoso médico sanitarista promoveu sua cruzada contra as epidemias que assolavam o Brasil no início do século 20. Ou seja, mais de 100 anos atrás ele já tentava convencer a plebe rude de que a ciência salva vidas. Hoje a ciência tenta convencer que, não sei se você viu, tem uma gripezinha por aí que mata gente adoidado, mas que com imunização aumenta bastante a chance de sobrevivência.

Diante de tudo isso, resta-me apenas fazer alguns apelos. Vacinem-se. Acreditem na democracia. Deixem o passado nos museus e recorram a ele só quando servir de lição. Repudiem quem tenta nos intimidar com tanques de guerra, ou fumaça. Creiam que a Terra é redonda, ou quase. E coloquem adesivos nos carros informando suas cidades. Ninguém pode nos tirar isso!

Marcos Paulino é graduado em jornalismo e administração de empresas e sócio-proprietário da Presscom Comunicação.

Os artigos assinados representam a opinião do(a) autor(a) e não o pensamento do DJ, que pode deles discordar

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