Viva Aldir Blanc

Por João Geraldo Lopes Gonçalves

“O Brazil não conhece o Brasil
O Brasil nunca foi ao Brazil” (Aldir Blanc e Mauricio Tapajós
)

Em março de 2020, os casos de Covid-19 chegam ao Brasil e se inicia uma das maiores crises sanitárias que o mundo já pode ver, em especial o Brasil. Naquela oportunidade ainda era precoce para muitos o que poderia acontecer. As informações ainda eram poucas e insuficientes, principalmente por conta do governo de Jair, que desde o princípio negou a doença, bem como diminuindo sua gravidade.

Mas já se sabia que a vida, o nosso “normal”, seria alterado radicalmente, que o comum, o rotineiro, ficaria congelado por um bom tempo. Mesmo com o negativismo, a sociedade brasileira responde bem as orientações da ciência e das autoridades responsáveis e sérias, sobretudo em Estados e Municípios.

O isolamento social, o “fique em casa”, “não aglomere”, foram fundamentais para salvar vidas, antes das vacinas de imunização, mas trouxeram um problema grave: a sustentação econômica da maioria da população.

Na Europa e no Estados Unidos, boa parte dos governos subsidiaram empresas e trabalhadores em períodos de quarentena, com seguros e salários. Mas, no Brasil do ex-capitão, o governo preferiu tratar o vírus como gripezinha, fazer bravatas machistas e violentas, e deixou sem proteção milhões de brasileiros.

As consequências foram o aumento absurdo da contaminação, das mortes e da fome, esta última longe do mapa mundial desde 2002. Na época, vários setores da economia entraram em pânico. Muita gente dependendo de suas atividades para sobreviver, sustentar suas famílias. Como fazê-lo no isolamento? Como fazê-lo sem remuneração?

Este era o dilema das artes no Brasil, em especial de músicos e atores.

Naquele momento, este escriba dialogava com vários artistas sobre a realidade que eles estavam enfrentando. Teatros, casas de show e projetos cancelados, fechados e congelados. A vida apresentava um futuro triste e de caos. Uma fala em especial nos chamou a atenção. O músico da banda “O Bando D’água”, Marco Zanini, em um papo profundo, me disse: “Janjão, é preciso se reinventar”.

Foi a palavra mágica, o comportamento que se espera de um artista, a criatividade, o olhar pra frente, o revolucionar.

E aí começam imensas lives utilizando os recursos digitais nas redes sociais, com a intenção de se manter vivo e também discutir a sobrevivência da cultura, em especial da alternativa e independente. Mas isto ainda era insuficiente. Era preciso que as autoridades públicas se movimentassem em busca de alternativas de sustentação dos trabalhadores.

Em maio de 2020, o Brasil chorou a morte de um de seus filhos amados. Aldir Blanc foi uma das primeiras vítimas da Covid-19. O eterno compositor parceiro de João Bosco e outros nunca seria esquecido, ainda mais quando se imortaliza sua luta por um Brasil melhor em uma lei de garantias e de proteção à cultura.

Bolsonaro e sua turma, com seu discurso inútil e perigoso, nada fez para construir alternativas de sustentabilidade das pessoas. Mesmo o auxílio emergencial foi conquista da sociedade civil e do Congresso Nacional, e não iniciativa da União.

Em junho de 2020, foi sancionada a Lei Aldir Blanc emergencial e de sustento a cultura. A partir de iniciativa da deputada federal Benedita da Silva, a reinvenção está fortalecida. A partir da legislação, o fortalecimento da alternativa, fazer arte através do digital e nas redes, se torna o normal, o comum.

No início, o processo foi um pouco lento de distribuição dos recursos para viabilizar projetos, milhares deles espalhados pelo Brasil. Lento até porque Estados e Municípios tinham que entender como se desenvolveria o auxílio, bem como a Secretaria Nacional de Cultura, com suas trapalhadas e maldades, deixasse de atrasar os processos.

Tínhamos conhecimento de artistas e trabalhadores em cultura, literalmente, passando fome. As vaquinhas e cestas básicas não estavam sendo suficientes para manter as pessoas em pé. Assim que a burocracia e a má vontade bolsonarista foram derrotadas, a lei se efetivou e centenas de espetáculos digitais estão à disposição nas redes sociais.

Em Limeira, a Secretaria Municipal de Cultura cumpriu um papel fantástico, ao buscar agilizar e garantir que todos fossem contemplados. Vídeos, Lives, Discos, Podcast e outras formas foram e estão sendo divulgadas e compartilhadas. Na página da Prefeitura de Limeira, vocês podem encontrar vários projetos bacanas e importantes, custeados pela Lei Aldir Blanc.

O sonho do carioca, poeta, cronista e um dos melhores letristas de nossa música é que o Brasil, com S, tivesse vez, voz, canto, prosa e verso. Ainda não vencemos a pandemia e nem um governo genocida, mas nossas lutas e nossa pretensão de se reinventar é que nos faz estar vivos e em busca de dias melhores.

Penso que a Aldir Blanc deve se tornar permanente no pós-Covid-19.

Mas esta é uma outra luta.

PS: Meu primeiro texto no DJ foi exatamente sobre a Lei Aldir Blanc, em seu inicio ainda. Clique aqui para ler.

João Geraldo Lopes Gonçalves, o Janjão, é escritor e consultor político e cultural

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