“Trem-Bala” lança luz sobre a violência e o comportamento humano em alta velocidade

Cinco pessoas entram no mesmo trem-bala, no Japão, com objetivos diferentes, mas histórias em comuns. Ao longo do trajeto, os destinos se cruzam em complexas relações de manipulações que revelam perigos, vinganças, violência e reflexões cruas. “É assim que funciona a maioria das leis. Elas não passam de símbolos inventados para fazer com que as pessoas se sintam melhor”, como diz um personagem.

“Trem-Bala”, do escritor Kotaro Isaka, foi lançado em 2010 e se tornou um best-seller no Japão. A obra só foi lançada no Brasil em maio de 2022 pela Editora Intrínseca e a trama será adaptada para os cinemas em breve.

Os cinco personagens têm características distintas. O jovem Satoshi, de 14 anos, esconde personalidade cruel e manipuladora. Após empurrar o filho de Kimura do telhado e deixá-lo em coma, o adolescente embarca no trem-bala de Tóquio a Morioka. O pai, que sofre com alcoolismo e também tem o passado marcado pela violência, busca vingança e entra no mesmo trem para acertar as contas. Acaba preso às insinuações do jovem.

Em outro vagão, três matadores profissionais cumprem suas missões. Tangerina e Limão foram recrutados para resgatar o filho sequestrado de um chefão do crime. Após conseguirem salvá-lo, entram no trem-bala para devolver a criança, mas as coisas fogem do controle. A mala com o dinheiro que levavam sumiu e, para piorar, a criança morre sob os cuidados da dupla. Quem pegou a mala foi Nanao. Ele é o responsável pelo humor da trama. Azarado demais, sua missão fracassa e a encrenca aumenta.

No fim, todos estão na mesma história e, para conhecerem as intenções uns dos outros, vão exibindo seus poderes de manipulação. Ou, como diz o jovem Satoshi, “as pessoas são controladas por uma força poderosa que elas nem sabem que existe. Elas caem nas armadilhas da racionalização e ficam tentando se justificar, enquanto, naturalmente, acabam agindo de acordo com o que as outras pessoas estão fazendo”.

A leitura de “Trem-Bala” faz jus ao meio de transporte: segue em alta velocidade, com diálogos incisivos e muitas reflexões sobre controle de ações e comportamentos, violência e até mesmo o exercício do poder. Em outro trecho, o jovem audacioso, que insiste em sua jornada até a estação final, reflete sobre o comportamento dos próprios governantes, que muitas vezes escondem suas verdadeiras intenções:

“É como se estivessem levando um grande número de passageiros para dar um passeio num trem, mas não dissessem para onde o trem está indo, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo. Os passageiros poderiam desembarcar em qualquer estação pelo caminho, mas nunca lhe permitem que eles percebam isso. O condutor simplesmente vai passando por todas as estações sem parar, calma e tranquilamente. Quando as pessoas começam a se arrepender de não terem descido antes, já é tarde demais. Seja numa guerra, num genocídio, ou quando são feitas mudanças em alguma lei, na maioria dos casos as pessoas não percebem nada até que a coisa já esteja acontecendo, ficando apenas com a sensação de que poderiam ter protestado antes, se ao menos soubessem”.

Qualquer semelhança com a realidade (não) é mera coincidência. “Trem-Bala”, como promete a editora, é leitura intensa. E como em qualquer viagem, a jornada é até mais interessante do que a chegada.

Avaliação
Nota: 8/10

Título: Trem-Bala
Autora: Kotaro Isaka
Editora: Intrínseca
Páginas: 464
Gênero: Policial, Suspense e Mistério
Ano de Lançamento: 2022

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